Bolsonaro e Lula deixam pouco espaço para candidatos da ‘terceira via’ do Brasil

Por um momento fugaz, Sergio Moro parecia pronto para abrir a eleição presidencial do Brasil. Mas faltando mais de seis meses para as eleições, a campanha do juiz anticorrupção está fracassando.

Atingido por anêmico apoio público, alianças políticas fraturadas e uma percepção de falta de dinheiro, a incapacidade de Moro de ganhar força é o mais recente sinal de quanto os candidatos da “terceira via” não conseguiram quebrar o domínio dominante do atual presidente. Bolsonaro e seu principal rival, o líder de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido como Lula.

Lula, que foi presidente por dois mandatos entre 2003 e 2010, mantém a primeira posição, com mais de 40% de apoio dos eleitores. O apoio a Bolsonaro também começou a aumentar, com pesquisas recentes sugerindo que o ex-capitão do Exército tem cerca de 30% de apoio do eleitorado.

Enquanto isso, Moro e um punhado de outros candidatos centristas estão presos em um dígito.

Parlamentares e analistas políticos dizem que os esforços para quebrar a dicotomia esquerda-direita antes das eleições de outubro foram prejudicados pela divisão de candidatos centristas, bem como pela falta de uma mensagem forte que se conecte com os eleitores.

Além disso, dizem que os candidatos da terceira via não têm força para competir com Lula, que atua na política brasileira há 30 anos, bem como com Bolsonaro, que como presidente tem vastos recursos eleitorais à sua disposição.

Sérgio Moro em evento
Sergio Moro, ex-juiz e ministro da Justiça, não conseguiu ganhar muita força em sua campanha © Eduardo Matysiak/AFP/Getty Images

“Lula e Bolsonaro são personagens muito fortes. Eles são poderosos em sua comunicação e mobilização. Não dão espaço para nenhum terceiro nome”, disse Esther Solano, cientista política da Universidade Federal de São Paulo.

Por sua vez, cada um dos candidatos da terceira via, que inclui o deputado de esquerda Ciro Gomes e o governador de São Paulo João Doria, afirma que só eles têm credenciais para vencer os dois favoritos.

“Acreditamos que com o retorno [political ads] no rádio e na TV em abril, [Gomes] ele poderá se apresentar cada vez mais e nós poderemos apresentar uma candidatura alternativa”, disse André Figueiredo, líder do Partido Democrático Trabalhista de Gomes na Câmara dos Deputados. “Talvez a falta de conhecimento sobre a viabilidade de um caminho alternativo seja o maior obstáculo.”

No entanto, os candidatos enfrentam críticas pela falta de uma estratégia unificada (um grande campo dividiria o voto centrista), bem como pela ausência de uma bandeira política convincente para angariar eleitores.

“A maior dificuldade deles é justamente a falta de mensagem”, disse Bira do Pindaré, líder do Partido Socialista Brasileiro na Câmara dos Deputados.

Lucas de Aragão, sócio da consultoria Arko Advice, citou o exemplo de Moro, que como ex-chefe da Lava Jato construiu sua campanha em torno de uma mensagem anticorrupção: “Embora a corrupção seja importante, está longe de ser a questão chave na campanha, que é a economia. E Moro não encontrou uma maneira de repercutir com o eleitorado nessa questão.”

Desde o lançamento de sua campanha em novembro, o índice de aprovação de Moro caiu gradualmente de 14% para 6% neste mês. Analistas atribuem a queda à falta de uma rede partidária forte e de um maquinário eleitoral para mantê-lo à vista do público brasileiro.

A mídia local também informou que sua campanha está assolada por problemas financeiros. Seu partido Podemos é um dos menores grupos políticos do Brasil e só tem direito a cerca de US$ 30 milhões do fundo eleitoral do país, valor que deve ser dividido entre a campanha presidencial e as eleições para o Congresso. Em comparação, o Unión Brasil, o maior partido do país, receberá cerca de US$ 200 milhões.

“Ele não tem a máquina pública e a atenção da mídia ou a agenda de formulação de políticas [of Bolsonaro]. Tampouco tem a influência histórica de Lula”, disse Aragão.

O economista Filipe Campante, professor da Universidade Johns Hopkins, disse que “é realmente sobre o papel descomunal que Lula desempenhou na política brasileira e a capacidade instintiva e subestimada de Bolsonaro de fomentar a polarização”.

“Lula preenche todo o espaço do centro para a esquerda, e Bolsonaro consegue preencher bastante espaço vindo da extrema direita para que os candidatos que gostariam de ocupar a centro-direita não chamem a atenção.”

Bolsonaro tem o benefício da incumbência e pode gastar recursos do governo para conquistar eleitores, acrescentou. No final do ano passado, Bolsonaro lançou um novo programa de assistência social que dá R$ 400 (US$ 80) aos mais pobres do Brasil todos os meses, ajuda que aumentou seu índice de aprovação, dizem analistas.

O presidente agora apóia uma emenda constitucional para subsidiar os preços dos combustíveis, uma medida destinada a reforçar o apoio entre os caminhoneiros, que continuam sendo um segmento influente de sua base de apoio.

Tanto Lula quanto Bolsonaro são figuras controversas, e o primeiro está associado aos olhos de muitos brasileiros com a profunda corrupção descoberta na última década durante o longo lavajatoou lavagem de carros, investigação de enxertos.

Mas Sâmia Bomfim, líder do grupo de extrema-esquerda PSOL na Câmara dos Deputados, disse que o mandato de Bolsonaro como presidente desde 2019 tem sido tão tumultuado que os eleitores simplesmente querem garantir uma saída em outubro.

O presidente “conseguiu gerar tal desgaste que grandes setores da população vão acabar dando voto a Lula, mesmo que não estejam completamente satisfeitos com ele”, disse.

Apesar das grandes esperanças que tinham quando entraram na disputa, o desafio agora enfrentado pelos candidatos da terceira via “é encontrar as variáveis ​​necessárias para fazer uma campanha forte: uma mensagem que conecte; um forte sistema de apoio a nível nacional; e [a contender to challenge] os dois fortes candidatos. disse de Aragão.

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