Banco Central do Brasil vê melhora na inflação e alimenta as apostas de cortes nos juros

(Bloomberg) — O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, disse que há sinais positivos de que a inflação vem dos preços mais baixos de eletricidade e commodities, alimentando ainda mais a liquidação do real, já que os operadores apostam que os cortes nas taxas de juros podem ocorrer mais cedo do que o esperado .

As leituras de núcleos cruciais da inflação, que excluem itens voláteis como alimentos e energia, tiveram uma “ligeira melhora” nos dados divulgados hoje, disse Campos Neto na quinta-feira durante entrevista à emissora de televisão local GloboNews.

“Os dados, de fato, foram melhores”, disse Campos Neto, referindo-se ao relatório de inflação de meados de maio. “Mais uma vez, temos dito que a inflação vem melhorando em ritmo lento. A desaceleração da inflação foi um pouco mais lenta do que esperávamos, mas vemos vários sinais positivos daqui para frente.”

Os contratos futuros de taxas de juros atingiram as mínimas da sessão no início dos comentários de Campos Neto, enquanto os traders avaliavam as chances de os políticos estarem perto de iniciar uma campanha de flexibilização. O real somou-se às perdas, desvalorizando-se 1,6% para 5,04 por dólar.

“Ele está reforçando as apostas para cortes de juros em agosto”, disse Antonio Madeira, economista da MCM Consultores. A maioria dos analistas vê o ciclo de flexibilização começando com um corte de um quarto de ponto em setembro, de acordo com uma pesquisa semanal do banco central divulgada na segunda-feira.

O Congresso está enviando a mensagem certa e a aprovação de novas regras fiscais pode influenciar as expectativas de inflação, disse Campos Neto. Mesmo assim, reiterou que não há relação mecânica entre política monetária e fiscal.

O banco central liderado por Campos Neto está mantendo a taxa básica de juros do Brasil estável em 13,75%, mesmo com o alívio das pressões inflacionárias gerais. Os membros do conselho permaneceram cautelosos ao ver que as medidas básicas ainda estão funcionando e estão tentando conter as expectativas de que os aumentos dos preços ao consumidor se acelerem novamente ainda este ano, desde que permaneçam acima das metas. Objetivos do Banco até 2025.

aperto de crédito

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou publicamente a política monetária desde que assumiu o cargo em janeiro, chamando-a de “absurda” e argumentando que ela falhou em abordar as causas profundas da inflação e, em vez disso, aumentou o desemprego.

A política monetária demora mais para surtir efeito na economia do que a política fiscal, disse Campos Neto na entrevista. Ele acrescentou que mantém boas relações com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e conversa regularmente com o vice-ministro da Fazenda, Gabriel Galipolo, agora indicado para uma cadeira no conselho do Banco Central.

A inflação ao consumidor desacelerou para 4,07% em meados de maio, abaixo do pico de 2022 de mais de 12%. A leitura ficou dentro da faixa de tolerância da autoridade monetária, o que pode reforçar a pressão de Lula por taxas mais baixas.

“Entendo que haja ansiedade em torno de altas taxas de juros”, disse Campos Neto, acrescentando que Lula “tem o direito” de debater publicamente a política monetária. “Nossa missão é trazer a inflação de volta para a meta de 3%, com custos mínimos para a economia.”

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Haddad e o ministro do Planejamento, Simone Tebet, devem se encontrar com Campos Neto no próximo mês para definir a meta de inflação de 2026. Na quinta-feira, o presidente do BC reiterou seus argumentos contra a mudança das metas atuais, dizendo que isso não levaria a uma maior flexibilidade monetária. autoridade.

Os juros altos são o principal obstáculo às promessas de prosperidade econômica de Lula. O maior país da América Latina está passando por uma crise de crédito que foi agravada pelo colapso da gigante do varejo Americanas SA.

As empresas enfrentam maiores desafios no acesso a empréstimos corporativos, enquanto a dívida das famílias permanece em níveis recordes. A maioria dos analistas vê uma expansão do produto interno bruto de cerca de 1% este ano.

Leia mais: Ganhos reais do Brasil à medida que a Câmara dos Deputados aprova regras fiscais mais rígidas

O Congresso está avançando com um projeto de lei para fortalecer as finanças públicas do Brasil, um plano que Lula espera que leve a cortes de juros. A Câmara dos Deputados aprovou esta semana uma versão mais rígida da lei que aborda algumas preocupações dos investidores sobre gastos excessivos.

–Com a ajuda de Beatriz Reis e Felipe Saturnino.

(Atualizações com comentários de economistas e detalhes da entrevista)

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