por Anthony Bodle
BRASÍLIA (Reuters) – Os militares do Brasil devem expulsar garimpeiros ilegais que causam desnutrição e fome em uma região da reserva Yanomami perto da fronteira com a Venezuela, disse o secretário de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, nesta terça-feira, pedindo uma
“Parece um campo de concentração”, disse Tapeba, um médico nomeado para o cargo pelo novo governo do Brasil, em uma entrevista de rádio.
Tapeba disse que 700 membros da comunidade estão morrendo de fome e os cuidados médicos são inexistentes devido à presença de garimpeiros bem armados que expulsaram os trabalhadores médicos do posto de saúde e impediram as pessoas de trazer suprimentos de remédios e alimentos.
O Ministério da Saúde do Brasil declarou emergência médica na sexta-feira no território Yanomami, a maior reserva indígena do país, após relatos de crianças morrendo de desnutrição e outras doenças causadas pela mineração de ouro.
No sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou o estado após a divulgação de fotos que mostravam crianças e idosos Yanomami tão magros que apareciam as costelas.
“É uma calamidade extrema, muitos Yanomami estão desnutridos e há uma ausência total do Estado brasileiro”, disse Tapeba.
Uma invasão de mais de 20.000 garimpeiros selvagens poluiu os rios com mercúrio que envenenou os peixes que os Yanomami comem, disse ele, citando crianças cujo cabelo cai devido ao mercúrio usado para separar o ouro.
“As equipes de saúde não podem chegar aqui por causa dos bandidos fortemente armados. Isso só pode ser resolvido removendo os garimpeiros e isso só pode ser feito pelas forças armadas”, disse ele.
O Supremo Tribunal Federal ordenou a expulsão dos garimpeiros. Mas o governo anterior do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro nunca entregou. Líderes Yanomami disseram que seus pedidos de ajuda foram ignorados.
Em quatro anos da presidência de Bolsonaro, 570 crianças Yanomami morreram de doenças curáveis, principalmente desnutrição, mas também malária, diarreia e malformações causadas por mercúrio nos rios, informou a plataforma jornalística amazônica Sumauma, citando dados obtidos por uma FOIA.
A reserva foi invadida por garimpeiros ilegais por décadas, mas os ataques se multiplicaram desde que Bolsonaro assumiu o cargo em 2018, prometendo permitir a mineração em terras indígenas anteriormente protegidas e se oferecendo para legalizar a mineração selvagem.
O ministro da Justiça, Flavio Dino, disse na segunda-feira que há “provas de genocídio” que estão sendo investigadas.
Em dezembro, a Survival International alertou sobre a dimensão da crise, citando um estudo do UNICEF e do centro de pesquisas biomédicas FioCruz do Brasil que constatou que 8 em cada 10 Yanomami sofriam de desnutrição crônica e que as mortes por doenças evitáveis entre crianças menores de cinco anos eram 13 vezes maior que os nacionais. média.
“Os Yanomami raramente sofrem de desnutrição em circunstâncias normais. Suas florestas são abundantes e eles são especialistas em cultivar, coletar e caçar tudo o que precisam, e estão com excelente saúde”, disse a diretora da Survival International, Fiona Watson, em comunicado.
“Esta é uma crise deliberada, provocada pelo homem, alimentada pelo presidente Bolsonaro, que incentivou a invasão massiva e a destruição das terras Yanomami”, disse ele.
(Reportagem de Anthony Boadle; Edição de Aurora Ellis)