Os entregadores que protestaram contra os pedidos de entrega em 14 de julho receberam multas de trânsito de até R $ 6 mil (por obstrução rodoviária). As ofensas foram registradas no demonstração organizada pelo SindimotoSP (Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas Intermunicipais do Estado de São Paulo), que saiu da sede da entidade, na zona sul de São Paulo, passou pela Câmara Municipal e foi parar no Tribunal Regional do Trabalho.
Os libertadores acusam os policiais militares que fiscalizam o local do protesto de multas para intimidar, enquanto a Polícia Militar afirma ter infringido as regras. Por outro lado, os especialistas ouvidos por Inclinação eles veem violações do direito de reunião e manifestação.
Pelo menos quatro multas já chamaram a atenção da entidade, é possível que outras apareçam, pois a pandemia aumentou o tempo de notificação.
Uma das multas por “usar o veículo para interromper deliberadamente o trânsito na estrada sem autorização da agência” é o entregador José Paulo Ramos, que trabalha para o aplicativo iFood. Ele descobriu a multa, de R $ 5.869, por ter pedido de carteira de habilitação digital, ainda não recebeu a carta de notificação.
Ganhando em torno de R $ 1.000 por 30 horas semanais de trabalho, ele não sabe como vai pagar o valor, até porque a multa prevê a suspensão imediata da carteira de habilitação, o que o impediria de exercer sua atividade. “É uma quantia absurda, R $ 6 mil, mais cara que uma moto, e eu não fiz nada disso [obstruir a via]”, ele diz.
A multa foi registrada às 10h50, no número 2.820 da Avenida dos Bandeirantes, zona sul de São Paulo, que fica exatamente na esquina da rua onde fica o SindimotoSP. Ramos afirma que acaba de entrar na rua do sindicato e estacionar.
A mesma infração, com exatamente o mesmo valor, local e hora, foi atribuída ao entregador Claudemir Gonçalves, que também a descobriu através do aplicativo digital da CNH.
“Quando chegamos ao sindicato, já tinha um pessoal reunido. A polícia tentou impedir a gente de entrar, mas o advogado do sindicato mandou liberar, porque havia espaço para parar na estrada. Então deixamos a bicicleta lá. Não paramos na Avenida dos Bandeirantes Fomos na rua do sindicato ”, garante.
Um terceiro entregador foi condenado no mesmo dia por “uso da buzina por muito tempo e sucessivamente por qualquer motivo” na Avenida 9 de Julho, no valor de R $ 88.
Procurado, o Ministério da Segurança Pública (SSP) informou que 76 notificações foram emitidas nas três paradas de motoboys em julho, cerca de 5% dos 1.500 motociclistas presentes nos eventos, segundo a polícia. Das multas, 65% corresponderam ao motociclista “por segurar ou manipular celular na direção do veículo” e dois deles por obstrução de via.
O processo alega que os dois motociclistas autuados neste caso participaram do ato e “deliberadamente, sem autorização, bloquearam o trânsito de veículos na Avenida dos Bandeirantes, em frente ao número 2.820”.
“Avisamos sobre o movimento, avisamos o SSP e o comando da Polícia Militar. Não faz sentido falar em obstrução, porque a polícia e a CET estavam lá e podiam organizar o trânsito ou usar a força, se quisessem, para desbloquear”, Ele diz. Inclinação Gilberto Almeida, presidente do SindimotoSP.
A carta enviada pelo sindicato às autoridades adverte que o ato teria início às 9 da manhã na rua Dr. Eurico Rangel. [esquina com a avenida dos Bandeirantes], com público estimado em 2.000 pessoas. Também é informado o trajeto, que passaria pela Avenida dos Bandeirantes, marginal Pinheiros, av. Rebouças, av. Consolação, Viaduto Anchieta, av. 23 de maio, av. Paulista e Rua da Consolação.
Direitos conflitantes
Os especialistas entendem que o alerta sobre a manifestação permite que o ato ocorra sem intimidação por parte do PM, possibilitando repressões, o que fere a Constituição.
Segundo Thiago de Oliveira, advogado especialista em direito público, basta informar o poder público competente – “nem está a pedir autorização, está a comunicar” – sobre a manifestação. Cabe às autoridades verificar alguns requisitos, como se não houvesse outra demonstração no site.
“Estamos perante um direito fundamental consagrado na Constituição, a liberdade de reunião e manifestação, que defende o Estado de Direito”, afirmou.
Em que medida tem havido irregularidade no trânsito e em que medida essa iniciativa governamental impede a livre expressão de uma categoria profissional? Sem examinar as evidências, não é possível julgar, mas são direitos relevantes em conflito
Luís Carlos Moro, da Comissão de Direito do Trabalho da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil]
Segundo o advogado, mesmo que haja violação de regra, deve ser garantido o direito de manifestação desses trabalhadores, desde que pacífica.
O sindicato informou que enviou duas cartas às autoridades (do Comando da Polícia Rodoviária e do Comandante Geral da PM de São Paulo) alertando sobre a manifestação. A Polícia Militar esteve presente na concentração e ao longo do percurso.
Para o advogado Armando Silva e Souza, presidente da Comissão Especial de Direito de Trânsito da OAB, a multa prevaleceria se a manifestação não tivesse sido autorizada ou se houvesse descumprimento do acordo.
“Ora, se houve autorização ou se a solicitação não foi atendida, há responsabilidade do próprio órgão ou da entidade de trânsito que acompanha a manifestação. Nesse caso, não é cabível punir um motociclista por omissão ou negligência do corpo de trânsito “.
A assessoria de imprensa da Polícia Militar informou ao Inclinação quem recebeu as cartas e, de fato, acompanhou o ato. Foi acertado com Marcos Cardoso, vice-presidente do SindimotoSP, que durante o passeio as bicicletas ocupariam apenas duas faixas. No entanto, as multas relacionadas à obstrução da estrada foram aplicadas antes da movimentação dos ciclistas, enquanto eles ainda estavam parados na sede do sindicato.
O SindimotoSP também afirma que os manifestantes seguiram as ordens da polícia da época. Nos vídeos veiculados pela entidade nas redes sociais, é possível ver a greve de rua do sindicato ao mesmo tempo que as multas. Em todas elas há muitas motocicletas paradas nas laterais, mas a estrada não está obstruída.
Nesse vídeo, gravado às 11h03, um pouco antes do início da manifestação, é possível ver, ao fundo, o trânsito da Avenida dos Bandeirantes.
A filmagem, embora dê uma ideia da demonstração, não mostra o local exato onde as multas foram aplicadas. Mesmo assim, Mora acredita que os vídeos podem ser usados como prova a favor dos entregadores. “As imagens correspondentes ao momento em que a infração foi imposta beneficiam a tese de uma infração não cometida e também de um uso indevido de finalidade”, afirma.
O artigo 253-A do Código de Trânsito Brasileiro, utilizado para a aplicação da multa, foi alterado entre 2015 e 2016, após a parada dos caminhoneiros nas estradas, para punir aqueles que intencionalmente impedirem a circulação de uma via (total ou parcialmente), e não inclui apenas paradas ou estacionamentos.
Humor tenso com policiais
O sindicato e os mensageiros ouvidos por Inclinação Eles relatam que, ao contrário do que aconteceu na manifestação de 1º de julho, o clima estava tenso entre os manifestantes e as autoridades locais, que aparentemente escreveram as placas das motocicletas no protesto. O gesto não foi bem recebido pelos manifestantes.
“A Polícia Militar é uma instituição que respeitamos, mas o grupo que estava lá naquele dia agiu politicamente. Eles tentaram parar, inibir e montar um confronto”, disse Gil.
Reportagem da Folha de S.Paulo Ele também relatou hostilidade entre ciclistas e policiais naquele dia, com princípios confusos ao longo da demonstração. Foi na manifestação de 14 de julho que policiais foram filmados dominando um entregador que participou da paralisação marcada pelo SindiMotoSP.
As imagens se tornaram virais, em parte porque o lembravam de George Floyd, dos Estados Unidos. Na gravação, três agentes se rendem ao motoboy e deitam-se de bruços, já imobilizados, no jardim de uma propriedade da Avenida Rebouças, região central de São Paulo. Enquanto isso, outro policial, de arma na mão, tenta afastar a população que registrou a ação. Nas cenas, o homem pode ser ouvido dizendo: “Não consigo respirar! Não consigo respirar!”
A polícia abordou o revendedor de vídeo porque sua placa estava coberta; na verdade, o veículo tinha problemas regulatórios.
O Ministério da Segurança Pública, por sua vez, alega que o 1º Batalhão de Polícia Rodoviária acompanhou as manifestações nos dias 1º, 14 e 25 de julho para “garantir o direito constitucional de manifestação dos motociclistas vinculados ao SindimotoSP e do mensageiros por aplicativo, com o objetivo de promover a segurança dos manifestantes e demais usuários da via ”.
“Os líderes do movimento e todos os participantes foram informados previamente sobre o que preconiza o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e que qualquer atitude contrária à segurança seria restringida”, relata o SSP.