À medida que os riscos climáticos se intensificam no Brasil, rivais eleitorais oferecem poucas soluções

  • Eventos climáticos extremos se intensificaram no Brasil nos últimos anos, ceifando centenas de vidas e afetando fortemente o meio ambiente.
  • Um estudo documenta mais de 50.000 desastres naturais, causados ​​principalmente por eventos climáticos severos, entre 2013 e 2022, causando US$ 64 bilhões em perdas.
  • Especialistas atribuem o custo ao governo ignorando repetidamente os alertas sobre riscos relacionados ao clima e deixando de investir em medidas de adaptação e prevenção.
  • Enquanto o país se prepara para eleger um presidente no final deste mês, nenhum dos candidatos apresentou propostas concretas para prevenção de desastres climáticos e gestão de riscos.

“Os níveis de estresse pós-traumático das pessoas são extremamente altos”, diz Rafaela Facchetti, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública, ou ENSP.

As pessoas em questão são os habitantes de Petrópolis, município do estado do Rio de Janeiro, que sofreu fortes chuvas torrenciais no início do ano que causaram enchentes e deslizamentos de terra em toda a área. Dentro apenas quatro horas Certa tarde, a chuva normal de todo o mês de fevereiro caiu sobre Petrópolis.

Mas este não é o único local com chuvas extremas no Brasil. Em todo o país, milhões de pessoas foram afetadas por chuvas torrenciais nos últimos anos, perdendo suas casas, empregos, familiares ou até mesmo suas próprias vidas. Este ano foi o mais mortal na história recente: 457 mortes já foram atribuídas às fortes chuvas.

Em outras partes do país, no entanto, os alertas de um evento climático extremo diferente estão se multiplicando: a seca. O Pantanal, uma das maiores áreas úmidas do planeta, que no Brasil se estende pelos dois lados dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, sofre atualmente seca mais severa registrados em décadas. Isso resultou em incendios florestais de dimensões sem precedentes, causando danos à vida humana, animal e vegetal.

Comunidades tradicionais que vivem no bioma, incluindo comunidades indígenas e ribeirinhas conhecidas como ribeirinhos, são as principais vítimas da seca e dos incêndios resultantes na região, diz André Siqueira, biólogo e diretor da ONG conservacionista Ecoa. Ele diz que essas pessoas têm que lidar não apenas com a perda de seus bens, mas também com o trauma psicológico de continuar a vida em uma região onde 26% da paisagem foi queimada S 17 milhões de animais foram mortos – e isso foi apenas para incêndios em 2020.

Um bairro do município de Petrópolis que foi atingido por deslizamentos de terra após chuvas torrenciais em fevereiro deste ano. Imagem cortesia de Clauber Cleber Caetano/PR.

Avisos e riscos ignorados

Há décadas, cientistas e organizações da sociedade civil vêm alertando as autoridades públicas sobre as consequências das mudanças climáticas e a importância de medidas de mitigação e adaptação. Uma das consequências é maior frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como chuvas fortes e secas, que podem ter impactos desastrosos para a população, o meio ambiente e a economia.

UMA estudar por la Confederación Nacional de Municipios (CNM) de Brasil, utilizando datos del Sistema Integrado de Información sobre Desastres (S2ID/MDR) del Ministerio de Desarrollo Regional, identificó más de 50.000 desastres naturales en el país entre 2013 y 2022, la mayoría relacionados con o clima. Alguns desses incidentes são registrados no Atlas Digital de Desastres no Brasilum projeto da Universidade Federal de Santa Catarina, que mapeia desastres naturais em todo o país.

O estudo da CNM indica que esses desastres afetaram cerca de 340 milhões de pessoas (muitas comunidades foram afetadas por mais de um incidente nesse período) e causaram prejuízos de mais de 340 bilhões de reais (US$ 64 bilhões) aos setores público e privado. Essencialmente, mostra que os riscos associados aos desastres climáticos e seus impactos são evidentes, mas ignorados.

Em 2019, quando a Ecoa percebeu que o Pantanal sofria com a falta de água e que isso poderia causar mais incêndios na região, manifestou sua preocupação às autoridades na esperança de evitar uma “situação catastrófica”. Mas seus avisos técnicos foram ignorados. “E lá estávamos nós em 2020, com a pior tragédia ambiental que o bioma já viveu”, diz Siqueira.

Acrescenta que não existiam planos oficiais de combate aos incêndios, enquanto existia, e ainda existe, financiamento público para o efeito. A Ecoa tem ajudado a formar bombeiros voluntários para que as comunidades tradicionais do Pantanal possam se proteger e combater as queimadas.

A falta de atenção e preparo do governo em relação aos riscos climáticos e desastres também levou à pior tragédia socioambiental nas montanhas do estado do Rio de Janeiro, onde 947 pessoas morreram em janeiro de 2011 em deslizamentos de terra provocados por chuvas extremas. Petrópolis foi um dos municípios atingidos no que é conhecido como o “mega-desastre”. Esse desastre se repetiu este ano, embora em menor escala.

Facchetti, pesquisador da ENSP e também engenheiro civil, diz que a região serrana do Rio de Janeiro é propensa a deslizamentos de terra devido ao tipo de solo e outras condições ambientais. Isso significa que deslizamentos de terra devem ser considerados “normais” durante chuvas intensas e que as autoridades competentes devem estar atentas a esse risco. O que não é normal, diz ele, é que os recursos públicos sejam destinados apenas à reconstrução, ou pós-desastre, e não à prevenção, ou pré-desastre.

Bombeiros voluntários ajudam a combater um incêndio no Pantanal. Imagem cortesia de Gustavo Figueiroa/SOS Pantanal.

Deficiências pré e pós-desastre

Paulo Ziulkoski, presidente da CNM, diz que em ambos os aspectos, antes e depois do desastre, “o governo federal ainda não ajuda os municípios de forma eficiente”. Ele diz que isso deixa a responsabilidade de resolver o problema para os municípios. Mas as medidas que podem tomar são menos do que ideais devido à falta de “apoio financeiro e técnico do governo federal”, diz Ziulkoski.

O estudo da CNM sobre desastres naturais mostra que, do financiamento alocado pelo governo federal para prevenção e resposta a desastres entre 2010 e 2022, apenas 47% foi utilizado. Mesmo em situações de emergência, “o governo federal raramente fornece os recursos necessários solicitados pela cidade afetada”, diz Ziulkoski. Ele culpa a burocracia associada ao Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil por tornar o processo de solicitação de recursos e gestão de desastres extremamente lento.

Facchetti diz que as inconsistências na reparação dos danos e a falta de investimento em prevenção aumentam a vulnerabilidade da população e o risco de novos desastres. “A gente [of Petrópolis] agora eles vão voltar a morar em suas casas que estão localizadas em regiões de alto risco porque não têm outra escolha”, diz ele, acrescentando que isso é porque eles não receberam pagamentos de aluguel de assistência social ou não encontraram outras casas para alugar. . Muitas vítimas do desastre de 2011 ainda não receberam “a assistência social a que tinham direito do governo”, diz Facchetti.

“Ontem houve [moderate] chuva de 90 milímetros [3.5 inches] em 24 horas, e a situação na cidade era caótica porque os projetos de controle de enchentes ainda não haviam sido executados nos bairros onde ocorreram os deslizamentos, então toda a lama voltou para as ruas”, diz. . “Isso causou inundações porque os sumidouros [in the street sewer system] eles ainda estão entupidos. Não sei o que vai acontecer com Petrópolis se tivermos chuvas fortes neste verão.”

Também não houve avanço do governo na reparação dos danos causados ​​pela seca e pelos incêndios no Pantanal. Segundo Siqueira, grupos de cidadãos voluntários estão fazendo o que podem. A Ecoa, por exemplo, arrecadou recursos para instalar uma estação de tratamento de água e mobilizar agentes de saúde nas comunidades mais afetadas pelas queimadas do Pantanal no Mato Grosso do Sul em 2020, porque “não havia um programa organizado para ajudar essas pessoas”, diz Siqueira. .

Também critica as “manobras políticas” para eles culpam os incêndios do Pantanal em grupos sociais vulneráveis, até mesmo pelo presidente Jair Bolsonaro. Siqueira chama isso de uma forma de o governo federal fugir da responsabilidade pelo desastre.

Plataformas políticas com pouco a oferecer

Ivo Poletto, sociólogo e assessor nacional do Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, rede de organizações da sociedade civil, concorda que o agravamento dos desastres climáticos no Brasil nos últimos anos se deve à “irresponsabilidade” do governo federal. . Ele diz que o governo “faltou de políticas coerentes” para a preservação do meio ambiente e o atendimento às populações vulneráveis, que são as mais afetadas pela crise climática. Poletto diz que essa irresponsabilidade é um legado de governos anteriores, mas que “as coisas pioraram muito” com Bolsonaro, que assumiu o cargo no início de 2019.

O governo Bolsonaro gerou controvérsia desde o início sobre sua agenda que é vista como falha em abordar os riscos relacionados ao clima, na melhor das hipóteses, ou até mesmo exacerbando-os, na pior das hipóteses. Por exemplo, cortes orçamentários drásticos órgãos de proteção ambiental têm dificultado prevenir e combater incêndios, entre outros riscos ambientais. O Centro Nacional de Monitoramento e Alerta Precoce de Desastres Naturais (CEMADEN) é outra instituição federal cujo trabalho foi comprometido devido à subfinanciado nos últimos anos.

Bolsonaro, que enfrenta um segundo turno para a reeleição no final de outubro, fez campanha em propostas vagas quando se trata de lidar com as mudanças climáticas. Um deles é o “reforço do controle e fiscalização de queimadas ilegais, desmatamento e crimes ambientais”, compromisso que claramente não foi assumido em seu primeiro mandato. Ele também pediu a melhoria das capacidades de adaptação às mudanças climáticas, mas apenas para o agronegócio.

O rival de Bolsonaro na pesquisa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também não chegou a oferecer propostas climáticas específicas em seu Campainha. Ele falou em fortalecer o Sistema Nacional do Meio Ambiente e instituições afins, trabalhando com ciência, tecnologia e inovação para “combater as mudanças climáticas e as ameaças à saúde pública”. Lula, o favorito para vencer o segundo turno em 30 de outubro, também prometeu reduzir os gases de efeito estufa e aumentar a conservação da biodiversidade, mas não mencionou a adaptação ao clima.

Ainda assim, foi durante o segundo mandato de Lula como presidente, em 2009, que o Brasil adotou pela primeira vez uma Política Nacional de Mudanças Climáticas. O governo Lula também introduziu o Sistema Nacional de Defesa Civil (2010), e sob sua sucessora e protegida, Dilma Rousseff, foi criado em 2011 o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta Prévio de Desastres Naturais, embora, desde então, seus alertas tenham foi ignorado

Para quem está atento aos riscos climáticos, a escolha se resume a duas plataformas: uma mais e outra menos irresponsável quando se trata de prevenção e gestão de riscos de desastres climáticos. Enquanto isso, o risco de outro mega-desastre paira em meio à persistente falta de responsabilidade.

Imagem principal de um incêndio na região da Serra do Amolar do Pantanal em 2020. Imagem cortesia de Reinaldo Nogales/Ecoa.

Esta história foi relatada pela equipe Mongabay Brasil e publicada pela primeira vez aqui em nosso Local do Brasil em 19 de setembro de 2022.

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