Atualmente, o Brasil não possui medidas suficientes para conter a disseminação do Novo coronavírus
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Essa é uma das conclusões de um estudo inédito, assinado por quase 80 cientistas de instituições brasileiras e britânicas.
A pesquisa indica que, apesar de insuficiente para reduzir a disseminação do novo coronavírus, o fechamento de lojas e escolas em São Paulo e no Rio de Janeiro após o início do pandemia
Ele até reduziu a taxa de transmissão do vírus para um terço do que foi identificado antes das medidas.
“O estudo oferece evidências de que as intervenções atuais ainda são insuficientes para manter a transmissão do vírus sob controle no país”, diz o artigo, primeiro sobre a pandemia na América Latina a ser publicado na revista Science, nesta quinta-feira (23).
Divulgado no momento em que o Brasil
registra registros diários de casos e excede 80.000 mortes, ficando atrás apenas nesse aspecto nos EUA. O documento assinado pelo grupo de trabalho dos cientistas aponta para a “necessidade urgente de medidas como evidências, mapeamento de contatos entre pessoas infectadas avaliadas no país.
Circulação
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Usando dados anônimos sobre a circulação de pessoas de telefones celulares, o estudo permitiu informações estatísticas que permitiram aos pesquisadores estimar a taxa de transmissão do vírus, representada pela letra R (número de reprodução). )
“Até que vacinas e medicamentos estejam disponíveis, medidas de distância social são essenciais para reduzir o número de infecções e salvar vidas”, diz o cientista Nuno Rodrigues Faria, professor do Imperial College (Londres) e da Universidade de Oxford, um BBC News Brasil. dos autores do estudo.
Com base na mobilidade das pessoas, o estudo mostra que medidas como o fechamento de escolas e comércio em meados de março, no Rio de Janeiro e em São Paulo, permitiram que a taxa de transmissão R caísse de 3 para valores entre 1 e 1 6
“Os resultados acima de 1 indicam que a transmissão está crescendo. Abaixo de 1, que está sob controle”, explica o professor. Desde o relaxamento das medidas de restrição, a taxa R permaneceu acima de 1 no Brasil.
O estudo também mediu o impacto das limitações impostas aos estrangeiros que entram no país e revela que mais de 100 cepas do vírus entraram em diferentes lugares do Brasil no final de abril, principalmente da Europa.
A grande maioria dos vírus presentes no Brasil veio antes das restrições à entrada de estrangeiros, indicando que as medidas chegaram tarde demais.
Fogo
Em 19 de março, o governo brasileiro ordenou o fechamento de quase toda a fronteira terrestre do país.
Onze dias depois, em 30 de março, seguindo a recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o governo proibiu a entrada de estrangeiros de qualquer nacionalidade no Brasil através de voos internacionais.
Antes do bloqueio nos aeroportos, de acordo com a Associação das Companhias Aéreas Brasileiras, o número de vôos internacionais de e para o Brasil já havia diminuído mais de 85% em relação ao mesmo período do ano passado.
“O número de vôos diminuiu muito com as restrições impostas às viagens, mas essas reduções ocorreram após as linhas no país: o vírus já estava circulando, já estava estabelecido”.
Os principais pontos de entrada para o novo coronavírus no Brasil, segundo o estudo, foram estados altamente conectados como São Paulo (36%), Minas Gerais (24%), Ceará (10%) e Rio de Janeiro (8%).
Em outras palavras, o professor compara: “Novas faíscas não eram necessárias para o incêndio na floresta, já estava acontecendo”.
Medições de coordenadas
Como resultado da colaboração entre vários grupos de pesquisa, o estudo começou como uma atividade no Centro de Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE) e se expandiu entre instituições no Reino Unido e no Brasil.
No final, 75% dos autores são de instituições brasileiras como USP, UFMG, UFRJ, IPEA, UNICAMP, FGV, entre outros.
“Existe uma força investigativa brasileira muito forte”, diz Nuno Rodrigues Faria, que liderou a investigação no Reino Unido. No Brasil, o grupo de trabalho foi presidido por Ester Cerdeira Sabino, pesquisadora e professora do IMT-USP.
Faria diz que o estudo reforça a necessidade de “medidas de distância física e social são recomendadas para reduzir a propagação do vírus”.
“Isso permite que as correntes de transmissão se quebrem e evita que novas correntes de transmissão apareçam”, diz ele.
A recomendação mais aceita entre os cientistas é a distância física entre as pessoas, de preferência dois metros. O isolamento social também reduz o contato com superfícies potencialmente contaminadas.
“Para ser eficaz, todas as campanhas devem ser implementadas com a participação total de todos os membros da sociedade. Daí a importância de medidas coordenadas no país para obter os melhores resultados possíveis”, diz o professor.
“Revolução genômica”
Usando amostras colhidas entre março e abril de pacientes que deram positivo para o novo coronavírus em 85 municípios do país, os pesquisadores sequenciaram 427 novos genomas do novo coronavírus no Brasil.
O resultado, segundo os cientistas, é o maior conjunto de dados genômicos do novo coronavírus da América Latina.
“Como cientistas, devemos sempre estar um passo à frente. Compreender a diversidade do vírus em várias partes do país e ajudar a antecipar possíveis problemas”, diz Faria.
“Esses dados genéticos de várias partes do Brasil ajudarão, por exemplo, a entender melhor a resposta potencial a uma vacina, uma vez implementada. Eles ajudam a entender melhor se os métodos de diagnóstico funcionam bem e, em caso de problemas, por que que funcionam mal “, diz o cientista.
Entre 2015 e 2020, por exemplo, o esforço conjunto para combater a epidemia do vírus Zika resultou no sequenciamento de aproximadamente 500 genomas.
Desde janeiro, a nova epidemia de coronavírus resultou em mais de 60.000 genomas seqüenciados, um recorde mundial.
“Estamos passando por uma revolução genômica e essa revolução só ajudará e facilitará a detecção e o controle de novos surtos no futuro”, diz Faria no relatório.
A identificação das características genéticas do vírus permite comparações entre amostras presentes no Brasil em outras partes do mundo. Portanto, os genomas auxiliam na construção de uma espécie de árvore genealógica do vírus, indicando em termos cronológicos e geográficos de onde o vírus vem e onde circula.
A sequência também permite que mutações sejam identificadas à medida que a pandemia evolui.
“O genoma é o material genético do vírus que acopla a uma determinada pessoa em um determinado dia e em um determinado local. Ele sempre tem uma data e um local associados a uma determinada amostra, que é sequenciada”, explica o professor.
“O mapeamento genômico fala sobre o processo de expansão de vírus no Brasil.”