O rodízio implementado pela Domènec Torrent no Flamengo gerou polêmica nos últimos dias. A última decisão que causou polêmica foi deixar Gabigol no banco contra o Fortaleza: o atacante entrou no segundo tempo e fez o gol da vitória. O treinador, porém, segue firme na filosofia e acredita que esta é a melhor forma de gerir um plantel completo, que terá uma maratona de jogos até o final da temporada.
O conceito de Dome é baseado em questões científicas, não apenas técnicas e táticas. O objetivo é ter todos os jogadores em boas condições físicas na parte mais decisiva da temporada. Algo que seu antecessor, Jorge Jesús, lamentou após a final da Copa do Mundo de Clubes contra o Liverpool.
– Conseguimos controlar o Liverpool o máximo possível, sabendo que um time tinha 80 jogos e o outro 27. Se tivéssemos 27 e eles 80, seríamos campeões mundiais – disse o Mister na época.
Domènec Torrent conversa com Marcio Tannure, chefe do departamento médico do Flamengo – Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
As comparações entre Domènec e Jorge Jesus são frequentes e nem sempre produtivas, mas aqui fica uma ressalva: o atual plantel do Flamengo oferece muito mais opções do que os portugueses em 2019. No clube, entende-se que Jesús simplesmente não jogou mais com sua equipe porque ele não tinha tantas opções.
Vamos voltar ao Dome. Sem tempo para treinar e com uma agenda agitada, o treinador logo abraçou sua ideia de rodízio de jogadores. O objetivo não é apenas prevenir lesões e controlar o desgaste dos jogadores, mas também atirar em outros menos acostumados.
O entendimento é que quem jogou menos na temporada pode experimentar maior desgaste quando usado do que quem joga com mais frequência. Com um turnover maior, a tendência é igualar os níveis dos atletas. Isso também é feito com base na carga de treinamento, não apenas em jogos.
Thiago Maia no treino do Flamengo – Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
Para começar, o treinador fez uma verificação completa. De modo geral, quando um atleta atinge o número de corte, ele é salvo, independente do nível de desgaste.
Outro fator a se levar em consideração é o próprio desgaste: cada jogador reage de forma diferente, e pode acontecer que um atleta atinja um alto nível de fadiga em menos minutos. As informações são repassadas pelo departamento médico do Flamengo e analisadas pelo Dome antes de qualquer decisão.
– Tenho muita confiança no Marcio (Tannure, chefe do departamento médico), sempre conversamos, mas no final é o técnico quem decide. Muitas vezes temos informações, falamos com os jogadores, estejam eles cansados ou não … Não é a mesma coisa jogar a cada três dias do que jogar quatro dias. Podemos repetir o treinamento, mas o desempenho não será o mesmo. Quando chegarem os jogos importantes, da Libertadores, semifinais, finais, eles vão jogar o seu melhor. Não os nomes ”, disse Dome recentemente.
No total, o Dome já usou 26 jogadores nas oito primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro, e apenas três estiveram em campo em todas elas: William Arão, Rodrigo Caio e Everton Ribeiro. O defensor é o único que começou.
Rodrigo Caio foi trocado apenas no clássico pelo Botafogo, no 18º dia do segundo tempo, devido a uma lesão na coxa esquerda. O zagueiro se recuperou rapidamente e jogou a rodada seguinte, uma semana depois, contra o Santos.
Arão e Everton Ribeiro só não alinharam na partida contra o Santos. Mas ambos entraram na segunda etapa. Mas Everton passou menos tempo em quadra até agora, tendo sido substituído em quatro jogos, e Aaron, nenhuma vez.
– É difícil jogar a cada três dias. Pela minha experiência nos últimos 11 anos, fizemos essa rotação. Todo mundo vai jogar. Nosso elenco é equilibrado. Ninguém é mais importante do que o grupo. Ninguém vai jogar nenhum jogo. Nem Rodrigo nem Filipe … porque não vão estar 100% – disse Dome.
Ranking de minutos do Flamengo
Jogador | Posição | Jogos | Minutos |
Rodrigo Caio | Defensor | 8 | 693 |
Willian Arão | Volante | 8 | 656 |
Filipe luis | Lado | 7 | 630 |
Everton Ribeiro | Meia | 8 | 568 |
Gabigol | Agressor | 7 | 552 |
Leo Pereira | Defensor | 6 | 540 |
Arrascaeta | Meia | 7 | 520 |
Bruno henrique | Agressor | 6 | 495 |
Gerson | Volante | 6 | 480 |
Diego alves | Goleiro | 5 | 415 |
Pedro | Agressor | 7 | 242 |
Gustavo henrique | Defensor | 3 | 225 |
Michael | Agressor | 4 | 203 |
Renê | Lado | 3 | 191 |
Gabriel batista | Goleiro | dois | 180 |
Thiago Maia | Volante | 3 | 178 |
ilha | Lado | 3 | 177 |
Juan lucas | Lado | dois | 145 |
Pedro Rocha | Agressor | 3 | 134 |
Diego | Meia | 5 | 132 |
cessar | Goleiro | dois | 123 |
Vitinho | Agressor | 5 | 117 |
Matheuzinho | Lado | dois | 108 |
Thuler | Defensor | dois | 33 |
Lincoln | Agressor | dois | 28 |
Pequenos detalhes também fazem a diferença. Um conceito reforçado pelo formador é o dos ciclos de treino. De acordo com estudos, o pico de desgaste de um jogador ocorre 48 horas após o jogo. Portanto, o clube passou a dar tempo livre aos seus jogadores durante este período.
Antes do jogo com o Fluminense, por exemplo, o elenco jogou no sábado contra o Fortaleza, treinou no domingo, jogou na segunda e treinou na terça.
Um ciclo curto de três dias limita as chances dos jogadores de recuperação física, já que os jogadores acabam tendo que treinar no auge do esgotamento. Isso aumenta a necessidade de girar o elenco. Com quatro dias de treino, é possível fazer esta pausa e aumentar o resto dos jogadores.
Gabigol domina bola nos treinos do Flamengo – Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
A comida desempenha um papel importante
A alimentação também é levada em consideração nessa recuperação. Uma prática comum no Flamengo é a comida que se come no camarim após uma partida. Treinar no dia seguinte às partidas também ajuda a controlar esse problema, com os atletas do Ninho do Urubu, e a conseguir recuperar os níveis de glicogênio, essenciais para o desempenho.
No livro “Guardiola Confidencial”, de Marti Perarnau, o preparador físico Lorenzo Buenaventura, que trabalhou com Dome no Bayern de Munique, explica a importância da recuperação:
– Estudos médicos realizados na Itália mostram que a recuperação após cada partida depende da dieta do atleta. Assim, no terceiro dia após o jogo, quando se alimentava bem, o jogador recuperava 80% do glicogênio muscular. Apenas 80%! Imagine se você comesse mal … E depois de quatro jogos consecutivos em ciclos de três dias, o risco de lesões aumenta em 60%. (…) Por isso, é importante ter um plantel completo que permita, de vez em quando, deixar alguém fora de uma partida e dar-lhe um ciclo curto de cinco dias de treinamento – disse Buenaventura.
O Flamengo, porém, ainda se adapta à metodologia do Dome. Existe, por exemplo, um grupo de WhatsApp do treinador e seus auxiliares com membros do departamento médico, para que possam trocar informações e ajustar a integração no dia a dia de trabalho.
Com rodízio, o Flamengo se prepara para entrar em campo nesta quarta-feira. O compromisso é contra o Fluminense, às 21h30 (Brasília), no Maracanã, pela nona jornada do Campeonato Brasileiro.