Não há discordância, mas há insatisfação. E o Flamengo se contorce nos bastidores para evitar que a pólvora que cerca o Gabigol + Dome + rodízio = equação queime. O “Não vou falar” após marcar o gol da vitória sobre o Fortaleza no sábado, no Maracanã, diz mais do que qualquer entrevista sobre uma situação que incomoda o atacante há dez dias.
Dome e Gabigol comemoram gol da vitória sobre o Fortaleza – Foto: Thiago Ribeiro / AGIF
O carinho nas comemorações reflete o sentimento mútuo entre Dome e Gabriel. Longe da sinergia imediata que existia com Jesus, mas no Ninho do Urubu o apreço pelo espanhol é unânime: um homem, gente muito boa. Porém, na hora de tomar decisões em equipe, ainda há resistências, principalmente ao conceito de rodízio.
Mesmo marcando e vencendo a partida, Gabigol sai de campo com raiva
O primeiro barulho veio após o empate com o Botafogo. Gabriel e Rodrigo Caio já estavam recuperados de problemas musculares após três dias de tratamento e não participaram de nenhum treino com o grupo na quinta e sexta-feira antes da partida contra o Santos.
O cenário era o mesmo: faziam aquecimento, faziam trabalhos leves com bola e passavam para atividades físicas complementares. Gabriel já se sentia em condições de treinar normalmente e se posicionou na rede social.
A situação era muito parecida com a do Arrascaeta, mas o uruguaio foi para o poste depois de receber cartão amarelo no clássico do Botafogo. Ciente de que Dome estava pensando em salvá-lo, Gabriel antecipou e registrou:
Estar fora de jogo em casa, frente ao Santos FC, no dia do seu aniversário, estava fora de cogitação e não se justificava a boa forma. No sábado, o atacante treinou, garantiu o placar e foi decisivo na vitória por 1 a 0 na Vila Belmiro. Melhor no campo e objetivo decisivo.
O tornozelo torcido o fez deixar a grama mais cedo. A corrida com as reservas para o apito final ainda na Vila, por sua vez, foi quase um recado: está tudo bem. Gabriel curtiu sua festa de aniversário no Guarujá e voltou ao Rio de Janeiro sem mancar ou reclamar de maiores dores.
Gabigol comemora gol da vitória sobre o Santos com o Dome – Foto: Alexandre Vidal / Flamengo / Divulgação
O Flamengo chegou a divulgar que a camisa 9 havia sido bem apresentada. Mas o resto que era uma possibilidade contra o Peixe se tornou real contra a Bahia. Gabi deixou claro para Dome que estava em jogo, os médicos também não vetaram, mas o espanhol optou por ficar no Rio.
Gabriel entendeu a opção sem hesitação. Os jogadores falam uns com os outros e já perceberam que o conceito de salvamento do Dome é diferente do que estavam acostumados. Para o treinador, qualquer pequena dor é suficiente para sair do jogo. Eles não entendem, mas aceitam, respeitam a hierarquia.
Gabigol, Dome, Domenec, Flamengo – Foto: André Durão
A transferência para o banco reserva contra Fortaleza, porém, não foi bem digerida por Gabriel. Eu estava 100%, estava descansando e estava com fome de entrar em campo. Ele treinou forte às quintas e sextas-feiras, até saber da decisão por volta das 14h do sábado.
“Foi uma decisão técnica. Mas é normal. Ninguém é mais importante do que o grupo. Estamos felizes com Gabi. Ele é o nosso artilheiro, mas Pedro também jogou muito bem”.
– Quando analisei Fortaleza, decidi ficar com o Pedro porque ele estava feliz com o desempenho dele. Gabi nos ajudou muito quando saímos do banco. Ele é um vencedor. Mas nem ele nem ninguém vai jogar qualquer jogo. Nem Rodrigo nem Filipe … porque não vão ser 100% – disse em conferência de imprensa.
Abraço de Dome e Gabigol após gol no empate com o Grêmio – Foto: Alexandre Vidal / CRF
Mais do que a saída da equipe, o desenvolvimento dos acontecimentos nos últimos dez dias foi o que incomodou Gabriel. O abraço de Marcos Braz no túnel que dá acesso ao vestiário serviu para tentar acalmá-lo. Mas o “Não vou falar” já havia falado muito para o atacante que marcou quatro gols nas últimas quatro vezes em campo.
Quarta-feira, às 21h30 (horário de Brasília), dia da Fla-Flu, pela nona rodada do Brasileirão, a tendência é Gabigol recomeçar, mas o banco reserva será um ambiente mais comum para todos no Flamengo . Não apenas para a camiseta 9.