SÃO PAULO – Pix, um novo sistema de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central, começa a operar em todo o país em 16 de novembro de 2020.
A proposta é oferecer uma forma de pagamento mais segura, competitiva e ágil, com movimentação financeira em até dez segundos, podendo ser realizada sete dias por semana, 24 horas por dia – inclusive finais de semana e feriados -, além de possibilitar a realização de transferências inserindo apenas o celular ou CPF.
Outros recursos devem ser anunciados à medida que o cronograma de implementação do novo sistema progride nos próximos quatro a cinco anos. Mas o BC garante que Pix será “tão fácil, simples, intuitivo e rápido quanto fazer um pagamento em dinheiro”.
Tanto indivíduos quanto empresas podem usar os recursos do sistema.
Nesta segunda (31), InfoMoney Ele conversou com Ângelo Duarte, chefe do departamento de estrutura e concorrência do mercado financeiro do Banco Central, e Gustavo Cunha, economista e especialista em inovação no mercado financeiro, para responder aos principais questionamentos sobre o novo sistema. Confira o vídeo completo ao vivo no player acima.
Separamos as principais perguntas sobre Pix e as respostas dos convidados sobre os tópicos. Verificação de saída:
1. Como se inscrever?
Para acessar o Pix, um indivíduo ou empresa deve ter uma conta transacional (conta corrente, poupança ou conta de pagamento) mantida com um provedor de serviços financeiros, como um banco, fintech ou plataforma de pagamento.
Inicia-se o registro de pessoas físicas e jurídicas de 5 de outubro.
Segundo Duarte, do BC, as próprias instituições financeiras vão entrar em contato com seus clientes para se cadastrarem no novo sistema. O registo será efectuado nos canais próprios do banco em que o cliente tenha conta, como o Internet Banking e a aplicação. Se o titular da conta preferir, também pode procurar o banco, mas o registo só será efectuado a partir da data indicada.
O cliente deve informar qual chave Pix deseja utilizar para se cadastrar. Esta chave atua como um código de identificação do usuário dentro do sistema para receber e enviar quantidades e pode ser: o RG, CPF, e-mail, telefone ou número aleatório gerado pelo sistema. É esta chave que permitirá que você transfira dinheiro para a conta de outra pessoa pelo Pix digitando apenas o seu telefone celular ou número de segurança social.
Ao definir o código de acesso e dar consentimento para o registro, a instituição financeira envia as informações do cliente ao BC para concluir o registro em seu sistema. Portanto, bancos, fintechs e outras instituições financeiras serão intermediários entre o BC e o consumidor final.
2. Como funcionam as teclas Pix?
As chaves nada mais são do que uma forma de identificar o usuário dentro do ecossistema Pix.
Cada indivíduo pode ter até cinco chaves para cada conta que possui, e cada entidade legal pode ter até 20 chaves, também por conta. Simplesmente não é possível repetir a mesma chave para contas diferentes, pois o código servirá como endereço de entrega dos títulos negociados.
Para fazer uma transferência ou pagamento, você deve acessar o aplicativo do seu banco, o mesmo que já é utilizado hoje, e selecionar a opção Pix, como acontece hoje para fazer um TED.
Por exemplo: João vai repassar R $ 50 para Renata. Para fazer isso com o Pix, basta entrar no aplicativo do seu banco, selecionar a opção Pix, informar o tipo de senha que Renata usa, por exemplo, o celular, e, neste caso, informar o número do telefone. Ao fazer isso, o valor será enviado para a conta onde sua chave foi registrada.
O objetivo é simplificar e agilizar o processo. “Não será mais necessário informar à agência, ao CPF e outros dados como funciona hoje com um TED”, explica Duarte.
3. O registro é obrigatório?
Não é obrigatório para pessoas físicas e jurídicas não financeiras, apenas para instituições financeiras com mais de 500 mil clientes. Mas, como explica Duarte, é recomendado pelo BC, já que o objetivo é popularizar o sistema em larga escala e pessoas e empresas que não se cadastrarem ficarão de fora de um serviço utilizado por grande parte da população.
Mais de 900 instituições financeiras já estão cadastradas no sistema e mais de 50 países ao redor do mundo já operam sistemas semelhantes.
4. Como usar ou Pix?
Os consumidores poderão usar o Pix para fazer transferências ou pagamentos de faturas e produtos de três maneiras principais:
a) Chaves Pix: com a chave cadastrada é possível fazer e receber transferências no novo sistema;
b) Código QR: por meio da leitura do código, que pode ser estático (gerado para uma única transação) ou dinâmico (gerado para múltiplas transações), o usuário pode comprar produtos ou pagar faturas. A proposta inclui ainda a possibilidade de usar o Pix para pagar, com o QR Code, contas de luz e telefone em um futuro próximo.
Para quem não conhece, o QR Code é aquele código de barras 2D, que ficou famoso pelas doações solicitadas na vida de artistas em meio à pandemia. Ao ser digitalizado pela câmera do smartphone, o código direciona automaticamente o usuário para a página utilizada para a transação e, no caso do Pix, já traz os dados necessários para efetuar o pagamento.
c) NFC (Perto de um campo de comunicação): Os pagamentos podem ser feitos por meio de tecnologias que permitem a troca de informações por aproximação.
5. Quanto custa fazer uma transferência através do Pix?
As transferências entre indivíduos são gratuitas. Na prática, isso significa que os clientes não precisarão mais pagar taxas TED ou DOC.
Os indivíduos também não cobram taxas ao fazer pagamentos aos comerciantes. O comerciante estará sujeito a taxas ao receber pagamentos. Mas, segundo o diretor do BC, as taxas devem ser bem menores do que as cobradas hoje. As transferências entre pessoas jurídicas também serão cobradas.
Segundo Duarte, as instituições financeiras que decidem quanto cobrar e os estabelecimentos comerciais poderão escolher as taxas que consideram mais justas para operar. O Banco Central não vai intervir na definição desses valores, como é o caso hoje.
“Com o cartão sabemos que parte da taxa fica com o credor, outra com o banco emissor e outra paga o banner do cartão. Em média, a operação de débito custa 1% para o estabelecimento. A taxa de Pix será menor ”, diz Duarte.
Como explica Gustavo Cunha, com o Pix qualquer varejista pode emitir um QR Code para receber um pagamento, você não precisará mais de intermediário.
“Sem a necessidade de máquinas de cartão, o custo do comerciante pode cair consideravelmente. Se isso levará a uma queda nos preços para o consumidor ou um aumento na margem de lucro para o comerciante é uma questão que será respondida nos próximos meses. A verdade é que as empresas envolvidas nesses processos de pagamento (emissores e subcredores) terão que se reinventar, como estamos vendo em inúmeros países ”, afirma.
Além disso, com Pix, o comerciante receberá os fundos imediatamente e não em dois ou 30 dias como nos cartões de débito e crédito, respectivamente.
6. Quando vou receber um Pix?
A velocidade de transferência é um requisito básico de qualidade que o Banco Central impôs e cobrará das instituições financeiras. Segundo Duarte, 50% de todas as transações devem ser concluídas em seis segundos; e 99% deve acontecer em dez segundos.
Assim, o tempo máximo que o consumidor levará para receber a transferência de um amigo, por exemplo, será de dez segundos. Duarte explicou que certamente haverá momentos de maior congestionamento do sistema, mas o Banco Central vai fiscalizar o cumprimento desse prazo.
7. Você tem um limite de valor?
Não há limite para o valor definido pelo Banco Central, mas, como acontece com outros tipos de operações, as próprias instituições financeiras podem estabelecer um teto, desde que não seja inferior ao já praticado nas demais modalidades de transferência.
Na prática, se um banco impõe um limite de R $ 5.000 por TED para o cliente A, o limite de Pix não pode ser inferior a esse valor para essa mesma pessoa.
Duarte explica que os limites serão adotados pelos bancos para manter a segurança das operações e devem seguir a mesma lógica das demais transações, que apresentam restrições de valor como forma de prevenir fraudes.
8. É seguro?
Gustavo Cunha afirma que as preocupações com a segurança são normais no meio do processo de digitalização. “O BC já tem experiências com o TED, por exemplo. Mas os limites são necessários. O repasse de R $ 5 mil não será autorizado às três da manhã por meio da conta de uma mulher que não costuma fazer transações de madrugada ”, exemplifica.
Os bancos e instituições financeiras também serão responsáveis pela segurança do sistema e aplicarão suas regras para evitar perdas financeiras.
“Os casos de fraude devem ser tratados pelas instituições financeiras, como funciona hoje com cartões de crédito. Mas o BC tem trabalhado para estabelecer padrões mínimos no tratamento das fraudes com as instituições ”, afirma Duarte.
Em relação ao receio de algumas pessoas, que acreditam que o BC estaria criando a Pix para ter acesso aos dados pessoais dos cidadãos, Duarte garante que as informações não serão utilizadas para fins comerciais ou para qualquer outra função que não seja o monitoramento do sistema.
“O BC já é o guardião do sigilo bancário no país. Armazenamos muito mais informações do que virá com Pix. Guardamos o segredo não só das transações de pagamento, mas também de todas as operações de crédito ”, explica o executivo do BC.
9. O que acontece se meu banco não participar?
Só será possível enviar e receber Pix por meio das instituições financeiras participantes do sistema, cadastradas no BC.
Para Pix se juntar à multidão, instituições com mais de 500.000 contas ativas tiveram que se registrar, conforme mencionado acima. Fazem parte desse grupo cerca de 30 empresas, responsáveis por quase 90% das transações financeiras do país. As outras instituições têm membros alternativos.
“A instituição que não aderiu: ou tem um modelo de negócio que não faz sentido para a Pix, como os bancos de investimento, que não fazem transações de varejo ou é obrigada a ficar fora do mercado e perder clientes, já que a maioria das empresas que os concorrentes vão oferecer ”, disse Duarte.
Diante do cenário, Cunha destaca que a possibilidade de um consumidor ficar de fora por não ter seu banco cadastrado no Pix é muito pequena.
10. É possível programar um Pix?
Sim. A função, denominada “Foto Agendada”, permitirá ao usuário agendar uma foto para uma determinada data futura, como é o caso hoje com o DOC e pagamento de voucher, por exemplo. E também será possível cancelar o agendamento até a data prevista para a realização da transação.
11. Posso fazer um Pix no exterior?
Não é possível. Pix não está conectado a sistemas no exterior, então o sistema funcionará inicialmente apenas em território nacional. Mas, segundo Duarte, há um projeto de longo prazo para viabilizar esse tipo de transação no futuro.
“Estamos lançando o Pix com o pacote básico, mas com o tempo muitos outros recursos serão lançados, já está no planejamento do Banco Central”, afirma o diretor do BC.
12. É possível fazer um Pix para minha conta na corretora?
Não será possível. Para este serviço, os clientes devem continuar a fazer um TED, como funciona hoje. “Mais tarde iremos avançar. Ainda não é possível. Começamos com um kit básico Pix. Tem agenda para os próximos anos e novas funcionalidades podem ser adicionadas ”, afirma Duarte.