BRASÍLIA, 30 de junho (Reuters) – A carreira política do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro foi abalada na sexta-feira, quando o Tribunal Federal Eleitoral (TSE) proibiu o nacionalista de extrema-direita de ocupar cargos públicos até 2030 por sua conduta durante as tensas eleições do ano passado.
Cinco dos sete juízes votaram para condenar Bolsonaro, 68, por abuso de poder e uso indevido da mídia por suas ações em julho de 2022, antes da eleição, quando convocou embaixadores para expor alegações infundadas sobre o sistema de votação eletrônica do Brasil.
Sua decisão marca uma reviravolta surpreendente para Bolsonaro, um populista feroz que perdeu por pouco a votação de outubro para seu rival esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva. Muitos no Brasil culpam Bolsonaro por criar um movimento nacional para derrubar o resultado, que culminou na invasão de prédios do governo em Brasília no dia 8 de janeiro por milhares de seus apoiadores.
O impacto da decisão do tribunal eleitoral provavelmente se espalhará pela política brasileira, removendo o principal inimigo de Lula da corrida em 2026 e abrindo espaço entre um campo competitivo na direita brasileira.
A equipe de Lula comemorou o resultado.
“Algumas mensagens importantes saem do julgamento do TSE: mentir não é uma ferramenta legítima para exercer uma função pública e a política não é regida pela lei da selva”, tuitou o ministro da Justiça, Flavio Dino. “A democracia passou em seu teste de estresse mais difícil em décadas.”
Bolsonaro negou irregularidades e seus advogados prometeram recorrer ao Supremo Tribunal Federal. Na sexta-feira, ele descreveu a decisão como uma “punhalada nas costas” e disse que continuaria trabalhando para promover a política de direita no Brasil.
Mas resta saber o que Bolsonaro, cuja marca pessoal se tornou cada vez mais tóxica no Brasil, fará a seguir.
Embora suas próprias esperanças de derrotar Lula em 2026 possam ter acabado, ele disse que apoiaria sua esposa, Michelle, como candidata. Ela é uma novata política, mas uma cristã evangélica declarada que pode ganhar o apoio de uma direita religiosa que desconfia de Lula.
“‘Nosso sonho está mais vivo do que nunca'”, escreveu ele no Instagram após a decisão. “Estou às suas ordens, meu CAPITÃO.”
Como presidente, Jair Bolsonaro, um admirador do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, atraiu críticas internacionais por sua gestão medíocre da floresta amazônica, sua abordagem laissez-faire às restrições do COVID-19 e seus ataques sem provas ao sistema eleitoral brasileiro.
O julgamento do TSE faz parte de um acerto de contas mais amplo no Brasil após a eleição mais dolorosa do país em uma geração. Enquanto o ex-presidente enfrentava o escrutínio do tribunal eleitoral, muitos de seus ex-aliados estão sendo questionados por legisladores em uma investigação do Congresso sobre os distúrbios de 8 de janeiro.
Bolsonaro também enfrenta várias investigações criminais que podem colocá-lo atrás das grades.
Reportagem de Ricardo Brito; Escrito por Gabriel Stargardter; Editado por Steven Grattan, Chizu Nomiyama e Rosalba O’Brien
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