As relações do Irã com o bloco bolivariano formado por Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, Peru e, mais recentemente, Brasil, têm se aquecido nos últimos anos.
O presidente Ebrahim Raeisi viajará no domingo a Cuba, Nicarágua e Venezuela para uma turnê pela América Latina, onde serão assinados documentos para expandir a cooperação bilateral em questões econômicas, políticas e científicas entre o Irã e os três países.
O envolvimento da República Islâmica na América Latina e no Caribe foi destacado sob o presidente Raeisi, conforme indicado por um “roteiro de cooperação” de 20 anos assinado durante uma visita de Estado do presidente venezuelano Nicolás Maduro a Teerã em junho de 2022.
O acordo, disseram então os dois presidentes, elevou as relações bilaterais ao patamar “estratégico”, ao abrigo do qual se acordaram estreitar laços nos sectores da energia, ciência e tecnologia, agricultura e turismo.
Em uma conferência conjunta, o presidente Raeisi disse que a política externa da República Islâmica do Irã sempre foi manter relações com países independentes.
Com a resistência e a anti-hegemonia sendo componentes-chave do ethos bolivariano, o cenário político na América Latina se afastou acentuadamente do Ocidente nos últimos anos.
Foi marcado por um sentimento geral de desilusão entre os cidadãos latino-americanos com os Estados Unidos, bem como por um aumento das atitudes antiliberais na região.
Esse sentimento foi provocado pelas contínuas lutas econômicas e pela insatisfação com as políticas liberais dos recentes governos pró-EUA.
A mudança deu ao Irã ampla oportunidade de ampliar suas relações com os países bolivarianos e buscar estreitar relações com países que recentemente reelegeram governos mais independentes, como Brasil, Chile e Colômbia.
No início do século XXI, o então presidente Mahmoud Ahmadinejad estabeleceu estreita relação com o venezuelano Hugo Chávez, cuja ideologia bolivariana se alinhava com os valores apresentados pela República Islâmica.
Foi por meio dessa parceria que o Irã desenvolveu alianças com outros líderes independentes, especificamente Rafael Correa, do Equador, e o presidente Evo Morales, da Bolívia.
Entre 2005 e 2012, foram assinados mais de 270 acordos, incluindo acordos comerciais sobre projetos de desenvolvimento, fabricação de veículos, políticas energéticas e programas bancários.
Em 2008, o Irã tornou-se membro da Aliança Boliviana para os Povos de Nossa América (ALBA), ideia de Chávez e do cubano Fidel Castro, como um ‘estado observador’.
As sementes lançadas nesse período frutificaram na era pós-Chávez na forma de uma cooperação econômica sustentada. O atual presidente da Venezuela, Maduro, promulgou uma política contínua de cooperação com o Irã, culminando no acordo de 20 anos. O Irã assinou acordos de cooperação econômica semelhantes com Cuba, Nicarágua e o novo governo boliviano na Colômbia.
Desde 2020, o Irã ajudou a consertar e reformar várias refinarias venezuelanas que sofreram décadas de má administração, baixo investimento e sanções.
Irã e Venezuela são membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). O petróleo, que contribui com quase metade dos orçamentos da Venezuela e do Irã, desempenhou um papel fundamental na natureza das relações econômicas entre os dois.
Sob um acordo de troca de petróleo assinado em 2021, o Irã enviou carregamentos de petróleo pesado para ajudar a Venezuela a aumentar a produção de petróleo e gás para evitar as crises de combustível que viu nos últimos anos.
O nível de cooperação bilateral entre empresas petrolíferas iranianas e venezuelanas em termos de exploração e petroquímica continua a crescer, com Teerã anunciando assistência na construção de plataformas para desenvolver campos de petróleo na região do delta do Orinoco, estimados em US$ 4 bilhões, para mudança de investimentos dentro Venezuela. .
A crescente relação do Irã com a região continua a depender da cooperação estratégica da Venezuela, Cuba e Nicarágua, que estão atualmente sujeitas a extensas sanções lideradas pelos Estados Unidos.
Teerã quer enfraquecer as tentativas dos EUA de isolá-lo e seus aliados internacionalmente, construindo interesses e capacidades conjuntas com países latino-americanos, bem como países como China e Rússia.
A cooperação econômica entre o Irã e essas nações prevalecerá ainda mais em 2023, depois que o Ocidente não conseguiu que os EUA voltassem a cumprir o acordo nuclear de 2015 e removessem as sanções à República Islâmica.
A visita programada do presidente Raeisi no domingo é certamente um passo nessa direção.