Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes na quarta-feira governou em favor do aplicativo de transporte privado Cabify em uma disputa sobre o status de emprego de um motorista. A Cabify deixou de operar no Brasil em 2021.
A decisão anulou uma decisão do Tribunal Regional do Trabalho favorável ao motorista e devolveu o caso às instâncias inferiores. Ao invés de julgar o mérito do recurso da Cabify, o desembargador Moraes decidiu que não era a Justiça do Trabalho o local adequado para o caso, mas sim a Justiça Comum. Ele não se aprofundou no mérito do caso.
No entanto, o juiz disse que o Supremo Tribunal tem consistentemente reconhecido relações de trabalho alternativas que não são cobertas pela legislação trabalhista da CLT (que rege as relações entre empregadores e empregados). A Justiça do Trabalho ignorou esse precedente, dando origem a mais um motivo para anular sua decisão.
Em suas alegações, a Cabify afirmou que “o motorista pode decidir quando e se fará um serviço” e que “não há exigência de jornada mínima de trabalho”.
Acrescentou que “a empresa nunca poderia ter contratado o motorista para realizar os serviços de transporte, uma vez que não presta serviços de transporte a passageiros”. Este é um elemento crucial dos argumentos das plataformas de compartilhamento de viagens de que o serviço que elas fornecem simplesmente conecta trabalhadores e clientes.
Em estudo citado pelo jornal financeiro Valor, a empresa de dados jurídicos Data Lawyer Insight contas mais de 21.700 casos que confrontam trabalhadores temporários e plataformas para sua relação de trabalho. Cerca de 7.000 chegaram a uma fase de veredicto, com cerca de dois terços deles seguindo o caminho das empresas.
Atualmente, existem sete ações judiciais coletivas envolvendo a questão em andamento, nenhuma com decisão final. Embora alguns juízes tenham reconhecido os trabalhadores como empregados, outros afirmaram que o que existe entre trabalhadores, mensageiros e plataformas é uma “relação contratual”.
No ano passado, o think tank Fairwork publicou um relatório qualificando as condições de trabalho oferecidas pelas plataformas no Brasil aos seus chamados “parceiros”. Nenhum dos dois fez o corte. Ainda assim, apesar das péssimas condições de trabalho, os motoristas de aplicativo podem não estar preparados para um vínculo formal de trabalho, sugere uma nova pesquisa do renomado instituto de pesquisas Datafolha.
Encomendada pelo Uber e iFood, o maior aplicativo de entrega do Brasil, a pesquisa revela as complexidades da regulamentação da economia gig, algo que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva priorizou.
Após ouvir 2.800 freelancers, o Datafolha constatou que 75% dos motoristas de aplicativo e 77% dos entregadores preferem manter o relacionamento atual com as plataformas, que os veem como autônomos, ao invés de ter um vínculo de emprego formal com eles como funcionários. .