Com o histórico de preços fora de controle e instabilidade financeira da região, os banqueiros centrais da América Latina devem permanecer prudentes e garantir que a queda ocorra tão suavemente quanto o ciclo ascendente. Dito isso, o argumento para cortes nas taxas está crescendo, particularmente no Brasil, a maior economia da região. (1)
Uma análise das taxas reais atuais e das expectativas de inflação mostra que existe o risco de aperto excessivo na economia da região, que deve desacelerar este ano e se recuperar apenas ligeiramente em 2024. Isso seria um erro não forçado. Os bancos centrais devem evitar manter as taxas em território apertado por muito tempo.
Veja o caso do Brasil. Ele elevou a taxa Selic pela primeira vez em março de 2021 e em 17 meses a trouxe para o patamar atual de 13,75%, onde está desde agosto. O aperto monetário ajudou a reduzir a inflação de uma alta de 12% para pouco mais de 4%.
Isso elevou as taxas de juros reais do Brasil (a taxa de juros menos a taxa de inflação) para mais de 9,5%, a mais alta entre um grupo de mais de 50 grandes países analisados pela Bloomberg. O próximo país da lista é a Ucrânia, com taxa real de 7,1%. (A Índia tem uma taxa real de 1,8% e os EUA têm apenas 0,35%). Mesmo considerando as expectativas de inflação, que os economistas prevêem que se recuperará para 6% até o final do ano, isso ainda dá ao Banco Central do Brasil algum espaço para baixar as taxas e reduzir os custos dos empréstimos.
No caso do México, a taxa real está em torno de 5%. Uma nova desaceleração da taxa de inflação aumentaria a diferença com a taxa de referência nominal, abrindo espaço para reduzir os custos de empréstimos. Alguns economistas veem isso acontecendo em novembro.
A situação da Colômbia, Chile e Peru é menos óbvia por enquanto, já que suas taxas reais ainda são bastante baixas ou mesmo negativas.
Sim, os formuladores de políticas na região também vão querer ver a inflação, particularmente em sua leitura de núcleo, que não caiu tão rápido quanto os preços principais, continuar a desacelerar. Mas a resiliência dos mercados de trabalho e o desempenho melhor do que o esperado neste ano atenuaram o processo de desinflação.
E depois há a política: no Brasil, o banco central está sob pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que repetidamente argumentou que as taxas devem cair rapidamente. E o presidente colombiano, Gustavo Petro, pediu na semana passada aos bancos comerciais que reduzissem suas taxas, argumentando que os aumentos do banco central colocam em risco a economia produtiva.
É claro que os banqueiros centrais vão querer garantir que sua autonomia seja respeitada e que não cedam à pressão política. Eles também vão querer evitar quaisquer reviravoltas embaraçosas que coloquem sua credibilidade em risco. Como Julio Velarde, do Peru, o banqueiro central mais antigo nas Américas, disse à Bloomberg News no mês passado: “O pior cenário para um banqueiro central é baixar a taxa de juros apenas para aumentá-la novamente dois ou três meses depois”.
É verdade. Ainda assim, os banqueiros centrais da região podem e devem começar a apontar um caminho para cortes futuros. Eles ganharam credibilidade nos últimos anos, quando reagiram de forma mais rápida e agressiva do que seus pares nos países desenvolvidos para evitar o pico da inflação pós-pandemia. Eles mostraram que possuem as habilidades de comunicação necessárias e não devem ter vergonha de usá-las.
Em outra parte da opinião da Bloomberg:
• Carnificina no México não tem solução militar: Shannon O’Neil
• O problema da Argentina é a má prática econômica: JP Spinetto
• Brasil, sim Brasil, aponta saída para a inflação: David Fickling
Para obter mais visualizações da Bloomberg, inscreva-se em nosso boletim informativo.
–Com a ajuda de Chris Middleton.
(1) Duas economias menores, Costa Rica e Uruguai, já reduziram as taxas em março e abril. A Colômbia, o último dos principais bancos centrais de metas de inflação da região a não parar de aumentar as taxas, deve fazê-lo em breve.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.
Juan Pablo Spinetto é editor-chefe da Bloomberg News para economia e governo na América Latina.
Mais histórias como esta estão disponíveis em bloomberg.com/opinion