Tim Vickerycorrespondente na América do Sul5 minutos de leitura
Depois de mais uma decepção na Copa do Mundo, o Brasil parece pronto, pela primeira vez em definitivo, para nomear um estrangeiro para assumir o comando da seleção. E o nome no topo de sua lista de desejos é Carlo Ancelotti. Mas há um problema. Ancelotti está feliz no Real Madrid, e continua a insistir na vontade de ver terminar o seu contrato, que termina no verão de 2024.
Portanto, só há uma maneira de ele repentinamente estar disponível para assumir o cargo no Brasil: se o Real Madrid decidir dispensar seus serviços. Tem havido alguma especulação de que isso poderia acontecer se o Real Madrid não conseguir defender o título da Liga dos Campeões que conquistou na temporada passada. Mas aqui estão eles nas quartas de final da competição. O adversário da semifinal, o Manchester City, pode fazer algo a respeito no próximo mês. Enquanto isso, o Brasil espera, porque, embora haja chance de pegar Ancelotti, eles acreditam que vale a pena esperar.
Isso não é uma surpresa. O italiano de 63 anos tem um currículo impressionante; quatro títulos da Liga dos Campeões (até o momento), além de vitórias em todas as cinco principais ligas europeias em suas temporadas na Juventus, AC Milan, Chelsea, Paris Saint-Germain, Bayern de Munique, Napoli e Everton, e suas duas temporadas em Madrid.
Mas, no caso de Ancelotti, o que o torna tão desejável para o Brasil vai muito além dos resultados. É a maneira como você conduz seus negócios.
Trazer um treinador estrangeiro é uma jogada ousada. Ao que tudo indica, não há resistência dos jogadores. Afinal, eles atuam em um ambiente globalizado, com camarins multiculturais e multilíngues. E alguns dos grandes nomes já têm um ótimo relacionamento com ele. Vinicius Junior, por exemplo, deixa claro que quer continuar trabalhando com Ancelotti, seja no clube, seja na seleção.
Mas haverá muita resistência à ideia de que talvez o principal símbolo da nação seja colocado em mãos estrangeiras. A fraternidade brasileira de treinadores não ficará impressionada, nem seções da imprensa nacional. E os mais velhos, aqueles que não cresceram com o jogo globalizado de hoje, também podem ter dúvidas. Portanto, o primeiro chefe estrangeiro do Brasil terá que ser uma espécie de diplomata, função para a qual Ancelotti nasceu.
É fácil olhar para jogadores como Pep Guardiola e José Mourinho e ver o quanto o estresse do treinamento de elite os envelheceu. Não Ancelotti. Seu estilo de liderança é suave, discreto. A mandíbula de ferro continua mastigando o chiclete, há o estranho arco sardônico de uma sobrancelha e os títulos continuam rolando.
Talvez uma experiência formativa como técnico tenha sido sua incapacidade de incorporar os talentos do craque italiano Roberto Baggio em seu então rígido sistema 4-4-2. O mais maduro Ancelotti tem sido um modelo de flexibilidade silenciosa, trabalhando com astúcia com o que tem, em vez de tentar dobrar o mundo à sua vontade. Ele o fez de forma tão eficaz que alguns se perguntam o que ele realmente faz.
Ancelotti é um exemplo vivo da afirmação de Gene Kelly de que, se parece que você está trabalhando, é porque não está trabalhando o suficiente. Carlo Ancelotti, então, desviaria alguns dos ataques baseados no nacionalismo brasileiro ferido, e sem dúvida logo teria os jogadores na palma da mão.
Mas nem mesmo Ancelotti pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Então o que o Brasil faz? Eles estão torcendo pelo Manchester City ou confiam no presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, para balançar o machado? Você acredita que Ancelotti aceitaria sua oferta se estivesse disponível?
As eliminatórias para a Copa do Mundo começam em setembro, com uma Copa América marcada para meados do ano que vem. É certo que a pressão não será das maiores: com a Copa do Mundo espalhada por 48 nações, é quase impossível imaginar que o Brasil não conseguirá entrar na disputa. E a Copa América não é tão importante no Brasil quanto na maioria dos outros países do continente. A Copa do Mundo de 2026 será o verdadeiro parâmetro para qualquer decisão da CBF.
Poderia haver um candidato rival em Jorge Jesus, o português que teve uma passagem tão mágica no comando do gigante carioca Flamengo em 2019. Ele está atualmente no Fenerbahce, na Turquia, e parecia não ter pressa em se colocar à disposição para o cargo no Flamengo quando ele chegou. . Foi recentemente colocado à venda. Apostar em uma aproximação da CBF?
Talvez tudo se resolva em um mês. Terão sido disputadas as semifinais da Liga dos Campeões, saberemos se o Real Madrid ainda está vivo ou não na competição, e se foi eliminado, podemos saber como Pérez reagirá. Até lá, a única garantia é que Ancelotti continuará mascando chiclete e levantando aquela sobrancelha icônica.