(Opinião da Bloomberg) — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os principais membros do gabinete passaram o dia antes de o banco central do Brasil definir as taxas de juros repreendendo sua política monetária em uma série de entrevistas à mídia e aparições públicas.
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A taxa de referência de 13,75% é “absurda”, bradou Lula em entrevista televisionada na manhã desta terça-feira, e os políticos são “irresponsáveis” por mantê-la lá.
Horas depois, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, descreveu as taxas de juros brasileiras como “excessivamente altas” em evento realizado na sede do BNDES, no Rio de Janeiro.
A enxurrada de ataques ocorre quando o governo elabora uma nova estrutura fiscal para fortalecer as finanças do Brasil e diminuir as preocupações com os gastos públicos. Poucos detalhes foram revelados sobre o tão esperado plano. Mas os comentários públicos da equipe econômica de Lula sobre a proposta se concentraram mais em como ela ajudaria a reduzir os custos de empréstimos e menos em seus efeitos orçamentários.
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Haddad comparou os atuais juros do país a uma “gordura” que pesa na economia. Ele também minimizou as preocupações com o aumento dos preços ao consumidor, agora em 5,6% ao ano, mesmo com os analistas cada vez mais pessimistas sobre as perspectivas de longo prazo.
“A inflação está mais sob controle no Brasil do que em qualquer lugar do mundo”, disse Haddad por videochamada de Brasília.
Embora os membros do gabinete tenham sinalizado anteriormente que novas regras fiscais seriam publicadas esta semana, Lula disse na terça-feira que elas serão liberadas depois que ele retornar de uma viagem à China no final do mês.
Desde que assumiu seu terceiro mandato em 1º de janeiro, Lula criticou o nível das taxas de juros do Brasil, agora no maior nível em seis anos, como um grande obstáculo ao crescimento. O líder esquerdista e seus aliados dizem que os altos custos dos empréstimos estão atrasando os investimentos e prejudicando os pobres do país, e eles regularmente descarregam suas frustrações no banco central e em seu presidente, Roberto Campos Neto.
sem cortes à vista
Até agora, os furos não influenciaram a política monetária. O Banco Central do Brasil goza de autonomia graças à legislação aprovada em 2021, e os formuladores de políticas devem manter a Selic inalterada quando concluírem sua reunião de decisão de taxa na quarta-feira.
Mas o impasse levantou preocupações dos investidores de que Lula, 77 anos, está tentando submeter a autoridade monetária à sua vontade. A economia do Brasil está falhando e o espectro de uma recessão está colocando em risco as ambiciosas promessas do presidente de melhorar os padrões de vida.
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Outros temem que Lula esteja se distraindo de colocar as contas públicas em ordem em um momento em que a dívida bruta do Brasil está em 73,1% do produto interno bruto, já bem acima de muitos países emergentes, e deve subir para 80% até 2026. segundo estimativas do governo.
Nesta semana, o governo e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais, um think tank, convidaram renomados empresários e economistas, incluindo o Prêmio Nobel Joseph Stiglitz e Jeffrey Sachs, para discutir política tributária durante os dois dias de evento no BNDES. Em vez disso, as discussões se concentraram principalmente nos efeitos negativos dos altos custos de empréstimos do Brasil, com a maioria dos participantes aderindo às críticas do governo.
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Sachs, um professor da Universidade de Columbia, disse que as taxas de juros do Brasil são “extraordinariamente altas” e que é “muito difícil entender ou justificar a ideia de que o Brasil está sentado em um barril de alta inflação”.
Independentemente da justificativa do banco central para suas decisões, Lula admitiu na terça-feira que pode não conseguir mudar sua estratégia até o fim do mandato de Campos Neto, em 2024. No entanto, ele não tem intenção de ceder enquanto isso.
“Vou continuar batendo, continuar lutando para reduzir as taxas para a economia”, afirmou.
–Com assessoria de Daniel Carvalho e Bruna Lessa.
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