Uma carta do Brasil: onde está de volta uma grande invenção da democracia

O senador brasileiro Humberto Costa relembra os sucessos do orçamento participativo, em que os brasileiros se reuniam todos os dias para decidir partes dos orçamentos de seus governos locais, e por que ele precisa ser amplamente implementado mais uma vez. cortesia de redação AP.

Quais são os obstáculos e as oportunidades que a democracia enfrenta hoje? Zócalo está publicando uma série de cartas para destacar como os ideais democráticos do mundo estão se saindo na prática. Do Brasil: O senador Humberto Costa escreve sobre os esforços para remobilizar uma das ideias democráticas emblemáticas de seu país: o orçamento participativo.

Uma das grandes inovações democráticas do mundo está prestes a fazer uma grande volta no lugar onde foi inventada: meu país, o Brasil.

E a história da ascensão, queda e renascimento dessa inovação oferece lições para o mundo.

O orçamento participativo foi uma criação do Brasil, introduzido pela primeira vez em Porto Alegre em 1990. Sob o orçamento participativo, os brasileiros se reuniam todos os dias e decidiam como gastar parte dos orçamentos de seus governos locais. Reuniões e discussões não eram um trabalho fácil, mas as pessoas gostavam de ter poder. Assim a ideia se espalhou rapidamente por outras cidades, com o apoio do Partido dos Trabalhadores, do qual eu era filiado.

Na época, o Partido dos Trabalhadores estava fora do poder nacionalmente, mas tínhamos muitos prefeitos e governadores em nossas fileiras. O orçamento participativo fez parte dos nossos esforços para engajar mais brasileiros onde eles vivem.

Nos anos 2000, vi de perto o orçamento participativo em Recife, minha cidade, capital da província do nordeste de Pernambuco. Nós o usamos extensivamente em nível de bairro, para que as pessoas pudessem definir prioridades de gastos e escolher projetos específicos que desejassem realizar.

Eu estava no governo na época, trabalhando em questões de saúde, e ficamos intrigados e muitas vezes surpresos com as decisões que as pessoas estavam tomando. Em muitas situações, assumimos que as pessoas tinham um conjunto de prioridades, mas os critérios encontrados eram totalmente diferentes quando de fato pedíamos que tomassem uma decisão.

Uma das grandes inovações democráticas do mundo está prestes a fazer uma grande volta no lugar onde foi inventada: meu país, o Brasil.

Em um exemplo, pensamos que um grupo de bairros poderia priorizar a construção de um posto ou posto de saúde pública. Mas, por meio de um processo de orçamento participativo, as pessoas dos bairros indicaram que realmente queriam algo diferente: uma extensão de um programa existente chamado “Gymnasio de la Ciudad” que oferecia espaço para recreação e exercícios.

Construir uma academia na cidade deu a eles um lugar para cuidar da saúde, correr, caminhar e encontrar os amigos. Os cidadãos também queriam equipamentos para exercícios. O orçamento participativo deu-lhes o poder de conseguir o que queriam. Também parecia melhorar a saúde, reduzindo o estresse e o risco de diabetes. um internacional avaliação recomendou o programa “City Gym” a outros países.

Observando o processo de elaboração do orçamento participativo, nós que trabalhamos na saúde pública aprendemos que tínhamos que ouvir as pessoas. Ampliamos outros programas que os cidadãos nos disseram que queriam, como o Programa de Saúde da Família, uma equipe de programa nacional composta por médicos que pensa e oferece atenção primária. Também aprendemos que precisávamos conversar com as pessoas com mais frequência se quiséssemos convencê-las a priorizar os gastos em uma área que queríamos promover.

O orçamento participativo fez tanto sucesso nas comunidades locais no Brasil que se espalhou pelo mundo, para mais de 11.000 comunidades, de acordo com um atlas documentando o processo. Os processos de orçamento participativo ganharam muitos prêmios por sua inovação e comprometimento.

Mas no Brasil, seu berço, o uso do processo diminuiu. O que aconteceu? Houve resistência de autoridades que não queriam ceder o poder ao povo, ou que achavam o processo difícil de instaurar. As prioridades do meu partido mudaram. À medida que ganhamos a eleição presidencial e assumimos o poder em nível nacional, perdemos o interesse na Câmara Municipal e no governo estadual.

Isto foi um erro enorme. Quando o orçamento participativo declinou, as pessoas se tornaram menos engajadas e menos organizadas. E isso fez com que, quando a extrema-direita chegasse ao poder, o povo não se mobilizasse para resistir. Democracia é algo que requer prática.

O Partido dos Trabalhadores acaba de ganhar a presidência novamente. Mas desta vez, não estamos repetindo nosso erro. Agora sou senador, e orçamento participativo e programas democráticos como este são uma grande parte do que estamos trabalhando.

De fato, nosso novo presidente, Lula, está preparando um programa de orçamento participativo para a nação. É um tema importante nas discussões no nível do governo federal, onde esperamos aplicá-lo ao planejamento orçamentário quadrienal.

Eu gostaria de vê-lo mais amplamente utilizado para a tomada de decisão em cada estado e também nos municípios. Essa participação pode ajudar a definir prioridades para abordar muitas questões, incluindo saúde, educação e segurança pública.

Não será fácil criar este processo a nível nacional. Vai demorar um pouco. Mas é um passo importante. É hora de remobilizar essa ideia tão característica do Brasil para que os brasileiros possam mais uma vez definir suas próprias prioridades e tomar suas próprias decisões sobre o futuro.

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About the Author: Adriana Costa

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