Por Jeffrey T. Lewis
SÃO PAULO – A proposta do governo brasileiro de limitar os gastos e equilibrar seu orçamento primário no próximo ano, ao mesmo tempo em que aumenta o financiamento para ajudar os residentes mais pobres do país, é um passo na direção certa, apesar da falta de detalhes importantes, disseram economistas.
A nova estrutura fiscal define as regras que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve seguir enquanto trabalha para impulsionar o crescimento econômico e o investimento do governo enquanto tenta manter os déficits e a dívida sob controle.
As prioridades de gastos do esquerdista Da Silva levantaram preocupações entre os investidores e o Banco Central do Brasil sobre o efeito que teriam sobre a inflação, embora os mercados financeiros tenham reagido com calma após a divulgação dos detalhes da estrutura, com as ações subindo cerca de 1,4% no pregão do meio da tarde e o Real brasileiro mais forte em relação ao dólar.
Pelas regras anunciadas na quinta-feira, uma vez aprovadas pelo Congresso, o governo pode aumentar os gastos a cada ano em 70% do valor que a receita aumentou no ano anterior. Se o governo ultrapassar esse limite de gastos, no ano seguinte só poderá aumentar os gastos em 50% do aumento de receita do ano anterior.
“Focar em uma regra de gastos é positivo, isso é mais importante do que uma regra de dívida porque a dívida pode flutuar” devido a outros fatores além dos gastos do governo, disse Roberto Secemski, economista do Barclays. “As diretrizes gerais do arcabouço são boas, mas precisamos ver os detalhes assim que a minuta for submetida ao Congresso, para ver como esses mecanismos serão aplicados.”
O Congresso do Brasil aprovou em dezembro, antes da posse de Silva, uma emenda constitucional que permite ao governo aumentar os gastos acima do limite estabelecido em uma emenda anterior. Desde que assumiu o cargo, o Sr. da Silva defendeu o aumento dos gastos com educação, saúde e investimentos para ajudar a impulsionar o crescimento.
Uma preocupação é como o governo definirá o investimento, disse Nicolas Borsoi, economista-chefe da corretora Nova Futura. A estrutura estabelece um piso para os gastos com investimentos, o que pode permitir ao governo evitar alguns tetos de gastos classificando os gastos com educação ou saúde como investimento, disse ele.
“Lula tem dito que considera esses segmentos do orçamento um investimento. Na prática, isso significaria que não há muito limite de gastos”, disse, acrescentando que tem algumas dúvidas sobre os objetivos do governo de publicar uma primária orçamento. superávit até 2025. “Eles não mostraram como vão aumentar a receita. Ainda há muita incerteza.”
O saldo primário do orçamento exclui os pagamentos de juros do cálculo e é uma medida da capacidade do governo de reduzir a dívida. O governo espera reduzir seu déficit orçamentário primário para 0,5% do produto interno bruto este ano.
Os limites do déficit primário terão uma faixa de tolerância de 0,25% do PIB em qualquer sentido, medida que visa aumentar a flexibilidade do governo. A meta do governo é ter um orçamento primário equilibrado em 2024, superávit primário de 0,5% do PIB em 2025 e superávit primário de 1,0% do PIB em 2026, último ano do atual mandato de Da. Silva.
O governo também estabeleceu a meta de estabilizar e depois reduzir o nível da dívida como parcela do PIB. Essa é uma meta positiva, mas pode não acontecer tão rapidamente quanto o governo espera, disse Flavio Serrano, economista da BlueLine Asset Management.
“A estrutura tem elementos positivos, como limitar os gastos a menos do que o crescimento da receita. Portanto, com o tempo, os níveis de dívida devem evoluir positivamente”, disse ele. “Em uma situação de crescimento econômico normal, vai ajudar a estabilizar o nível da dívida. O problema é que o Brasil tem um crescimento econômico volátil, e isso pode significar que a estabilização da dívida pode demorar mais.”
Escreva para Jeffrey T. Lewis em [email protected]