BRASÍLIA, 30 de março (Reuters) – O ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, que nunca admitiu derrota nas eleições do ano passado, retorna de seu exílio auto-imposto na Flórida nesta quinta-feira para liderar a oposição ao presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva.
Milhares de torcedores são esperados para recebê-lo no aeroporto de Brasília quando ele chegar por volta das 7h (10h GMT) de Orlando. As autoridades reforçaram a segurança, interrompendo o tráfego ao longo do centro comercial da capital para evitar o risco de protestos violentos.
Antes de embarcar em um avião em Orlando, Bolsonaro minimizou seu papel de liderança, dizendo que usará sua experiência para ajudar sua campanha do Partido Liberal nas eleições locais, acrescentando que a votação de outubro que perdeu foi um capítulo encerrado.
“Viramos a página e agora vamos nos preparar para as eleições do ano que vem”, disse à CNN Brasil.
Bolsonaro partiu para os Estados Unidos dois dias antes da entrega da faixa presidencial a Lula, em 1º de janeiro. Ele disse que precisava descansar, mas os críticos dizem que ele estava evitando os riscos de mais de uma dezena de investigações legais que poderia enfrentar no Brasil. .
As investigações legais se concentraram em seus ataques ao sistema de votação do Brasil e seu suposto papel em encorajar apoiadores a invadir prédios do governo nos distúrbios de 8 de janeiro que relembraram a invasão do Capitólio dos Estados Unidos em 2021.
Bolsonaro, que tem o ex-presidente dos EUA Donald Trump como seu ídolo político, participou da Conferência de Ação Política Conservadora este mês em Washington, onde questionou o resultado da eleição de outubro de Lula, vencida por pouco, e disse que sua missão no Brasil “ainda não acabou”.
O populista de 68 anos vai viajar do aeroporto até a sede do conservador Partido Liberal (PL), que se tornou o maior do Congresso brasileiro seguindo os passos de Bolsonaro nas últimas eleições.
Seu retorno ao Brasil é aguardado com ansiedade pelo líder partidário Valdemar Costa Neto, que quer que Bolsonaro se torne o líder da oposição ao governo Lula e lidere o PL nas eleições municipais do ano que vem.
Costa Neto disse que Bolsonaro estava perdendo capital político ao permanecer na Flórida e espera que seu partido triplique sua lista de prefeitos eleitos em todo o Brasil com a ajuda do ex-presidente, que pode atrair multidões ao inflamar o sentimento anti-Lula.
“Bolsonaro vai liderar a oposição e viajar pelo Brasil pregando os valores liberais do partido e ajudando o PL a crescer”, disse ele à Reuters, delineando um plano para um retorno da direita nas eleições presidenciais de 2026.
SONDAS
Mobilizar os 58 milhões de eleitores que o apoiaram no ano passado não será uma tarefa fácil para o ex-capitão do Exército, segundo analistas políticos. Muitos potenciais rivais da direita têm a vantagem de ocupar cargos públicos nos próximos anos.
“Se Bolsonaro não puder mostrar rapidamente que pode liderar, a direita procurará outros líderes, como os governadores de São Paulo e Minas Gerais”, disse André Cesar, da Hold Legislative Advisors, uma consultoria de políticas públicas.
Bolsonaro também prejudicou sua posição com muitos partidos de centro-direita após os distúrbios de 8 de janeiro por seus apoiadores e as investigações sobre seus ataques à democracia brasileira, disse Leonardo Barreto, da Vector Consultancy em Brasília.
Sua reputação como um cruzado anticorrupção foi manchada por uma suposta tentativa de receber presentes de $ 3,2 milhões em joias do rei da Arábia Saudita que foram apreendidos por funcionários da alfândega em 2021 porque não haviam sido declarados.
Bolsonaro também deve calibrar seus planos com a popularidade de sua esposa Michelle, que está emergindo como uma figura carismática liderando o alcance do PL para as mulheres. Barreto disse que suas ambições podem fornecer uma saída para os apoiadores do ex-presidente se as investigações legais levarem as autoridades eleitorais a impedi-lo de concorrer ao cargo.
Reportagem de Anthony Boadle e Ricardo Brito Edição de Brad Haynes e Aurora Ellis
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