BC do Brasil mantém juros e sinaliza expectativas de inflação mais altas

BRASÍLIA, 22 Mar (Reuters) – O Banco Central do Brasil citou expectativas crescentes de inflação ao manter as taxas de juros inalteradas pela quinta reunião consecutiva de política monetária nesta quarta-feira, provocando preocupação do governo e enfraquecendo as apostas de afrouxamento monetário iminente.

O comitê de fixação de taxas do banco, conhecido como Copom, manteve sua taxa básica de juros Selic em 13,75%.

A decisão, que desafiou a intensa pressão do novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para cortar custos de empréstimos, correspondeu às expectativas de 30 entrevistados em uma pesquisa da Reuters.

“Levando em conta a incerteza dos cenários, o comitê segue atento, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa Selic por um longo período será suficiente para garantir a convergência da inflação”, escreveram os formuladores de política monetária em seu comunicado.

“O Comitê enfatiza que persistirá até que o processo desinflacionário se consolide e as expectativas de inflação estejam ancoradas em torno de suas metas, que têm apresentado deterioração adicional, especialmente em horizontes mais longos”, acrescentaram.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou a declaração, dizendo que era “muito preocupante” e que a próxima decisão do banco central poderia colocar em “risco” a posição fiscal do país.

“O Copom aponta, inclusive, para a possibilidade de aumento da taxa de juros, que hoje já é a mais alta do mundo”, disse ele a repórteres, referindo-se à insistência dos políticos de que não hesitariam em retomar os aumentos caso a desinflação não diminuísse ocorrer como esperado. .

Haddad disse ainda que a inflação brasileira está mais sob controle do que a de outros países em desenvolvimento e que as expectativas de inflação podem ser reduzidas rapidamente diante de novos eventos.

David Beker, chefe de estratégia para a América Latina do Bank of America, disse em nota aos clientes que ainda vê o ciclo de flexibilização começando em maio, mas com “riscos maiores de atraso, dado o tom do comunicado”.

Vários economistas esperavam que o banco central mencionasse os desafios na economia global, o que poderia criar espaço para cortes nas taxas começarem mais cedo do que o esperado, após o fechamento de bancos norte-americanos de alto perfil e o resgate do Credit Suisse.

O banco central reconheceu a piora do ambiente global em meio à turbulência bancária, mas enfatizou que os dados recentes sobre a atividade global e a inflação permaneceram resilientes.

O banco destacou ainda que o processo de aperto da política monetária nas principais economias continuou avançando, após a decisão do Federal Reserve de continuar elevando as taxas de juros nos Estados Unidos.

“Pela expectativa, achei a afirmação mais dura”, disse Gustavo Arruda, diretor de Research para a América Latina do BNP Paribas.

“Isso provavelmente diminuirá a probabilidade de cenários de corte de juros nas próximas reuniões de política”, acrescentou, prevendo taxas inalteradas até maio do ano que vem.

Embora os formuladores de políticas enfatizassem que a decisão do governo de retomar os impostos sobre os combustíveis ajudou a melhorar as contas públicas, eles disseram que os mercados financeiros altamente voláteis e as expectativas de inflação de longo prazo além de suas metas “exigem mais atenção ao conduzir a política monetária.

A inflação esfriou para 5,6% nos 12 meses até fevereiro, mas ainda está bem acima da meta oficial de 3,25% para este ano. Enquanto isso, as expectativas de inflação do banco central subiram para 5,8% para 2023 e 3,6% para 2024. No próximo ano, a meta é de 3%.

Lula tem repetidamente pedido que os custos dos empréstimos sejam cortados, descrevendo a atual taxa Selic como “irresponsável” na terça-feira. Sinalizando as críticas que se seguirão, o seu chefe de gabinete, Rui Costa, afirmou na noite de quarta-feira que a decisão política “só aumenta o desemprego e o sofrimento do povo brasileiro”.

Lula adiou uma proposta de novas regras fiscais para controlar os níveis da dívida pública, um dos vários riscos inflacionários sinalizados pelo banco central.

Reportagem de Marcela Ayres e Víctor Borges; Editado por Richard Chang e Stephen Coates

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