O Supremo Tribunal do Brasil deve investigar o ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro por tumultos e saques de prédios do governo em Brasília nesta semana.
Em uma decisão na sexta-feira, o tribunal aprovou um pedido do gabinete do procurador-geral para incluir Bolsonaro em uma investigação em rápida expansão sobre os distúrbios antidemocráticos de 8 de janeiro.
Ao fazer isso, “Bolsonaro teria incitado publicamente a prática de um crime”, disse o procurador-geral em nota, acusando o ex-presidente de “instigação e autoria intelectual” dos distúrbios.
O desenvolvimento ocorreu depois que apoiadores de Bolsonaro saquearam o palácio presidencial, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso. O vídeo de Bolsonaro viralizou dois dias após o violento ataque, mas foi deletado posteriormente.
Bolsonaro negou qualquer envolvimento nos distúrbios. Em memorando publicado na sexta-feira, Bolsonaro afirmou que “não tinha nenhuma relação ou envolvimento com esses movimentos”, culpando os infiltrados pelos incidentes.
Durante anos, Bolsonaro procurou lançar dúvidas sobre a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro. Ele nunca confirmou a vitória do novo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e partiu para os Estados Unidos dois dias antes da posse de seu sucessor.
As autoridades brasileiras estão tentando identificar os mentores e financiadores dos violentos distúrbios que têm muitas semelhanças com o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos Estados Unidos.
Anderson Torres, que foi o último ministro da Justiça de Bolsonaro, é procurado pelo STF sob a acusação de “conluio” com os manifestantes.
Ele também é acusado de “inércia” em seu último emprego como chefe de segurança da capital Brasília, que foi alvo da ira destrutiva dos manifestantes.
Assim como Bolsonaro, Torres também estava no Brasil na época do levante e as autoridades judiciais ainda aguardam seu retorno ao país.
O novo ministro da Justiça de Lula, Flavio Dino, que substituiu Torres, disse na sexta-feira que as autoridades dariam a Torres uma pausa de três dias até segunda-feira para comparecer.
Caso não compareça, “através de mecanismos internacionais, iniciaremos o processo de extradição na próxima semana, já que existe um mandado de prisão”, disse Dino a repórteres na capital.
Lula assumiu o cargo em 1º de janeiro, lançando uma enxurrada de críticas contra Bolsonaro pelo que chamou de flagrante má condução dos assuntos do país por seu antecessor durante seu mandato.
Lula disse ter recebido um país arruinado, cujo governo anterior esgotou todos os recursos e violou os direitos humanos.
O líder esquerdista também acusou o governo “negacionista” de Bolsonaro de cometer “genocídio” ao não responder adequadamente à pandemia do COVID-19, que já matou mais de 680.000 brasileiros.
Bolsonaro fugiu para a Flórida dois dias antes do fim do mandato, supostamente para evitar passar pela cerimônia de entrega da faixa presidencial a Lula.