Brasil patrulha prédios do governo recuperados

As forças de segurança brasileiras fecharam a área ao redor do Congresso, do palácio presidencial e do Supremo Tribunal Federal na segunda-feira, um dia depois que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram a sede do poder em um motim que provocou protestos internacionais.

Em cenas impressionantes que lembram a invasão do prédio do Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021 por apoiadores do então presidente Donald Trump, apoiadores de Bolsonaro romperam cordões policiais e invadiram as sedes do poder em Brasília, quebrando janelas e portas e saqueando escritórios.

As forças de segurança inicialmente sobrecarregadas usaram gás lacrimogêneo, granadas de efeito moral e canhões de água para repelir os manifestantes até finalmente subjugá-los.

O recém-empossado presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o veterano esquerdista que venceu por pouco as amargas e divisivas eleições brasileiras de outubro, condenou as invasões como um ataque “fascista”.

Enquanto isso, o direitista Bolsonaro condenou o “saque e invasão de prédios públicos” em um tweet. Mas o político apelidado de “Trump Tropical” rejeitou a afirmação de Lula de que ele incitou os ataques e defendeu o direito a “manifestações pacíficas”.

Lula, que estava na cidade de Araraquara, no sudeste do país, visitando uma região afetada por fortes enchentes, assinou um decreto declarando a intervenção federal em Brasília, concedendo ao seu governo poderes especiais sobre a polícia local para restabelecer a lei e a ordem na capital.

“Esses fanáticos fascistas fizeram algo nunca antes visto na história deste país”, disse Lula, 77 anos, que assumiu o cargo há uma semana.

“Vamos descobrir quem são esses vândalos e eles serão presos com toda a força da lei.”

Lula voltou a Brasília e viu os estragos no palácio presidencial e no STF. Ele disse que trabalharia fora do palácio na segunda-feira, apesar de toda a destruição.

A polícia fez 170 prisões, de acordo com reportagens da imprensa.

Imagens de televisão mostraram a polícia conduzindo apoiadores de Bolsonaro em fila indiana até a rampa do palácio presidencial do Planalto, a mesma rampa que Lula escalou uma semana antes em sua posse.

O serviço de segurança do Senado disse ter prendido 30 pessoas na Câmara.

– Chefe de segurança de Brasília demitido –

O caos se instalou depois que um mar de manifestantes vestidos com camuflagem militar e o verde e amarelo da bandeira inundou a Praça dos Três Poderes, em Brasília, invadiu o plenário, vandalizou o prédio do STF e subiu a rampa do Planalto.

Imagens de mídia social mostraram manifestantes quebrando portas e janelas para entrar no prédio do Capitólio, em seguida, invadindo, vandalizando os escritórios dos legisladores e usando o estrado inclinado do alto-falante no plenário do Senado como um slide enquanto gritavam insultos dirigidos aos legisladores ausentes.

Os manifestantes danificaram obras de arte, objetos históricos, móveis e decorações enquanto atravessavam prédios, segundo relatos da mídia brasileira.

Um vídeo mostrou uma multidão do lado de fora puxando um policial de seu cavalo e jogando-o no chão.

A polícia, que havia estabelecido um cordão de segurança ao redor da praça, disparou gás lacrimogêneo na tentativa de dispersar os manifestantes, inicialmente sem sucesso.

Um sindicato de jornalistas disse que pelo menos cinco repórteres foram atacados, incluindo um fotógrafo da AFP que foi espancado por manifestantes e teve seu equipamento roubado.

Os radicais de Bolsonaro têm protestado do lado de fora das bases militares pedindo intervenção militar para impedir que Lula assuma o poder desde sua vitória eleitoral.

O governo Lula prometeu encontrar e prender os que planejaram e financiaram os ataques.

O governador de Brasília, Ibaneis Rocha, demitiu o chefe de segurança pública da capital, Anderson Torres, que já atuou como ministro da Justiça de Bolsonaro.

A Procuradoria-Geral da República informou que solicitou à Suprema Corte a emissão de mandados de prisão contra Torres “e todos os outros funcionários públicos responsáveis ​​por atos e omissões” que levaram aos distúrbios.

Ele também pediu ao tribunal superior que autorize o uso de “todas as forças de segurança pública” para retomar os prédios federais e dispersar os protestos antigovernamentais em todo o país.

– ‘Eleição fraudulenta’ –

A manifestante Sarah Lima disse à AFP que eles exigiam uma revisão da “eleição fraudada”.

Lula venceu o segundo turno por uma margem estreita de 50,9 por cento a 49,1 por cento. Bolsonaro, que partiu para o estado americano da Flórida no penúltimo dia de seu mandato, alegou que é vítima de uma conspiração contra ele por parte dos tribunais e autoridades eleitorais no Brasil.

“Estou aqui pela história, pelas minhas filhas”, disse Lima, 27 anos, vestindo a camisa amarela da seleção brasileira de futebol, um símbolo que os apoiadores de Bolsonaro reivindicaram como seu, e protestando com suas filhas gêmeas.

Outro manifestante, Rogério Souza Marcos, disse que a eleição foi atormentada por “vários sinais de fraude e corrupção”.

O recém-empossado ministro da Justiça e Segurança Pública, Flavio Dino, descreveu a invasão como “uma tentativa absurda de impor a vontade (dos manifestantes) pela força”.

“Não vai prevalecer”, escreveu ele no Twitter.

Houve uma rápida condenação internacional dos manifestantes.

As Nações Unidas disseram que “condenam veementemente” os ataques.

O presidente dos EUA, Joe Biden, chamou as cenas de “escandalosas”, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, twittou sua “condenação absoluta”, e o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu respeito às instituições brasileiras e enviou Lula ao “apoio inabalável da França”.

Até mesmo a primeira-ministra de extrema-direita da Itália, Giorgia Meloni, condenou os distúrbios.
Uma série de líderes latino-americanos se juntou a eles, com o presidente chileno Gabriel Boric condenando um “ataque covarde e vil à democracia” e o mexicano Andrés Manuel López Obrador chamando-o de “tentativa de golpe repreensível”.

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