BRASÍLIA, 26 Dez (Reuters) – Os resgates de títulos soberanos com taxas flutuantes do Brasil atingirão um recorde histórico no próximo ano, ressaltando o desafio fiscal enfrentado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ao elevar o teto de gastos para financiar um pacote de bem-estar.
Os resgates dos títulos LFT, atrelados a taxas de juros referenciais, chegarão a R$ 464 bilhões (US$ 89 bilhões) em 2023, com vencimento de R$ 178 bilhões em março e R$ 286 bilhões em setembro.
Os mercados financeiros esperavam que a taxa de referência do banco central – atualmente em 13,75% – caísse em março, mas começaram a precificar uma alta desde que Lula apresentou seu pacote social, que dribla o limite constitucional de gastos e que o Congresso aprovou na semana passada.
Agora eles esperam que as taxas fiquem em dois dígitos até 2033 .
O ex-secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, indicou taxas de juros reais -corrigidas pela inflação- superiores a 6% no longo prazo.
“Se o próximo governo não apresentar e esclarecer uma nova regra fiscal logo, vamos ficar com essa taxa de juros muito alta”, disse Mansueto, hoje economista-chefe do BTG Pactual.
“Isso tem que mudar. Caso contrário, vai prejudicar muito o investimento privado e levar a uma trajetória muito preocupante de crescimento da dívida pública.”
A dívida pública do Brasil deve fechar este ano em torno de 74% do PIB, o menor nível desde 2018. Mesmo assim, ela continua acima da média de 65% dos países emergentes, e alguns economistas estimam que ela pode chegar perto de 90%. do PIB no final. do mandato de Lula.
O Congresso autorizou gastos adicionais de R$ 145 bilhões por um ano para financiar pagamentos mensais de R$ 600 às famílias no programa de bem-estar “Bolsa Família” e um aumento de R$ 23 bilhões em investimentos públicos.
Em resposta a um pedido de comentário, o Tesouro disse que o alto nível de resgate de títulos no próximo ano se deve a emissões de dívida em 2020 relacionadas à pandemia. Disse ter uma reserva de liquidez de 1 trilhão de reais, o que permite “antecipar períodos de maior concentração de vencimentos e mitigar o risco de refinanciamento da dívida pública”.
Em setembro, o banco central interrompeu um ciclo agressivo de aperto destinado a conter a inflação alta, que atualmente paira em 6%, após 12 aumentos consecutivos de uma baixa recorde de 2% em março de 2021.
(US$ 1 = 5,1904 reais)
Reportagem de Marcela Ayres; Editado por John Stonestreet
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