Supremo Tribunal Federal declara inconstitucional o “orçamento secreto”

O Supremo Tribunal do Brasil decidiu que um plano parlamentar chamado de “orçamento secreto”, que foi criticado por distribuir fundos a legisladores com pouca supervisão em troca de apoio ao governo, é inconstitucional.

Os juízes da mais alta corte do país votaram por 6 a 5 contra o mecanismo, por meio do qual subsídios eram concedidos a parlamentares para projetos em seus distritos eleitorais.

Ativistas da transparência disseram que a prática opaca já representou cerca de um quarto do orçamento federal discricionário do Brasil, muitas vezes beneficiando aliados do presidente Jair Bolsonaro. Eles argumentaram que isso pisou nos princípios da responsabilidade democrática, com divulgações limitadas sobre como os fundos foram gastos.

O desenvolvimento foi bem recebido por apoiadores do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que acusaram Bolsonaro de usar o “orçamento secreto” para alimentar sua fracassada campanha de reeleição.

Ao eliminar uma ferramenta de negociação que os parlamentares tinham perante o Executivo, a decisão enfraquecerá o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, segundo analistas.

Bolsonaro contou com Lira para obter uma maioria governista em um parlamento fragmentado, enquanto os recursos do “orçamento secreto” (para educação local, saúde e infraestrutura) ajudaram os legisladores a atrair eleitores em época de eleição.

Com posse marcada para 1º de janeiro, Lula também se beneficiou de mais uma decisão de um desembargador do Supremo Tribunal Federal na noite de domingo. Ele determinou que sua promessa de campanha de gastar mais em pagamentos de bem-estar pode ficar fora de um teto tributário que limita o crescimento dos gastos públicos.

“Recupere o controle do orçamento e a garantia de que Bolsa Família [benefits programme] não estará sujeito ao limite de gastos. . . são ativos importantes para o governo eleito”, disse Rebeca Lucena, analista política da BMJ Consultores.

Lula, um ex-presidente de dois mandatos, tem buscado o apoio de Lira para uma emenda constitucional, com o objetivo de contornar o teto de gastos e liberar mais 145 bilhões de reais (22,5 bilhões de libras) para o orçamento do próximo ano. Teria que ser aprovado esta semana.

Lucas de Aragão, sócio da consultoria política Arko Advice, disse que o novo governo agora depende menos dessa rota.

“Há uma clara tensão entre Lira e o governo eleito neste momento”, afirmou. “[But] eles não estão dispostos a queimar pontes. Eles estão buscando um terreno comum, e pode ser a votação da emenda constitucional, com valor reduzido de R$ 80 bilhões.”

Ambas as decisões da Suprema Corte apenas alimentarão ainda mais as acusações da oposição de abuso judicial e ativismo. Apoiadores de Bolsonaro acusaram os principais juízes de parcialidade em favor de Lula, que governou pela primeira vez em 2003-10.

O veterano esquerdista foi preso por corrupção em 2018, mas suas condenações foram anuladas pela Suprema Corte no ano passado, abrindo caminho para uma candidatura presidencial.

Os parlamentares há muito recebem dinheiro do governo para esquemas de obras públicas, mas os críticos do ‘orçamento secreto’ argumentaram que era em uma escala diferente. Formalmente conhecido como emendas relatoras, o mecanismo foi implantado em 2020, após a posse de Bolsonaro no ano anterior.

O “orçamento secreto” deveria chegar a 19,4 bilhões de reais em 2023, segundo estimativas da organização não governamental Cuentas Abiertas.

Gil Castello Branco, Contas Abertas secretário-geral, disse que isso equivalia a seis vezes o tamanho do orçamento ambiental do Brasil. “Isso dá uma dimensão de como essas reformas foram absolutamente exorbitantes e distorceram as políticas públicas”, acrescentou.

Lira rejeitou anteriormente o termo ‘segredo’ e disse que a configuração é “democrática”, acabando com a troca de favores do Executivo por votos do Legislativo.

Reportagem adicional de Emily Costa

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