A experiência de confinamento que terminou com participantes com fome e sem oxigênio – 21/07/2020

A aventura quase terminou em tragédia.

Em 1991, um grupo de oito pesquisadores voluntários fechou por dois anos em uma cúpula de vidro e aço, onde vários ecossistemas do planeta Terra foram recriados.

Essa experiência fez parte do projeto Biosphere 2, que visava verificar se, em algum momento no futuro, os seres humanos poderiam viver em circunstâncias semelhantes em outros planetas.

Grande parte da rotina dos oito participantes, os “biosferanos”, foi ocupada por trabalhos agrícolas. Eles cultivaram seus próprios vegetais, coletaram grãos do solo e obtiveram proteínas de animais de criação e peixes criados em viveiros de peixes.

A experiência, apresentada como uma “missão especial” na Terra, chamou a atenção da imprensa.

Mas a aventura não terminou como o esperado.

As culturas não cresceram na taxa estimada, os alimentos começaram a diminuir, o oxigênio era insuficiente e a tensão aumentou entre os participantes.

Um ‘Jardim do Éden’

O projeto original do complexo da Biosfera 2 foi criado por John Polk Allen, engenheiro formado pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Allen também foi diretor da empresa Space Biospheres Ventures, que em 1984 comprou a propriedade na qual o ecossistema artificial fechado foi construído no município de Oracle, no deserto do Arizona, nos Estados Unidos.

A construção foi concluída em 1989, com três edifícios. O primeiro, uma grande cúpula de vidro e aço; o segundo, uma área de tecnologia subterrânea; e a terceira, uma área destinada a ser o habitat humano.

A cúpula media quase 28 metros em seu ponto mais alto e continha cinco ecossistemas: uma floresta tropical, um deserto, uma savana, um manguezal e um oceano com recifes de coral. Além disso, havia uma área dedicada à agricultura.

Dentro do edifício tecnológico, havia componentes que mantinham o clima da cúpula, com controladores de temperatura e umidade.

“O principal objetivo era determinar se uma biosfera artificial poderia funcionar, aumentando as reservas de energia e biomassa, preservando um alto nível de biodiversidade e biomas, estabilizando sua água, solo e atmosfera”, escreveu o diretor do projeto John Polk Allen, e um de seus participantes, Mark Nelson, em um documento com o resultado da investigação em 1997.

Os cientistas envolvidos queriam saber se uma biosfera auto-suficiente, com todos os ecossistemas vitais da Terra, poderia “fornecer vida criativa e saudável para os humanos trabalharem como naturalistas e cientistas”, diz o documento.

Basicamente, tratava-se de testar se o ser humano poderia se mudar para outro planeta levando um pedaço de nós. Para isso, os cientistas viajaram pelo mundo e reuniram recursos e conhecimentos para criar o ecossistema artificial.

Eles encheram a Biosfera 2 com animais, vegetação e tecnologia, procurando as condições certas.

“Foi como criar um tipo de Jardim do Éden dentro”, disse Linda Leigh, uma das pesquisadoras confinadas, em um documentário recente sobre a experiência, chamado Nave espacial da terra.

Assim, em setembro de 1991, quatro homens e quatro mulheres entraram na cúpula: Roy Walford, Taber MacCallum, Mark Nelson, Sally Silverstone, Silke Schneider (que mais tarde seria substituída por Abigail Alling), Mark Van Thillo, Jane Poynter e Linda Leigh. .

Impacto na mídia

“Eles me telefonaram propondo que eu me juntasse à equipe de voluntários e, antes que terminassem a frase, eu já tinha dito que sim”, lembra Nelson, um dos “biosferanos” do documentário.

“Fomos pioneiros, os primeiros ‘biosferanos’. Eles nos deram um novo mundo para cuidar dele”, diz Nelson.

Enquanto isso, o mundo aprendeu sobre o projeto através da mídia. O interesse era tal que era necessário contratar uma equipe de relações públicas para lidar com o interesse da mídia.

Logo após o início da corrida dos touros, o entusiasmo inicial dos membros começou a se dissipar. Swoops e histórias logo aumentaram.

“Você nunca sabe o que pode acontecer quando está confinado, vivendo com outras sete pessoas há anos”, lembra Nelson.

A torre do sino se tornou uma atração turística. Nas visitas guiadas, os turistas viram cientistas trabalhando lá fora, como se fosse um zoológico.

No interior, cada um dos participantes tinha uma missão específica. Eles devem cuidar do gado, a preservação dos corais, a piscicultura e as diferentes culturas.

Eles também foram responsáveis ​​por monitorar o comportamento dos gases, principalmente oxigênio e dióxido de carbono.

Roy Walford era médico e seu trabalho era observar os efeitos do confinamento na saúde dos oito voluntários.

“Se conseguirmos transplantar um recife de coral, administrar uma fazenda, não poluir a atmosfera e a água e reciclar nutrientes, haverá grandes lições a serem aprendidas aqui”, pensou Nelson durante o parto.

Fome, tensão e falta de oxigênio.

Os “biosferanos” concordam que a escassez de alimentos não ajudou a criar um ambiente saudável.

De todas as culturas, uma das mais bem-sucedidas, como revelado por Allen e Nelson nos resultados da pesquisa, foi a banana-da-terra. Portanto, os presos tiveram que usar essa fruta em várias receitas. Eles até tentaram produzir vinho a partir de bananas, mas sem sucesso.

“Tivemos que tomar decisões importantes, porque algumas culturas funcionavam muito melhor do que outras. Por isso, acabamos comendo o mesmo produto, como beterraba, na forma de sopa ou salada”, disse Sally Silverstone em um dos documentários.

Mas a comida não foi o único recurso que se tornou escasso. Tanto cientistas dentro da cúpula quanto pesquisadores externos notaram um aumento nos níveis de dióxido de carbono e uma diminuição no oxigênio.

“Você não podia terminar uma frase sem sentir falta de ar”, disse Nelson.

“Eu estava subindo um lance de escada e tive que parar para respirar”, lembra Linda Leigh.

A falta de comida fez com que os “biosferanos” perdessem peso e, com o baixo nível de oxigênio, foram expostos a riscos de danos cerebrais.

“Respiramos o ar um do outro, sufocamos e passamos fome”, disse Leigh.

“Lutar, além disso, não ajudou a alcançar a meta para a qual estávamos confinados”, lamenta Nelson.

O experimento estava desmoronando e a idéia original de sobreviver dois anos apenas no que estava dentro da Biosfera 2 não funcionou. Eles são forçados a trazer extratores de dióxido de carbono, bombas de oxigênio e alimentos de fora.

A imprensa classificou o projeto como um fracasso.

Sem confinamentos

Apesar da necessidade de assistência externa, sem total auto-suficiência, o projeto conseguiu continuar por dois anos, que era a duração originalmente estipulada.

Em 1994, uma segunda expedição retornou ao interior da Biosfera 2, mas foi cancelada antes do final da missão.

Hoje, a Biosfera 2 pertence à Universidade do Arizona e serve como um centro de pesquisa sobre os ecossistemas da Terra.

Quase três décadas depois, não há mais experiências de confinamento na gigantesca cúpula de vidro.

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About the Author: Edson Moreira

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