Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu à solicitação da Polícia Federal (PF) e autorizou a empresa a ter acesso aos dados de investigação do Facebook que eliminaram uma rede de contas e perfis falsos vinculados a membros do gabinete do Presidente Jair Bolsonaro, seus filhos, o PSL e seus aliados.
O acesso foi autorizado em duas consultas confidenciais que estão sendo processadas no Supremo Tribunal Federal: a de notícias falsas e a de atos não democráticos. No primeiro, Moraes apontou, em maio, sinais de que um grupo de empresários agiu com véu para financiar a divulgação de notícias falsas e conteúdo de ódio contra membros do Tribunal e outras instituições. O ministro também definiu o grupo conhecido como “escritório de ódio” como uma “associação criminosa”.
Na investigação do financiamento de atos antidemocráticos, em junho, foi autorizada a violação do sigilo bancário de dez deputados e um senador, todos com bolsa de estudos. Ao decretar a medida, Moraes registrou uma “possibilidade real” de uma associação criminosa trabalhar para “desestabilizar o regime democrático” com o objetivo de obter ganhos econômicos e políticos.
Nos últimos 8 dias, o Facebook revelou que identificou e removeu 35 contas, 14 páginas e 1 grupo na rede social, além de 38 contas no Instagram, por “comportamento inautêntico coordenado”. O anúncio fez parte de uma ação contra redes de desinformação em quatro países.
No Brasil, a investigação da plataforma identificou pelo menos cinco funcionários e ex-assessores que estavam espalhando ataques aos oponentes políticos de Bolsonaro. Na lista está Tercio Arnaud Thomaz, consultor especial da Presidência e membro do “escritório de ódio”.
Um dos funcionários envolvidos na rede identificada pelo Facebook trabalhou para o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente. Outro é contratado pelo deputado estadual do PSL de São Paulo, coronel Nishikawa. A rede de notícias falsas também inclui deputados estaduais de Río Anderson Moraes e Alana Passos, ambos do PSL. A rede social indicou que as páginas do Facebook derrubadas tinham 883.000 seguidores, enquanto as contas do Instagram, 917.000. Além disso, 350 pessoas estavam no grupo investigado.
Tercio Arnaud Tomaz se recusou a comentar o relatório. O Palácio do Planalto também não se manifestou. O vice-coronel Nishikawa disse que, ao interrogar um oficial, ele ouviu que não tinha conhecimento de nenhuma conta suspeita. Anderson Moraes chamou a ação do Facebook de “absurda e arbitrária”. Alana Passos disse que ela e seus funcionários não tinham nenhum tipo de bloqueio e não podem responder por qualquer conteúdo postado por seus consultores.
Após a ação da rede social, o presidente Jair Bolsonaro saiu em defesa de seus aliados e criticou a queda de páginas e perfis. “Desafio a imprensa a apontar um texto meu que é odioso ou daqueles que estão do meu lado”, disse ele na época.
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre Fake News (CPMI), por outro lado, saudou o desmantelamento da rede de desinformação, destacando a necessidade de acesso ao conteúdo publicado pelas contas excluídas.
No mesmo dia do anúncio no Facebook, o PSOL enviou uma solicitação a Moraes, pedindo ao ministro que solicitasse “busca e apreensão” das evidências e evidências coletadas pelo Facebook.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.