Parler é uma nova rede social adotada pelo direito conservador nos últimos dias, com a justificativa de buscar um espaço com mais liberdade de expressão. Jair Bolsonaro e outros políticos ligados ao presidente já criaram perfis lá. O ponto é que a plataforma não está comprometida com a verificação de fatos, o que pode torná-la outro grande foco de desinformação na web.
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) postou uma mensagem no Twitter para seus mais de 1,5 milhão de seguidores no início deste mês. O filho do presidente chamou Parler de “a rede social que prioriza a liberdade de expressão”. Nesta segunda-feira (13), foi a vez do presidente revelar sua conta lá.
Desde que criou uma conta Parler, Flávio Bolsonaro trabalhou muito mais lá, onde possui cerca de 87.000 seguidores, do que no Twitter, onde é muito mais popular. Inclinação Ele contatou os conselheiros do senador e do presidente, mas não recebeu resposta. O texto será atualizado se eles responderem.
Twitter já excluiu uma postagem por Flávio Bolsonaro em março. O senador compartilhou um vídeo no qual, descontextualizado, o Dr. Dráuzio Varella aconselhou a população a não mudar de estilo de vida devido ao novo coronavírus; o vídeo foi de janeiro deste ano, quando ainda não havia casos registrados no país.
Além de Flávio e Jair Bolsonaro, outros relatos chamados “direito conservador” e que apóiam o Presidente da República criaram perfis em Parler, como Olavo de Carvalho, Eduardo Bolsonaro, Marco Feliciano, Abraham Weintraub e blogueiro Allan dos Santos, entre outros. .
Afinal, o que é Parler?
Criado em 2018, o Parler é muito semelhante ao Twitter, mas possui menos políticas para regular o conteúdo considerado ofensivo. Em um texto de apresentação, ele declara que é “sem preconceitos e liberdade de expressão, focado na proteção dos direitos do usuário”.
Na descrição da Play Store, Parler ainda diz “diga ao mundo o que você precisa que eles saibam!”. Em entrevista à Fox News, seu diretor executivo, John Matze, disse que a rede social recebeu muita atenção dos conservadores porque “eles parecem ser os mais afetados pela censura do Twitter ou do Facebook”, mas enfatizou que o aplicativo é para pessoas. de todos os pontos do espectro político.
“Não censuramos, editorializamos, compartilhamos ou vendemos dados de usuários. A única coisa que removemos é pornografia, ameaças de violência contra alguém e material obsceno”, afirmou.
Como funciona?
Juntar-se a Parler é como entrar em qualquer rede social. É necessário registrar um e-mail e um número de telefone e validar a entrada usando um código recebido por SMS. Em seguida, basta criar uma senha de pelo menos oito dígitos e a conta já está aberta.
A primeira coisa que aparece é a sugestão de seguir algumas páginas oficiais, como a NASA. Depois, há algumas personalidades políticas, como a conta oficial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Através da barra de pesquisa, é possível encontrar as contas de outros usuários ou hashtags usadas com os termos de pesquisa. Além disso, no canto direito, há sugestões de tópicos em ascensão.
Na página inicial de cada usuário, há postagens de pessoas que ele segue, onde ele pode gostar (na opção “votar”) ou compartilhar (algo como retweetar, mas a função é chamada “eco”). Outra opção semelhante à de outras redes sociais é a guia de comentários.
Para escrever algo para seus seguidores, o usuário usa o campo “O que há de novo?”, Onde a opção de postar fotos, GIFs ou emojis está disponível. Além disso, é possível editar o perfil do usuário deixando a conta privada ou aberta, assim como no Facebook ou Instagram.
Ao investigar o relatório, alguns dos problemas recentemente publicados na rede social pelos seguidores do presidente são memes envolvendo a China, críticas a protestos contra o racismo, apoio ao uso de hidroxicloroquina e críticas ao isolamento social devido à pandemia da covid-19.
Inclinação Tentei me conectar com alguns usuários Parler para descobrir o que eles pensam da rede social, mas não obtive resposta.
Nenhuma verificação de fatos
David Nemer, professor brasileiro da Universidade da Virgínia nos Estados Unidos, que monitora as redes da Bolsonar, diz ter percebido em Parler que a plataforma é predominantemente de direita e extrema direita. Para ele, a grande atração da rede social é a baixa fiscalização do que é publicado.
Bolsonaro e Trump já foram avisados pelo Twitter por revelar informações erradas. Tanto os líderes quanto seus seguidores não gostaram dessa atitude, pedindo a censura e a plataforma comunista. Esses dois adjetivos são os mais utilizados pelos conservadores no ato de demonizar algo ou criar um inimigo.
David Nemer
Apesar disso, o especialista diz que o Twitter não censura os usuários porque acredita que não deve julgar o que é verdadeiro ou não. Ainda assim, quando há uma violação dos termos de serviço, o Twitter ainda age, e é nessas violações dos termos, que vão da manipulação de várias contas não autênticas ao conteúdo pedófilo, que os conservadores se sentem censurados e liberdades em risco “. , ele diz.
Quando perguntado sobre a regulamentação das publicações de Parler, o executivo John Matze disse: “Não temos verificadores de fatos. Somos uma praça pública, deixamos a responsabilidade para a comunidade. Nossos usuários são sábios o suficiente para filtrar e julgar os em formação”. .
Segundo Matze, Parler tem cerca de 1,5 milhão de usuários até agora. Para comparação, o Twitter possui 166 milhões de usuários ativos mensais, enquanto o Facebook possui 2,6 bilhões de usuários mensais.
Câmara de eco
A migração de usuários com a mesma opinião para Parler poderia aumentar a polarização social e política, bem como o extremismo, de acordo com Nemer. Para ele, isso pode criar a chamada câmara de eco, uma descrição metafórica de uma situação em que as crenças são reforçadas pela comunicação.
“Em outras palavras, se a questão é primariamente sobre uma visão política, amplificada com desinformação e ódio, isso só tende a crescer e a dominar os debates dentro dessa câmara”, analisa.
Caroline Luvizotto, professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unesp, concorda que uma rede social com o mesmo perfil de usuário pode contribuir ainda mais para a polarização. Mas ela ressalta que essa não é uma característica única de Parler.
“Os algoritmos de rede são baseados nos hábitos e nas interações dos usuários e fornecem conteúdo que deveria ser o que lhes interessa. Isso, por si só, já aumenta a polarização nas discussões”, diz ele.
Mais notícias falsas?
Outra preocupação para Parler está relacionada a notícias falsas, pois sua falta de regulamentação de postagens pode aumentar as informações erradas na web.
de Luvizotto, postagens falsas podem ser definidas de três maneiras:
- Informações confusas: falso, mas não criado com a intenção de danificar;
- Desinformação: informações falsas criadas com o objetivo de causar danos a algo ou a alguém;
- Informação incorreta: um baseado em eventos reais, mas distorcido para causar danos a algo ou a alguém.
Além disso, o sociólogo enfatiza que, quando alguém diz que está agindo pelo seu direito à liberdade de expressão, precisa saber que isso implica deveres e responsabilidades.
“Você não pode expressar uma opinião caracterizada como crime, por exemplo, direcionar uma expressão racista ou homofóbica para alguém, o que implicaria um crime de racismo ou homofobia”, explica ele.