Trabalhando anonimamente desde maio, os criadores do movimento Sleeping Giants Brazil estimam que fizeram com que as páginas falsas de notícias parassem de arrecadar R $ 448.000 por mês. A principal plataforma de publicidade na Internet, o Google Adsense, é a que garante a saúde financeira da maioria dos sites mais vendidos em todo o mundo. E é justamente através desse sistema que os ativistas do movimento Gigantes Adormecidos Brasil tentam sufocar os difusores de notícias falsas e os promotores do discurso de ódio.
Inspirados nos gigantes gigantes adormecidos, criados por um publicitário americano e em operação desde 2016, três brasileiros decidiram criar uma versão tupiniquim do movimento em 18 de maio deste ano. Então eles começaram a concentrar seus esforços em sites de notícias falsas conhecidos, expondo publicamente, por meio de redes sociais, empresas que apareciam como anunciantes nessas páginas, por meio do AdSense.
Por meio do sistema do Google, as empresas podem criar uma lista de todos os sites em que não desejam aparecer. Essa é a idéia dos Sleeping Giants – pressionar os anunciantes a incluírem sites de notícias falsas em suas listas e, portanto, desmonetizá-los.
A ideia parece estar funcionando. De acordo com um balanço fornecido por um dos criadores do movimento, durante o primeiro mês de atividade, o Sleeping Giants Brasil conseguiu parar de transmitir páginas de notícias falsas de 448.000 reais. O grupo teve 377.400 seguidores no Twitter nesta manhã (13) e, no Instagram, 126.000 seguidores, além de estar presente no Facebook e LinkedIn.
Por temerem ameaças como as sofridas pelo criador da versão original e sua família nos Estados Unidos, os criadores do projeto brasileiro não dão pistas sobre suas identidades. Segundo o relatório da DW Brasil, eles só aceitaram conversar por meio de mensagens diretas no Twitter, sem aceitar nenhuma outra forma de contato.
Segundo eles, na maioria das vezes, após a exposição pública, as empresas respondem ao perfil e se comprometem a incluir sites reconhecidos como propagadores de notícias falsas na lista de exclusão da plataforma AdSense.
“Recebemos mais de 400 respostas [de empresas anunciantes] em apenas um mês e meio de atividade “, dizem eles”. Muitas empresas estão se unindo ao movimento, conscientizando-se e começando a analisar melhor como eles promovem sua publicidade e dão espaço a perfis que promovem desinformação e ódio “.
Em um cenário político problemático como o atual brasileiro, marcado por forte polarização, o grupo foi criticado por apoiadores do governo do presidente. Jair Bolsonaro. O deputado federal Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do presidente, chamou os Gigantes Adormecidos de “uma nova maneira de censurar a direita”.
“Somos contra todos os disseminadores de notícias falsas e discursos de ódio, e sabemos que isso é independente do espectro político”, defendem os criadores. “Mas agora, a extrema direita está concentrando o poder usando conteúdo falso e odioso. Além disso, no meio de uma pandemia, espalhar informações erradas é extremamente perigoso, pois estamos falando de vidas perdidas”.
Gigantes à vista
Os criadores do Sleeping Giants Brasil afirmam que os destinos são escolhidos com base na “proporção, relevância e escopo” de seus sites.
De uma lista de empresas fornecidas pelos criadores, o relatório da DW Brasil buscou contato com Americanas, Nike, Spotify e MRV, as quatro mencionadas primeiro e que não responderam ao grupo, mesmo diante de constantes exibições públicas no Twitter. Nenhum deles retornou a solicitação de posicionamento para o relatório.
No entanto, a DW Brasil descobriu que algumas das empresas expostas estão bloqueando sites de notícias falsas de sua lista do AdSense, mesmo que prefiram não assumir publicamente isso. Mais do que isso, existem empresas que, cientes do desempenho da Sleeping Giants Brasil, antecipam uma provável exposição pública e adicionam sites que espalham notícias falsas à sua lista de exclusão de plataformas do Google.
“A liberdade de expressão é o direito de todos, não estamos aqui para combater isso”, dizem os ativistas. “O movimento procura alertar as empresas de que elas estão contribuindo para odiar discursos e informações erradas, mas cabe a elas escolher se devem ou não remover seus anúncios do site. Nós apenas queremos o posicionamento deles”.
Trabalho de formiga
E por que não concentrar seus esforços diretamente no Google, em vez de fazer um pequeno trabalho? Segundo os criadores de Sleeping Giants, cobrar da empresa de tecnologia não valeria a pena.
“As grandes plataformas são realmente responsáveis pelo espaço dado aos disseminadores de conteúdo odioso e falso, mas é muito difícil chamar a atenção deles”, argumentam. “Em quatro anos de existência do perfil nos EUA, nenhuma das principais plataformas entrou em ação ou entrou em contato com os Sleeping Giants. Mas esperamos que isso mude e que eles entendam sua responsabilidade quando não houver uma seleção cuidadosa do que eles apóiam. ou não no ambiente virtual “. “
Solicitado pela Dw Brasil, o escritório do Google no Brasil se posicionou através de relações com a imprensa. “Temos políticas rígidas que limitam os tipos de conteúdo nos quais exibimos anúncios, como o que não permite que os editores tentem enganar o usuário sobre sua identidade ou produtos. Quando uma página ou site viola nossas políticas, tomamos medidas imediatas e removemos sua capacidade de gerar renda “, afirmou a empresa em nota.
“Entendemos que os anunciantes podem não querer que seus anúncios sejam vinculados a determinado conteúdo, mesmo quando não violam nossas políticas, e nossas plataformas oferecem controles robustos que permitem o bloqueio de categorias específicas de sites e tópicos, além de gerar relatórios em tempo real sobre onde os anúncios foram exibidos “, acrescentou.
O Google disse que somente em 2019, fechou mais de 1,2 milhão de contas e removeu anúncios de mais de 21 milhões de páginas “por violação da política”.