Quem é Tercio Arnaud Tomaz, o elo mais forte entre Bolsonaro e a rede de páginas abandonadas pelo Facebook sob a acusação de divulgar notícias falsas – 09/07/2020

Funcionário do Planalto, um jovem deixou Campina Grande para trabalhar com os Bolsonaros e é apontado como o líder do chamado “escritório de ódio”.

O vínculo mais forte entre o presidente Jair Bolsonaro e nas páginas lançadas pelo Facebook nesta quarta-feira (8), Tercio Arnaud Tomaz deixou Campina Grande, na Paraíba, para trabalhar com Bolsonaro em Brasília. Agora, é apontado como parte de um esquema de publicações falsas nas redes que favoreceriam Bolsonaro.

Tercio é consultor especial da Presidência da República, com um salário bruto de R $ 13.623,39, e designado como líder do chamado “escritório de ódio”, termo para designar um grupo no Palácio do Planalto que supostamente difunde mensagens difamatórias contra os oponentes de Bolsonaro e cuidar de suas redes sociais. O Planalto nega que esse grupo exista na estrutura institucional da Presidência.

O Facebook removeu uma rede de perfis, páginas e grupos vinculados aos apoiadores de Bolsonaro no Facebook e Instagram, que também pertence à empresa. Segundo o Facebook, a rede está sendo usada para espalhar conteúdo falso.

O Laboratório Forense Digital do Conselho Atlântico, que analisou as páginas antes da queda da plataforma e investigou a rede de contas e notícias falsas, aponta Tercio como administrador da página do Instagram @bolsonaronewsss. Seu nome não está na página, mas o email [email protected] aparece em seu código-fonte (conjunto de códigos atrás de uma página com “instruções” para um programa ou página funcionar, onde outros dados na página) e foi gravado pelo grupo que estuda desinformação.

A BBC News Brasil encontrou um perfil com o nome de Tercio, sua foto e o mesmo e-mail no site “Troca Jogo” para troca de videogames, que foi acessado pela última vez em 2013, reforçando a tese de que ele usa esse endereço de e-mail e, portanto, seria o administrador da página Bolsonaro Newsss, conforme observado pelo laboratório do Conselho Atlântico.

O perfil de Tercio em um site de videogame mostra o mesmo email usado no perfil do Bolsonaro Newsss Instagram - Reprodução - Reprodução

O perfil de Tercio em um site de videogame mostra o mesmo email usado no perfil do Bolsonaro Newsss Instagram

Imagem: Reprodução

O conteúdo do Bolsonaro Newsss, segundo o documento, misturou “meias verdades” para chegar a conclusões falsas. A página tinha 492.000 seguidores e mais de 11.000 posts antes de ser removida.

Além disso, o relatório do grupo do Conselho Atlântico mostra como uma página do Facebook com um nome quase idêntico, “Bolsonaro News”, publicou as mesmas coisas que o perfil do Instagram, atacando também os ex-aliados de Bolsonaro, embora não conclua que Tercio tenha realizou essa página

As postagens seriam publicadas durante o “horário comercial” e, portanto, provavelmente serão publicadas nas plataformas enquanto Tercio trabalhou durante o dia no Planalto, de acordo com análise do Laboratório Forense Digital do Conselho Atlântico.

A BBC News Brasil entrou em contato com Tercio Arnaud Tomaz por e-mail, perguntando à autoridade do Planalto sobre essas alegações, mas não recebeu resposta até a conclusão deste relatório.

O código fonte mostra o e-mail de Tercio Arnaud Tomaz vinculado à página Bolsonaro Newsss no Instagram - Instagram / Pesquisa Forense Digital do Atlantic Council - Instagram / Pesquisa Forense Digital do Atlantic Council

O código-fonte mostra o e-mail de Tercio Arnaud Tomaz vinculado à página Bolsonaro Newsss no Instagram

Imagem: Pesquisa Forense Digital do Instagram / Atlantic Council

Bolsonaro Opressor 2.0

A página “Bolsonaro Opressor 2.0”, criada em 2015, publicou memes e imagens agressivas de Bolsonaro contra seus oponentes políticos. Tercio foi designado como o autor da página, que tinha milhares de seguidores. Segundo o jornal O Globo, seu nome foi mencionado como autor de algumas de suas publicações.

Antes de trabalhar com as redes da família Bolsonaro, Tercio trabalhou como recepcionista em um hotel, segundo o jornal. Ele possui diploma biomédico em uma universidade de Campina Grande.

Em 2017, entre abril e dezembro, ele trabalhou oficialmente com Jair Bolsonaro em seu escritório na Câmara dos Deputados, recebendo R $ 2.100 por mês, segundo O Globo.

Então, em dezembro de 2017, foi nomeado para o escritório de Carlos Bolsonaro na Prefeitura do Rio, com um salário de R $ 3.600. De acordo com uma reportagem de agosto de 2018 do jornal O Globo, apesar de ter trabalhado na legislatura carioca, Tercio continuou trabalhando diretamente para Bolsonaro, sem ir ao local oficial de emprego.

Tercio frequentou a residência do empresário Paulo Marinho, que serviu como comitê para a campanha de Bolsonaro em 2018, de acordo com o testemunho do próprio empresário perante o IPC. “Tercio era uma pessoa que às vezes acompanhava o capitão Bolsonaro, às vezes acompanhava Flávio Bolsonaro”, disse Marinho.

Quando Bolsonaro fez sua primeira conferência de imprensa como presidente eleito em 1º de novembro de 2018, foi Tercio, como consultor da campanha do candidato na época, quem creditou jornalistas que excluíram jornais como o Estado de São Paulo, Folha de S. Paulo. Paulo, O Globo e outros veículos, segundo relatório estadual. “Por meio de mensagens do WhatsApp, Tercio respondeu a jornalistas de veículos proibidos que não podiam entrar ‘por razões de espaço” “, relatou o jornal.

Como presidente, em agosto do ano passado, a página de Bolsonaro no Facebook compartilhou uma postagem no perfil “Bolsonaro Opressor 2.0”, atribuído a Tercio. A publicação chamou o advogado Deltan Dallagnol, chefe do grupo de trabalho Lava Jato, um “estilo esquerdista do PSOL”.

“Escritório de ódio”

E então, no quarto dia do governo Bolsonaro, o presidente nomeou Tercio e depois José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz, para ocupar cargos em seu governo, formando o que seria o “escritório de ódio”.

Segundo a investigação de vários veículos de imprensa, o “bunker” seria instalado em uma sala no terceiro andar do Palácio do Planalto, próximo ao escritório presidencial.

Todos os três foram chamados para testemunhar no CPI do Fake News.

Bolsonaro Newsss

A página Bolsonaro Newsss no Instagram, atribuída a Tercio pelo Laboratório Forense Digital do Atlantic Council, publicou conteúdo enganoso, segundo a análise do grupo. As publicações disseram, por exemplo, que a reação à pandemia de coronavírus foi exagerada e que a hidroxicloroquina, uma substância cuja eficácia e segurança contra o coronavírus não foi cientificamente comprovada, poderia matar o vírus.

Uma publicação, por exemplo, sublinhou uma declaração de um especialista da OMS (Organização Mundial da Saúde) de que a disseminação assintomática da covid-19 era “muito rara”, sem incluir mais esclarecimentos de que os cientistas ainda não esclareceram isso. .

Outras publicações incluem: uma comparação do então candidato presidencial Fernando Haddad com Mussolini, uma foto de Eduardo Bolsonaro com uma arma, “esperando” pelo candidato Guilherme Boulos e memes que ridicularizam o ex-ministro da Saúde de Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta, o ex-ministro da justiça Sergio Moro e o governador do Rio, Wilson Witzel.

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