As autoridades brasileiras disseram na quarta-feira que estão avançando em seus esforços para remover bloqueios de estradas montados em todo o país por caminhoneiros para protestar contra a derrota do presidente Jair Bolsonaro pelo esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições brasileiras.
A Polícia Rodoviária Federal do Brasil (PRF) disse que os manifestantes estavam bloqueando parcial ou totalmente as rodovias em 146 locais na noite de quarta-feira, contra 190 na noite anterior. Os bloqueios começaram no domingo após o fechamento das urnas no Brasil.
Embora menores do que nos dias anteriores, os protestos provavelmente continuarão a atrapalhar a distribuição de combustíveis, a atividade industrial, as entregas de alimentos aos supermercados e os embarques de grãos aos portos.
A Anvisa, a agência nacional de saúde, alertou que os bloqueios podem levar à escassez de suprimentos médicos.
A ANP, o regulador de petróleo, mudou as regras relacionadas aos requisitos mínimos de armazenamento de combustível nos locais de distribuição e relaxou os requisitos de engarrafamento de gás de cozinha em uma tentativa de evitar possíveis interrupções de energia.
Abear, um grupo comercial que representa as companhias aéreas brasileiras, alertou que o fornecimento de combustível de aviação pode ser comprometido.
“As autoridades devem levantar urgentemente os bloqueios e vias de acesso aos aeroportos”, disse Eduardo Sanovicz, chefe da Abear.
A polícia disse que 688 barricadas foram removidas em todo o país, embora as estradas permaneçam bloqueadas ou parcialmente bloqueadas em 17 dos 26 estados do Brasil, principalmente em estados agrícolas como Santa Catarina e Mato Grosso, onde Bolsonaro tem forte apoio popular.
Bolsonaro não aceita derrota
Bolsonaro, um nacionalista de direita, não admitiu a derrota, mas não chegou a questionar os resultados das eleições e autorizou seu chefe de gabinete a iniciar o processo de transição com os representantes de Lula.
Em comentários na terça-feira, o presidente brasileiro disse que os protestos se devem a “indignação e um sentimento de injustiça” pela votação, e não pediu explicitamente a seus apoiadores que derrubassem os bloqueios ou parassem os protestos.
O Ministério da Justiça disse na quarta-feira que mais de 900 multas foram emitidas contra motoristas que participam dos protestos e usam veículos para bloquear estradas.
Os caminhoneiros, um importante eleitorado de Bolsonaro que se beneficiou de suas políticas para reduzir os preços dos combustíveis, perturbaram a economia brasileira fechando estradas nos últimos anos.
pede intervenção militar
Alguns dos manifestantes pediram uma intervenção militar para manter Bolsonaro no poder.
“Esperamos que o Exército intervenha nessa situação, sabemos que essas eleições foram fraudulentas”, disse Reinaldo da Silva, 65 anos, funcionário público aposentado, em um comício do lado de fora de um quartel do Exército de São Paulo.
“Vim hoje porque quero que o Brasil seja livre, o socialismo não funciona com a nação brasileira.”
Manifestações semelhantes foram realizadas em quartéis em um total de nove estados e na capital Brasília, segundo o portal brasileiro de mídia online UOL.
O Ministério da Defesa do Brasil não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Bolsonaro, ex-capitão do Exército, cultivou fortes laços com as Forças Armadas desde sua eleição em 2018, conquistando a simpatia política de alguns dos altos escalões.
Como muitos brasileiros politicamente conservadores, ele muitas vezes se tornou nostálgico da ditadura militar de 1964-1985. Lula, por outro lado, foi preso na década de 1970 por protestar contra o governo militar.
Mas as Forças Armadas têm sido cautelosas em se envolver diretamente na política desde a ditadura, que deixou o país no caos econômico.
Paulo Chagas, general de cavalaria aposentado que fez campanha para Bolsonaro em 2018, disse em mensagem à Reuters: “Os militares sabem muito bem qual é o seu dever: a Constituição não permite que eles intervenham na política”.
O general Otavio Rego Barros, ex-porta-voz de Bolsonaro, disse em coluna publicada na quarta-feira que era hora dos perdedores das eleições cederem e pensarem no futuro do Brasil.
Ele criticou “grupos sem senso de responsabilidade que ainda buscam desestabilizar um tecido social enfraquecido com provocações e desinformação”.
Chagas e Rego Barros se desentenderam com Bolsonaro por sua pressão sobre as Forças Armadas para apoiá-lo politicamente.