Em um documento enviado aos senadores, as redes sociais Facebook, Google e Twitter criticaram PL 2.630 / 2020, conhecido como “fake news PL”. Para as mídias sociais, que ironicamente monetizam com base na coleta de dados do usuário, a nova versão transformou a lei em um “projeto massivo de coleta de dados para as pessoas”.
As empresas de tecnologia (WhatsApp, de propriedade do Facebook, também assinaram a análise) se referem ao novo rascunho do relatório do senador Angelo Coronel (PSD-BA). As redes elogiam o abandono da idéia de um sistema de pontuação de usuários, mas fazem uma série de críticas ao projeto que podem ser votadas nesta semana.
Os sites recomendam que a votação no projeto seja adiada até que “um texto equilibrado seja construído, sob o risco de ampliar o fosso digital e impossibilitar o acesso e as mídias sociais”. O PL está na lista de votação do Senado para esta quinta-feira (25).
Na quarta-feira (24), o senador Eduardo Girão (Pode-CE) defendeu um novo adiamento da votação do projeto de lei, argumentando que é necessário discutir mais o assunto. Na terça-feira (23), o senador Álvaro Dias apresentou uma solicitação para adiar a discussão.
Alguns dos pontos questionados pelas empresas de tecnologia:
Requisito de identidade
O requisito para um documento de identidade válido e o número de telefone celular brasileiro do usuário, com o direito de enviar um código SMS para ativação, é “desproporcional e contrário ao direito à proteção de dados”, de acordo com as empresas.
Os sites indicam que esse requisito é contrário à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e ao Marco Civil da Internet, além da própria Constituição. Há também um alerta sobre a exclusão digital de brasileiros, que seria inviável para cumprir as regras.
As empresas ainda questionam a eficácia do padrão, pois as pessoas podem usar documentos falsos ou laranja.
Numa entrevista com Inclinação, o relator PL, Ângelo CoronelPSD-BA) argumentaram que a medida é necessária para evitar contas falsas e sugeriram um novo “registro digital ou presencial” que realmente valida se os documentos são falsos ou não. As operadoras de celular já registraram novamente sua base de usuários no ano passado.
Rastreamento de mensagens
A proposta de rastrear as mensagens dos usuários por pelo menos quatro meses é, segundo as empresas, uma afronta ao “direito fundamental à privacidade e à proteção de dados” de milhões de cidadãos.
A idéia do PL é descobrir a origem das mensagens falsas, uma vez que, na opinião do relator, Angelo Coronel, os telefones celulares passaram por um novo registro mais completo.
Segundo o Facebook, Google e Twitter, isso exigiria a coleta de muito mais informações sobre os usuários. Para as empresas, cada usuário de soluções como WhatsApp ou email teria sua privacidade reduzida e a segurança afetada.
Requisito de banco de dados no Brasil
A exigência de bancos de dados no Brasil, para as empresas, ignora a natureza global e aberta da Internet, além de trazer consequências econômicas. Os argumentos contra esse padrão seriam o custo mais alto dos negócios, sistemas de segurança mais frágeis, riscos de retaliação comercial e impacto adverso nos investimentos.
É citado um estudo do Centro Europeu de Economia Política Internacional, afirmando que restrições ao fluxo de informações através de requisitos de localização podem diminuir os investimentos no Brasil em até 4,2%.
Para sites, a localização dos bancos de dados ameaça seriamente a privacidade e a segurança dos dados, centralizando o armazenamento e gerando maior exposição. Isso ainda poderia facilitar a vigilância governamental dos cidadãos.
Outros pontos
Há mais pontos disputados pelas redes sociais. Entre eles, há sanções supostamente desproporcionais, como o bloqueio de investimentos no Brasil que “teriam um impacto direto em milhões de brasileiros e na economia do país”.
Os sites ainda reclamam que o PL não esclarece o problema que deseja solucionar. Para eles, “um texto legal foi criado com o poder de monitorar o uso da Internet no país”.
Outro ponto criticado é um tipo de criminalização feita pelo novo texto, que “afeta diretamente o exercício da liberdade de expressão”.