No Brasil, para cada 100 pessoas que procuram uma instituição financeira que solicita crédito, apenas 4,5 obtêm os fundos desejados, segundo estatísticas do Banco Central. E mesmo esse pequeno grupo paga taxas de juros mais altas do que poderia, porque a pouca informação sobre o mutuário e a baixa oferta de capital disponível para empréstimos tornam esse processo mais caro.
A equação entre oferta, demanda e riscos para quem empresta dinheiro pode ser mais favorável para todos os envolvidos nessa cadeia, se houver mais Dado e tecnologia disponível. Essa é a ideia central defendida por Beibei Liu, um executivo de 29 anos, formado em matemática aplicada, que ajudou a fundar o Abakus Group, uma tecnologia financeira chinesa avaliada em US $ 1,5 bilhão. No Brasil, Beibei lidera a operação do NovaDax, um mercado de negociação de criptomoedas que já atende 100.000 usuários. De seu departamento em São Paulo, onde está em quarentena, Beibei conversou com o Copiar da China.
A Abakus operou no Brasil há alguns anos com o serviço WeCash, mas depois deixou o país. Por quê?
O WeCash não é uma empresa que empresta dinheiro às pessoas, mas estuda o perfil dos usuários que usam tecnologias como big data e aprendizado de máquina. Essa análise rica em tecnologia permite entender melhor a capacidade de pagamento do mutuário. Ajudamos a conectar instituições que têm recursos disponíveis a mutuários confiáveis.
Somos muito rentáveis na China, fornecendo esse suporte tecnológico, o que torna todo o mercado de crédito mais estável e confiável. Recentemente, alcançamos o ponto de equilíbrio (saldo de receitas e despesas) também na Indonésia e na Tailândia.
No caso do Brasil, definitivamente não saímos. Realizamos alguns estudos e entendemos que o mercado precisa amadurecer um pouco mais para ser atraente para o WeCash. Acredito que, no futuro, retornaremos ao país, pois existe um grande potencial para ajudar o setor de crédito no Brasil.
Como as novas tecnologias podem ajudar o setor de crédito?
Primeiro, crie um rico banco de dados de renda, hábitos e comportamento do usuário. Para um banco, em teoria, quanto mais empresta, melhor, pois é a maneira como gera renda. Naturalmente, eles precisam gerenciar riscos, entender a possibilidade de o mutuário não atender aos requisitos.
No mundo tradicional, você pergunta quanto ganha uma pessoa, quanto pode pagar por mês e verifica se há algum histórico de inadimplência. Quando você usa inteligência artificial, permite que as máquinas façam projeções preditivas sobre o comportamento do usuário. Você tem um cenário em que seu nível de informação para dizer “Eu posso emprestar” ou “Não posso emprestar” é maior. No final, é possível emprestar mais, cobrar menos juros e gerar menos riscos sistêmicos, evitando operações que terminariam na inadimplência.
O uso de tecnologias blockchain contribui para expandir a oferta de crédito?
Sim definitivamente. Blockchain é uma revolução em várias frentes. Hoje, é muito complexo e caro conectar uma pessoa ao capital para emprestar em um país como a China e um mutuário em um país como o Brasil, por exemplo. Com o blockchain, as transações internacionais se tornam muito mais baratas, seguras e rápidas. Essa tecnologia elimina muitos controles burocráticos que são caros e ineficientes.
Na prática, a popularização do blockchain permitirá maior acesso aos mercados com baixa oferta de crédito ao capital internacional. Será uma força motriz para muitas economias, como o Brasil.
Existem outros benefícios indiretos, como melhoria do comércio internacional. Hoje, um drama para todos que importam e exportam é garantir que seu dinheiro chegue no momento certo, que os produtos não sejam enviados sem pagamento, coisas assim. Com a velocidade da blockchain, que permite rastrear o fluxo de dinheiro em tempo real, tudo é mais eficiente.
É por isso que a Abakus mantém uma operação de blockchain e criptomoeda no Brasil?
Nosso mercado para compra e venda de criptomoedas é internacional e, além da China, nossa sede, estamos nos Estados Unidos e na Europa. Na América Latina, o Brasil é o primeiro país a ter uma operação nossa e isso se deve mais ao tamanho do mercado local. Investiremos US $ 3 milhões apenas este ano para aumentar nossa base de clientes no Brasil, que atualmente possui 100.000 usuários. Espero poder dobrar esse número até o final do ano.
A atual crise financeira ajuda no comércio de criptomoedas?
Ajuda porque as pessoas tentam variar seus investimentos em tempos de instabilidade.
Atualmente, basicamente temos dois perfis de investidores. Um, menos numeroso, chamamos de “Old Money”, que é composto por pessoas mais velhas, eventualmente mais de 50 anos. Eles são mais conservadores e investem em moedas famosas e estabelecidas como Blockchain e Ethereum. Em números absolutos, não há muitas pessoas, mas no volume negociado elas são relevantes, uma vez que grandes quantidades se movimentam.
E temos uma massa de “Dinheiro Jovem”, que são jovens que investem quantias menores, mas que fazem isso em uma faixa muito diferente de moedas, correm mais riscos. Atualmente, temos 30 tipos de criptomoedas que podem ser negociadas em nossa plataforma. E esses “Young Money” também são muito voláteis e mudam constantemente de plataforma, buscando aumentar sua lucratividade no curto prazo.
Para muitas pessoas, o universo de criptomoedas ainda está longe. Você acha que essas tecnologias se tornarão populares?
É natural que inovações e formas disruptivas de realizar qualquer atividade, como investir, geram certa insegurança a princípio. Até a regulamentação desses setores ainda precisa amadurecer no mundo. No entanto, este é um caminho sem retorno e as criptomoedas farão parte do nosso dia a dia e, sem dúvida, serão uma das opções na cesta de investimentos de poupadores brasileiros e chineses.