As operadoras de telefonia Claro, TIM, Oi e Vivo criaram um serviço único no qual os governos estaduais, municipais e federais poderão ver “mapas de calor” dos locais onde os brasileiros são mais populosos nessa pandemia de coronavírus, usando dados telefônicos telefones celulares.
A medida vem impedir a criação de novas plataformas do tipo em cada solicitação do governo. O serviço mostrará o índice de isolamento social de cada região e dará às autoridades do governo a capacidade de comparar essas taxas com as de outros locais do Brasil.
A plataforma ficou pronta nesta terça-feira (21), segundo Marcos Ferrari, presidente do Sinditelebrasil (sindicato das telecomunicações). Foi construído pela ABR Telecom, que já desenvolve vários serviços que integram os dados da empresa, como a portabilidade numérica.
Segundo a Ferrari, já existem partes interessadas, como os estados do Consórcio Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe), além do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal.
Capitais e outros municípios também poderão acessar a plataforma, desde que tenham mais de 500.000 habitantes. Campinas (SP) e Porto Alegre (RS) também procuraram por teles.
Já começou
Semelhante ao que já está acontecendo no estado de São Paulo, o monitoramento centralizado reunirá informações dos clientes das empresas de telefonia celular. Esses dados serão usados para criar “pontos de calor” nos mapas de localização. As regiões onde há maior concentração de pessoas são tingidas de vermelho e aquelas com menor concentração são pintadas de verde.
O monitoramento por telefone celular foi adotado em larga escala na Coréia do Sul para combater a crise do coronavírus. Ele chegou ao Brasil quando a cidade do Rio firmou parceria com a TIM. Então ele veio trabalhar em SP. Com algumas variações, também foi utilizado em Recife e Pará. O governo Jair Bolsonaro Ele lançaria o monitoramento em escala nacional, mas o suspendeu.
Como o sistema deve funcionar
Diferentemente do que acontece em SP, onde os mapas só podem ser verificados no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, a plataforma exclusiva criada pelas empresas de telecomunicações pode ser acessada através de um site.
No primeiro acesso, um termo de cooperação e responsabilidade será apresentado ao governo. O primeiro documento indica o que a plataforma oferece, suas limitações técnicas e até quando as informações serão oferecidas, segundo a Ferrari, até que o estado de calamidade pública decretado pelo governo federal esteja em vigor.
O segundo documento descreve as leis às quais a plataforma está sujeita e quais são seus parâmetros de segurança.
A chave de acesso solicitada apenas pelas administrações públicas não pode ser compartilhada com pessoas fora dessas esferas. Portanto, cidadãos comuns não podem entrar na plataforma.
Essas regras, diz a Ferrari, não estão abertas à discussão e são válidas para todos que desejam participar. “Estamos aplicando o princípio da isonomia. Aceite ou não”, diz ele. As chaves para acessar a plataforma serão fornecidas 48 horas após a assinatura dos dois termos.
Política de privacidade
O presidente do Sinditelebrasil pressiona a tecla de que os dados no site são anonimizados, ou seja, não podem ser usados para identificar os clientes das quatro operadoras. Não é possível saber o sexo, nome ou número de celular dessas pessoas.
“São apenas estatísticas. É como uma catraca do metrô. As pessoas passam e a roleta registra o número de pessoas. No final do dia, a estação olha a catraca e descobre quantas pessoas passaram, mas não sabe quem aconteceu”, diz Ferrari.
Alguns especialistas argumentam que é possível individualizar os dados sujeitos a processos de anonimato cruzando-os com outras informações, como padrões comportamentais. Portanto, seria possível obter informações pessoais, algo protegido pela Estrutura Civil da Internet e pela LGPD, Lei Geral de Proteção de Dados que deveria estar em vigor em 2021.
“É impossível fazer um investimento. Não há como saber o que aconteceu na catraca, você só sabe o que aconteceu”, defende a Ferrari.
Outra preocupação dos ativistas é sobre o tratamento que os funcionários do governo podem dar aos dados. Ferrari diz que a plataforma exclusiva dos televisores não permite extrair ou manipular as informações.
O próprio site realiza uma camada cruzada para fazer comparações entre os níveis de isolamento social. Por exemplo: um prefeito pode ver o índice de sua cidade em relação ao estado ou país.
Essa iniciativa é diferente da implementada pela medida provisória 954/2020, assinada pelo presidente Bolsonaro na última sexta-feira (17) para permitir a troca de dados das operadoras de telefonia com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para a realização de Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, que mede o desemprego no país.
No caso do PM, os dados não são anonimizados. Pelo contrário: eles indicam o nome, números de telefone e endereços de clientes fixos e móveis.