A polícia canadense emitiu um ultimato na quarta-feira aos manifestantes que estão entupindo as ruas de Ottawa há 20 dias para deixar a capital, já que os líderes estaduais e provinciais dos EUA disseram que iriam embora.

As autoridades, enquanto isso, anunciaram um fim pacífico negociado para o mais recente de vários bloqueios de manifestantes recentes nas passagens de fronteira Canadá-EUA.

“Vocês devem deixar a área agora”, disse a polícia de Ottawa em um aviso distribuído aos caminhoneiros do lado de fora do parlamento.

Quem bloquear ruas ou ajudar outras pessoas a fazê-lo será preso e enfrentará acusações, multas e apreensão de seus caminhões, segundo o comunicado.

A polícia também alertou que qualquer pessoa acusada ou condenada por participar da manifestação ilegal, além das penalidades criminais, pode ser proibida de viajar para os Estados Unidos.

À medida que os avisos eram entregues, os jornalistas da AFP viram centenas de caminhões continuarem a ocupar as ruas do complexo parlamentar, buzinando, apesar da extensão de uma ordem judicial contra o barulho ensurdecedor obtida por um morador da área farto dos tumultos.

“Ainda temos muitos caminhões na fila”, disse à AFP o caminhoneiro David Shaw, de 65 anos. Se for preso, ele acrescentou: “Vou continuar voltando”.

O manifestante Jan Grouin, de 42 anos, criticou a decisão do primeiro-ministro Justin Trudeau no início desta semana de impor um estado de emergência, chamando-a de “uma reação exagerada talvez pensar que somos terroristas”.

Em um comunicado, o chefe de polícia interino de Ottawa, Steve Bell, disse que “um plano metódico e com bons recursos” seria realizado nos próximos dias “para retomar a totalidade do centro da cidade e todos os espaços ocupados”.

“Algumas das técnicas que legalmente podemos e estamos preparados para usar não são o que estamos acostumados a ver em Ottawa”, disse ele. “Mas estamos preparados para usá-los… para restaurar a ordem.”

Enquanto isso, o governador de Montana, Greg Gianforte, pediu aos líderes canadenses e norte-americanos em uma carta assinada por 16 governadores dos EUA, todos membros do Partido Republicano, para isentar os caminhoneiros dos requisitos de vacinação e quarentena ao cruzar a fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos.

Eles se juntaram ao primeiro-ministro de Alberta, Jason Kenney, e ao primeiro-ministro de Saskatchewan, Scott Moe, que apoiaram o comboio de caminhoneiros.

“O momento de sua decisão de encerrar as isenções de vacinas e quarentena não poderia ter sido pior, pois a América do Norte já enfrenta graves restrições na cadeia de suprimentos”, disse a carta endereçada ao presidente dos EUA, Joe Biden e Trudeau.

“Essas restrições, combinadas com o aumento da inflação, impõem encargos significativos aos residentes do Canadá e dos Estados Unidos”.

‘Está na hora disso acabar’
Incapaz de desalojar os manifestantes, Trudeau invocou esta semana a Lei de Emergências, que dá ao governo novos poderes para acabar com as manifestações contra as restrições da Covid. A medida marcou apenas a segunda vez na história do Canadá que tais poderes de emergência foram invocados em tempos de paz.

Trudeau disse a repórteres na quarta-feira que agora que a polícia está recebendo ajuda de outras unidades de aplicação da lei, eles devem “poder iniciar suas ações”.

“É hora de isso acabar”, disse ele, acrescentando que “cabe à polícia decidir quando e como”.

O chamado “Comboio da Liberdade” começou com caminhoneiros protestando contra as vacinas obrigatórias contra a covid para cruzar a fronteira dos EUA, mas suas demandas desde então cresceram para incluir o fim de todas as regras de saúde pandêmicas e, para muitos, uma agenda anti-establishment mais ampla.

No auge, o movimento também incluiu bloqueios de meia dúzia de passagens de fronteira, incluindo uma importante rota comercial através da Ambassador Bridge entre Windsor, Ontário, e Detroit, Michigan.

Quarenta e seis manifestantes foram presos e 37 veículos apreendidos durante operações policiais na fronteira Ontário-Michigan, e em Coutts, Alberta, quatro pessoas foram acusadas de conspiração para assassinar policiais. Eles estavam entre os 13 presos com um esconderijo de armas que incluía rifles, pistolas, coletes à prova de balas e munições.

Na quarta-feira, o ministro da Segurança Pública, Marco Mendicino, disse que a última passagem bloqueada, entre Manitoba e o estado norte-americano de Dakota do Norte, foi reaberta.

Enquanto os organizadores do protesto em uma coletiva de imprensa continuavam a encorajar os apoiadores a virem para a capital, Mendicino disse: “Não. Na melhor das hipóteses, os moradores da cidade deixaram claro que este não é o momento e, na pior das hipóteses, pode estar relacionado a atividades criminosas perigosas”.

As manifestações, disse ele, “não são sobre mandatos de vacinas”.

Em vez disso, ele descreveu os principais manifestantes como “um pequeno número de pessoas com determinação de aço, impulsionadas por uma ideologia extrema que buscaria derrubar o governo existente”.