Como a homofobia tornou o número 24 um tabu no futebol brasileiro

Como a homofobia tornou o número 24 um tabu no futebol brasileiro

(ARQUIVOS) Nesta foto de arquivo tirada em 22 de fevereiro de 2020, o jogador brasileiro do Flamengo, Gabriel Barbosa, veste a camisa número 24 como parte de uma campanha contra a homofobia durante a final da Taça Guanabara 2020. contra o Boavista no estádio do Maracanã, no Rio . de Janiero, Brasil. (Foto de Dhavid NORMANDO/AFP)

As camisas de futebol estão por toda parte no Brasil louco por futebol, muitas vezes com os números das lendas de todos os tempos do país: 9 de Ronaldo, 10 de Pelé, 11 de Romário.

Mas um número está fora dos limites: 24, foco de um tabu homofóbico cuja história de origem é uma louca montanha-russa por mais de um século de história brasileira, acabando com atitudes atuais, mas mudando lentamente, contra homossexuais que ocupam lugar predominante no futebol atual .

A história do tabu do 24 remonta a 1892, quando o fundador do primeiro zoológico do Brasil, Barão João Batista Viana Drummond, concebeu uma forma criativa de resolver seus problemas financeiros: uma loteria chamada “o jogo do bicho” (o jogo do bicho). dos animais). ).

Os visitantes do Zoológico do Rio de Janeiro recebiam uma estatueta de um animal, e todos os dias a equipe do barão selecionava aleatoriamente um dos 25 animais, com prêmio em dinheiro para todos que possuíssem aquela estatueta.

O jogo logo explodiu, quando empresários de raciocínio rápido imprimiram cartões de bingo com todos os 25 animais e começaram a vender tiros em diferentes jackpots.

O jogo foi banido três anos depois, mas já havia se tornado uma instituição brasileira, e ainda é hoje, dirigido por uma máfia ligada a alguns dos maiores negócios do Brasil: política, carnaval, música… e futebol.

O quadrado 24 no cartão de jogo é um veado, ou “veado”, uma palavra usada como um insulto homofóbico em português, aparentemente porque os veados são vistos como femininos e às vezes têm relações homossexuais.

E é por isso que os jogadores de futebol masculino no Brasil temem o número 24.

“É uma loucura quando você pensa sobre isso, porque é apenas um número como qualquer outro. Mas definitivamente existe um tabu”, disse Bernardo Gonzales, ativista LGBTI e jogador do time de futsal masculino trans Sport Club T Mosqueteiros, em São Paulo.

Ele disse que alguns brasileiros até evitam 24 anos ao escolher um lugar no cinema, alugar um apartamento ou fazer 24 anos, dizendo que são 23+1.

“Os jogadores de futebol preferem usar outro número, porque não querem que ninguém questione sua masculinidade”, disse ele à AFP.

‘Aqui não’

    O Brasil começou mais uma vez com a presença restrita de uma camisa com o número 24, que clubes e jogadores evitam devido a uma longa e polêmica associação entre esse número e a homossexualidade.

(ARQUIVOS) Nesta foto de arquivo tirada em 9 de abril de 2021, o goleiro brasileiro do Grêmio, Brenno, cumprimenta um companheiro de equipe após a partida das eliminatórias da Copa Libertadores de futebol contra o Independiente do Vale do Equador no Estádio Defensores del Chaco, em Assunção. (Foto de Nathalia Aguilar/PISCINA/AFP)

Na primeira divisão masculina brasileira, apenas quatro das 20 equipes têm atualmente o número 24. Três são jogadores jovens em seus primeiros contratos profissionais.

“Acho importante que todos os clubes incluam (o número)”, disse um deles, Kevin Malthus, meio-campista de 19 anos do Santos.

“É apenas um número que acabou com esse preconceito homofóbico em torno dele. Mas alguns grandes atletas já usaram, como Kobe Bryant”, disse ele ao site de notícias UOL.

O maior nome do futebol brasileiro atualmente usando o número é Victor Cantillo, meio-campista internacional colombiano que chegou ao Corinthians vindo de São Paulo em 2020.

Cantillo causou alvoroço ao chegar ao Brasil ao decidir manter o número 24, que usava em seu clube anterior, o Junior.

“Não aos 24, não aqui”, disse o diretor de futebol do Corinthians na época, Duilio Monteiro Alves.

O comentário gerou uma reação generalizada e uma campanha em que vários jogadores, incluindo uma das maiores estrelas do Brasil, o atacante do Flamengo Gabigol, usaram o número para uma partida.

Mas a polêmica continua.

O grupo de direitos LGBTQ Arco-Íris recentemente levou o Flamengo ao tribunal por excluir o camisa 24 de seu elenco para uma copa sub-20 em São Paulo no mês passado.

Os promotores disseram que seria difícil provar um “motivo discriminatório”, e o caso foi arquivado.

Um jogador de outro time do torneio, o ala do América Mineiro Jurandir, vestiu o número 24 e gerou cânticos homofóbicos.

‘Símbolo de resistência’

(ARQUIVOS) Nesta foto de arquivo tirada em 22 de fevereiro de 2020, o jogador brasileiro do Flamengo, Gabriel Barbosa, mostra uma camisa com o número 24 como parte de uma campanha contra a homofobia durante a partida final da Taça Taca Guanabara 2020. contra o Boavista no Maracanã estádio, no Rio.  de Janiero, Brasil.  -

(ARQUIVOS) Nesta foto de arquivo tirada em 22 de fevereiro de 2020, o jogador brasileiro do Flamengo, Gabriel Barbosa, mostra uma camisa com o número 24 como parte de uma campanha contra a homofobia durante a partida final da Taça Taca Guanabara 2020. contra o Boavista no Maracanã estádio, no Rio. de Janiero, Brasil. (Foto de DHAVID NORMANDO/AFP)

“Apesar de todas as críticas e movimentos sociais, não foi o suficiente” para erradicar o tabu, disse o sociólogo Rodrigo Monteiro, da Universidade Federal Fluminense.

“O futebol ainda é um espaço muito masculino.”

A controvérsia foi amplamente poupada da seleção brasileira, já que a maioria dos torneios internacionais permite apenas 23 jogadores e exige números sequenciais.

Mas no ano passado, quando os estragos do Covid-19 levaram os organizadores da Copa América a permitir equipes de 28 jogadores, o Brasil foi o único país a não registrar o número 24.

A Arco-Iris também levou o caso ao tribunal, chamando o movimento de “homofóbico”.

A Confederação Brasileira de Futebol disse que a decisão foi baseada em “considerações esportivas” e o caso foi arquivado.

Em contraste, o número 24 é usado regularmente no futebol feminino brasileiro e é muito popular em times LGBTQ.

“É um símbolo de resistência”, disse Gonzales, ele próprio vestindo o número 24.

HISTÓRIAS RELACIONADAS

Receba as últimas notícias esportivas diretamente na sua caixa de entrada

leia a seguir

Não perca as últimas notícias e informações.

inscrever-se para PERGUNTA MAIS para ter acesso ao The Philippine Daily Inquirer e mais de 70 outros títulos, compartilhe até 5 dispositivos, ouça as notícias, baixe a partir das 4 da manhã e compartilhe artigos nas redes sociais. Ligue 896 6000.

You May Also Like

About the Author: Ivete Machado

"Introvertido. Leitor. Pensador. Entusiasta do álcool. Nerd de cerveja que gosta de hipster. Organizador."

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *