Brasília — O Brasil deve cumprir suas obrigações internacionais e fortalecer seus mecanismos nacionais de prevenção contra a tortura, disseram especialistas independentes da ONU nesta sexta-feira, após concluir uma visita ao país, que abriga a terceira maior população carcerária do mundo.
A chefe da delegação de três membros do órgão de prevenção à tortura da ONU, que visitou no início deste mês, Suzanne Jabbour, exortou o país a “abandonar sua decisão de desmantelar o mecanismo nacional de prevenção à tortura”.
Ele também pediu ao Brasil que “respeite seus compromissos internacionais de direitos humanos e consolide seus recursos e esforços para combater a tortura”.
Privado de liberdade
O Brasil tem mais de 750.000 detidos e muitas prisões superlotadas, de acordo com o escritório de direitos humanos da ONU, OHCHR.
Durante sua visita à capital, Brasília, a delegação da Subcomissão de Prevenção à Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes (SPT), reuniu-se com a Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, parlamentares, Suprema Corte e outros.
A delegação também realizou reuniões com o Mecanismo Nacional de Prevenção à Tortura (MNPCT), órgão de fiscalização da prevenção da tortura no país, seus pares nos quatro estados onde atua e representantes da sociedade civil ligados à prevenção da tortura.
“Todos os altos funcionários com quem nos reunimos concordaram que um mecanismo preventivo independente e que funcione bem é absolutamente essencial, tanto no nível federal quanto no estadual”, disse Jabbour.
enfraquecendo o sistema
Segundo a especialista da ONU, os mecanismos preventivos do Brasil enfrentam “desafios críticos”, mas ela assegurou que “apesar da falta de recursos e apoio, estão fazendo um trabalho notável”.
Espera-se nas próximas semanas uma decisão do Supremo Tribunal Federal para decidir sobre a legalidade de um Decreto Presidencial de 2019 que estabelece que os membros do MNPCT devem trabalhar de forma voluntária, sem remuneração.
Além disso, a Gerência decidiu unilateralmente reduzir severamente o apoio de secretariado e profissional ao mecanismo.
“Continuaremos a colaborar com os mecanismos brasileiros de prevenção e as autoridades, instituições e sociedade civil relevantes e apoiaremos seus esforços para estabelecer um sistema de monitoramento forte, funcional e independente para prevenir a tortura no país”, destacou Jabbour.
Obrigações
Os Estados Partes do Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura (OPCAT) são obrigados a estabelecer mecanismos preventivos nacionais funcionais e independentes.
O Brasil estabeleceu um sistema nacional de prevenção da tortura em 2013, mas apenas quatro de seus 26 estados estabeleceram um órgão que visita regularmente pessoas encarceradas para prevenir tortura e maus-tratos, bem como para fazer lobby por melhores condições.
Os especialistas
Além de. Jabbour, a delegação do SPT foi composta por Juan Pablo Vegas, chefe da Equipe Regional do SPT para a América Latina e relator para o Brasil; e Nora Sveaass, que também visitou o país em 2015.
Relatores especiais e especialistas independentes são nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, com sede em Genebra, para examinar e relatar uma questão específica de direitos humanos ou a situação de um país. Os encargos são honorários e os peritos não são pagos pelo seu trabalho. — Notícias da ONU