Horários de Buenos Aires | Disputa sobre ‘machismo’ em música do ícone brasileiro Chico Buarque

Em 1966, a falecida cantora de bossa nova Nara Leão pediu ao ícone da música brasileira Chico Buarque que lhe escrevesse uma música sobre uma mulher sofrida esperando por seu homem.

Cinquenta e seis anos depois, a amada canção ‘Com açúcar, com amor (“Com açúcar e carinho”), está no centro de uma tempestade no Brasil depois que Buarque disse que decidiu parar de cantá-la devido a críticas sexismo em suas letras.

“As feministas estão certas”, disse Buarque em uma série de documentários sobre a vida de Leão que estreou em 7 de janeiro na plataforma brasileira de streaming Globoplay.

“Sempre vou concordar com as feministas”, acrescentou a cantora, hoje uma lenda viva da música popular brasileira de 77 anos.

Isso desencadeou uma tempestade sobre a “cultura do cancelamento”, o politicamente correto e o feminismo em um Brasil profundamente dividido antes das eleições de outubro que decidirão se o controverso presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro ganhará um novo mandato.

“Isso chegou ao cúmulo da insanidade! Tudo por causa das feministas. INSANO!” leia uma reação típica no Twitter.

“Isso levou muito tempo, não foi?” foi uma reação típica do campo adversário.

“Eu sempre odiei essa merda sexismo-música completa Acho que as pessoas que o romantizam são estranhas.”

A música é escrita a partir da perspectiva de uma mulher que preparou o “doce, açúcar e amor favoritos” de seu homem, mas está presa esperando que ele volte para casa enquanto ele está na balada e cobiçando outras mulheres.

Independentemente disso, quando ela finalmente chega em casa, ela canta: “Eu vou aquecer seu prato favorito… e abrir meus braços para você”.

‘Canção da mulher que sofre’

“Você tem que entender que naqueles dias nunca passou pela nossa cabeça que isso era uma forma de opressão, que as mulheres não deveriam ser tratadas assim”, disse Buarque, um amado cantor e compositor conhecido por sua voz acetinada e azul. olhos verdes, sorriso de galã e uma carreira de seis décadas.

“Eu não vou cantar”Com açúcar, com amor mais, e se Nara estivesse aqui, tenho certeza que ela também não cantaria”, acrescentou Buarque, cujo repertório inclui inúmeras canções escritas a partir da perspectiva de uma mulher.

Leão, que morreu em 1989 aos 47 anos, é considerado um dos fundadores da bossa nova, o gênero musical que evoluiu do samba brasileiro na década de 1950 no Rio de Janeiro.

Buarque disse que havia pedido a ela uma “canção de uma mulher que sofre”. Ele obedeceu e passou a cantar ele mesmo também.

Mas alguns comentaristas apontaram que Buarque não cantava a música ao vivo desde pelo menos a década de 1980, descartando a disputa que estourou na mídia, nas redes sociais e nos círculos culturais como uma polêmica inventada.

“Devemos atentar para o fato de que este episódio foi usado para atacar o feminismo e os movimentos sociais, supostamente responsáveis ​​por censurar as criações artísticas e impor o politicamente correto”, escreveu a colunista Amara Moira no site. BuzzFeed.

“Nada disso realmente aconteceu. Mas nestes tempos de notícias falsas e reações malucas, isso pouco importa.”

Se a música e a controvérsia em torno dela são ou não história antiga, eles geraram uma nova criação musical esta semana.

Na quarta-feira, a cantora Viviane Davoglio e a compositora Iavora Cappa postaram uma versão revisada da música no YouTube, chamada ‘Com ternura e carinho’ (“Com ternura e carinho”).

Em sua versão, é a protagonista feminina que sai pela cidade à noite e depois volta para casa com seu homem chorando, que aquece seu prato favorito.

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por Joshua Howat Berger

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