Este programa demorou muito para ser feito. “Percebemos em 1997 que o açaí se desenvolveu muito no norte do Brasil devido ao consumo do fruto”, diz Gilberto Ohta, diretor da Coopercentral Vale do Ribeira, cooperativa de agricultura familiar que reúne mais de 1.500 agricultores. “Então, copiamos essa estratégia e começamos a colher os frutos da juçara para fazer a polpa. É um produto que gera viabilidade econômica para nós.”
Hoje, mais de 100 comunidades paulistas cultivam juçara em quintais e espaços agroflorestais, fora das reservas naturais da Mata Atlântica. Esses agricultores também têm outras culturas, como banana e palmito chamado “pupunha”. A pupunha vem de outro tipo de palmeira, mas a extração é legal porque não mata a planta, que pode voltar a crescer.
De acordo com Ohta, porque coquinho da juçara é um produto muito novo, o comércio de sementes da Fundação Florestal é parte importante do esforço para transformar a fruta em um produto economicamente viável.
Em 2020, o esforço de repovoamento da fundação ganhou impulso ao testar a dispersão de sementes em uma reserva florestal usando um helicóptero. De acordo com os cientistas envolvidos no esforço, como resultado, foram geradas 200 mil novas mudas, uma por metro quadrado de área semeada. Desde então, a fundação vem empregando dois drones para dispersar as sementes, uma opção mais acessível. “Em 2021, descobrimos algumas empresas de drones agrícolas com tecnologia capaz de se adaptar para lançar 3,5 quilos de sementes por decolagem”, explica Kors.
No ano passado, a meta era repovoar 600 hectares de Mata Atlântica em 17 parques naturais do estado com 30 toneladas de sementes. Em 10 anos, pesquisadores esperam semear juçara em 48 mil hectares.
OS LÍDERES DA RECUPERAÇÃO DA JUÇARA ESPERAM QUE O FRUTO GANHE EM POPULARIDADE, TANTO COMO O AÇAÍ. Conhecido como a “superfruta” da Amazônia, o açaí injeta mais US$ 1,5 bilhão anualmente no estado do Pará, no norte do Brasil, que é responsável por 95% da produção nacional. Do total, 60% são vendidos no Pará, 35% para outras regiões do país e 5% são exportados para o exterior, principalmente para os Estados Unidos.
Enquanto os paraenses costumam comer açaí como refeição com camarão, carne e outras proteínas, em outras partes do Brasil a polpa é uma espécie de sobremesa, comumente consumida com frutas e sementes. Nos EUA, as bagas são comercializadas como um produto de saúde e bem-estar devido à alta carga de antioxidantes, gorduras saudáveis e baixo teor de açúcar do açaí.
O que muita gente não sabe é que o valor nutricional da fruta da juçara supera até mesmo o do açaí, Juçara, por exemplo, é mais rico em potássio, ferro e zinco. Também é quatro vezes maior em antocianinas, antioxidantes que possuem propriedades anti-inflamatórias e antidiabéticas, e que também podem melhorar a circulação sanguínea e proteger o organismo contra o acúmulo de placas de gordura. Dado seu alto valor nutricional, vários municípios paulistas têm incorporado a fruta nos cardápios escolares.
Em geral, o produto da juçara ainda é comercializado em pequena escala, mas as comunidades do Vale do Ribeira buscam desenvolver uma cadeia produtiva da juçara. “Com a colheita do fruto, há um retorno financeiro muito maior do que a extração do palmito, pois há o comércio da polpa e a venda de sementes para o repovoamento da espécie”, diz Lima.
Além de gerar renda para os agricultores familiares, manterá a palmeira nativa da Mata Atlântica, bioma que foi reduzido a 12% de seu tamanho original. “Pensar na questão ambiental, priorizando a conservação, é fundamental trabalhar com as frutas. É uma economia regenerativa, uma economia circular”, acrescenta Otha.