Glândula, Suíça— Grupos conservacionistas enviaram hoje uma carta urgente à Secretaria da Convenção de Ramsar solicitando uma avaliação completa dos danos causados pelos recentes incêndios no Pantanal — a maior área úmida tropical do mundo — no Brasil, Bolívia e Paraguai.
Hoje, no Dia Mundial das Zonas Úmidas, os grupos pediram à secretaria que conduzisse uma missão de assessoria a seis zonas úmidas do Pantanal de importância internacional listadas na convenção. Eles também pediram que as zonas úmidas fossem inscritas no Registro de Montreux, a lista oficial mundial de zonas úmidas ameaçadas de extinção.
A solicitação foi enviada pela Associação Interamericana para a Defesa do Meio Ambiente, o Centro de Diversidade Biológica e Ecologia e Ação no Dia Mundial das Zonas Úmidas. As organizações também pediram aos três governos que implementem medidas urgentes para preservar o Pantanal como um ecossistema transfronteiriço.
Os sítios Ramsar abordados na solicitação são o Pantanal Boliviano, a Reserva Particular do Patrimônio Natural SESC Pantanal, a Reserva Particular do Patrimônio Natural Fazenda Rio Negro, o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense e a Estação Ecológica do Taiamã no Brasil, bem como o Parque Nacional do Rio Negro no Paraguai.
“A designação de Ramsar em perigo é crucial para combater os enormes e sem precedentes incêndios do Pantanal, que agora ameaçam Bolívia, Brasil e Paraguai”, disse Alejandro Olivera, cientista sênior do Centro de Diversidade Biológica. “Políticas públicas que promovem a expansão da agricultura e pecuária e permitem queimadas no Pantanal se combinaram com a limitada colaboração transfronteiriça para criar um barril de pólvora. Os incêndios que danificam o ecossistema continuarão sem compromissos mais fortes para proteger esses habitats críticos de zonas úmidas”.
Em 2020, os incêndios devastaram 4,3 milhões de hectares da região do Pantanal — o maior número desde o início do monitoramento em 1998; o número de incêndios na área foi 508% superior à média. Nesse mesmo ano, os incêndios queimaram 100% do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense. Pelo menos 10 milhões de animais morreram em três meses. Incêndios excepcionalmente grandes continuaram em julho de 2021.
“Estamos pedindo aos Estados que cumpram as obrigações adquiridas antes da convenção, gerando mecanismos coerentes e implementando políticas e normas para proteger o Pantanal”, disse Claudia Velarde, advogada da Associação Interamericana de Defesa do Meio Ambiente. “Uma missão consultiva aos seis sítios Ramsar poderia fornecer assistência especializada aos governos brasileiro, boliviano e paraguaio para superar as condições que geram risco para a conservação e uso racional desta importante zona úmida.”
A inscrição dos sítios no Registro de Montreux pode resultar em auxílio econômico, apoio e assessoria técnica, para a recuperação do Pantanal nos três países.
“Enviamos um alerta urgente para a Bolívia, Brasil e Paraguai focarem no Pantanal como a maior área úmida transfronteiriça de água doce do mundo”, disse André Siqueira, diretor-presidente da Ecologia e Ação. “A Convenção de Ramsar não pode atingir seus objetivos se os ecossistemas que protege forem significativamente danificados pelo uso contínuo do fogo, agronegócio e falta de recursos adequados para combater os incêndios.”
A biodiversidade e a riqueza ecológica do Pantanal são incalculáveis. Pelo menos 3.500 espécies de plantas, cerca de 600 aves, 150 mamíferos, 175 répteis, 40 anfíbios e 300 peixes de água doce habitam o bioma. Muitos estão em perigo de extinção em outras regiões: estes incluem o tuyuyú e a onça-pintada, o veado-do-pantanal, a ariranha e a arara, que são espécies emblemáticas da região. O Pantanal abriga a maior concentração de algumas espécies animais, como a onça-pintada e o jacaré.