Flavia Cass geralmente não fica tão nervosa assistindo sua filha, Sabrina Cass, esquiar nas pistas de magnatas, mas ela pode sentir borboletas no estômago durante a rodada classificatória de quinta-feira da Deer Valley FIS Freestyle World Cup.
É a primeira temporada completa de Sabrina no circuito da Copa do Mundo e Flavia não está acostumada a ver a filha competir contra alguns dos melhores atletas do mundo.
“Fico muito nervosa, nunca estive nervosa antes”, disse Flavia. “Mas é muito divertido para ela estar aqui competindo com todos esses atletas incríveis e como as garotas estão fazendo um show incrível, então eu adoro isso”.
O dia de Sabrina não terminou tão bem quanto ela esperava: seu 27º lugar a manteve fora da final de 16 mulheres, mas um top 30 a ajuda a se manter firme. Ela seguiu com um 21º lugar na sexta-feira.
As ambições de Sabrina são semelhantes às de praticamente todo mundo na Copa do Mundo: chegar às Olimpíadas. No entanto, o que a diferencia de outras atletas que já garantiram vaga nos Jogos de Pequim no próximo mês ou que esperam fazer seus respectivos times é que a jovem de 19 anos está competindo pelo Brasil.
No domingo, quando a Lista de Atribuição de Cotas Olímpicas determinar quantos atletas podem competir por cada país, Sabrina poderá se tornar a primeira esquiadora magnata a competir pelo Brasil nas Olimpíadas de Inverno. Existem 30 vagas para magnatas nas Olimpíadas, e Cass está em 28º lugar no mundo na lista de pontos mais recente da FIS.
O país tropical é mais conhecido por suas proezas em esportes como futebol e vôlei, e uma rápida pesquisa no Google por “estação de esqui brasileira” produz apenas uma montanha artificial em São Paulo e um parque de diversões. Desde sua primeira aparição nas Olimpíadas de Inverno em 1992, o Brasil enviou uma delegação para cada um dos Jogos subsequentes, mas nenhuma competiu em magnatas.
Sabrina é originalmente de Connecticut e vai e volta para Park City para treinar. Flavia é brasileira e conheceu o pai de Sabrina em uma estação de esqui em Kitzbuhel, na Áustria. Depois de se casarem, eles se mudaram para Park City em 1994, mas depois se mudaram para a Costa Leste para trabalhar.
Os pais de Sabrina adoram esquiar e conseguiram que seus filhos o fizessem. Uma das lembranças favoritas de Flavia é quando Sabrina e seu irmão mais novo eram crianças esquiando no Sugarbush Resort em Vermont.
“Eles estavam se divertindo muito”, lembrou. “Eu amo essa memória porque eles eram pequenos e se divertiram conosco.”
Quando Sabrina tinha 9 ou 10 anos, seus pais queriam que ela começasse a correr, mas ela inicialmente recusou. Eles chegaram a um acordo: ele tentaria uma vez e não teria que fazer de novo se não gostasse. Isso foi tudo o que precisou.
“Ele voltou para mim dizendo: ‘Adoro, quero continuar’, e depois quis ir a todas as competições daquela temporada”, disse Flavia. “Por volta dos 12, nós dissemos: ‘Uau, ela está indo muito bem, nós definitivamente precisamos deixá-la ir e fazer tudo o que pudermos para dar a ela o treinamento certo e a oportunidade certa de ser o melhor que ela pode ser.'”
Como Sabrina começou a melhorar e se desenvolver, a família decidiu se mudar para Park City no inverno. A ideia de Sabrina disputar o Brasil começou como uma brincadeira, pois Flavia, brincando, lembrava aos filhos quando eram mais novos que eles poderiam um dia representar o Brasil nas Olimpíadas. Mas uma amiga de Flavia ressaltou que o Brasil tem uma federação própria, a Federação Brasileira de Esportes de Neve. Com o apoio dos dois países, Sabrina, que dizia ter dupla cidadania, fez a transição para representar o Brasil no ano passado.
Cass estava na equipe de esqui dos EUA há alguns anos na época e venceu o campeonato mundial júnior de 2019, mas sentiu que a mudança seria de seu interesse.
“Foi definitivamente uma decisão difícil, pensei que teria mais chances de alcançar meus objetivos com a seleção brasileira”, disse Cass. “A equipe do Brasil está nos ajudando com o financiamento e eles são ótimos em planejar tudo, como viagens e coisas assim. Então tem sido incrível, e eu não esperava que o Brasil tivesse uma federação tão forte, mas eles têm.”
Sabrina precisava de um treinador, então ela recorreu a uma ex-companheira de equipe dos EUA, Nessa Dziemian, um acordo que tem apenas alguns dias. Dziemian se aposentou no ano passado e aceitou a oferta quando Sabrina a procurou em busca de um treinador.
“É muito divertido porque ela é minha companheira de equipe há muito tempo e estou muito orgulhoso dela apenas por fazer isso e esquiar pela seleção brasileira”, disse Dziemian. “É tão ousado e corajoso da parte dele. É difícil mudar de treinador em um ano olímpico, sabe? E ela está absolutamente arrasando e fazendo tudo o que pode para tornar esse sonho realidade.”
Os dois foram companheiros de quarto no campeonato nacional do ano passado, depois de passarem os dois anos anteriores juntos na seleção. Sabrina fazia parte da equipe enquanto Dziemian estava se recuperando de uma lesão no ligamento cruzado anterior, e eles se uniram cantando, dançando e fazendo TikToks. Segundo Dziemian, Sabrina canta muito bem com Adele.
Dziemian também foi uma das primeiras pessoas a saber que Sabrina estava debatendo a mudança de país. Agora, ele espera chegar a Pequim com ela.
“Eu me aposentei e ela me perguntou no verão, eu disse sim, e aqui estamos na Copa do Mundo (Deer Valley) e estou treinando ela”, disse Dziemian. “Estou presente desde o início. Sinto que a ajudei a tomar a decisão.
“É muito bom ajudar um amigo, e principalmente Sab porque somos muito próximos.”
Esquiar no Brasil também traz algumas vantagens. Sabrina disse que se classificou automaticamente para a Copa do Mundo por meio de sua federação, mas fez todo o possível para provar que pertence.
“Estou muito animada por estar aqui representando o Brasil e minha família lá”, disse ela. “Estou animado para ver o que o futuro reserva.”
Embora possa ser estressante ver sua filha tentar afastar os melhores magnatas do esqui do mundo, Flavia não pode deixar de sentir uma enorme sensação de orgulho ao ver Sabrina usar o verde, amarelo e azul de sua terra natal.
“Acho incrível”, disse Flavia. “Minha família inteira ainda está no Brasil, e todos a apoiam, claro. E é muito emocionante para todos nós, porque nunca tivemos ninguém na minha família que fosse atleta chegando a esse nível”.