“Poderia ter sido pior se isso tivesse acontecido há 15 anos. Tudo trancado em casa com um Nokia 3310, um pacote com apenas 20 SMS, dez horas de chamadas e apenas um jogo do worm”.
Sim, poderia ser pior, como lembrou o meme que se espalhou pelas redes sociais. E quanto mais você olha para trás, mais difícil é imaginar como seria para um milênio enfrentar a quarentena do novo coronavírus sem WhatsApp, mensagens de vídeo, vidas, YouTube, streaming, histórias do Instagram e aplicativos de compras.
É certo que, no início dos anos 80, quando nasceu a primeira onda desta geração, se alguém perguntasse como seria a vida no planeta em 40 anos, seria difícil acreditar que, em vez de pilotar carros e limpar robôs Ficávamos trancados em casa por uma hora e sob a ameaça de uma pandemia e da praga da ignorância.
Mas acredite: embora a transmissão do vírus tenha seguido a dinâmica de um mundo cada vez mais compacto, onde pessoas, serviços e produtos circulam a toda velocidade, nunca houve tantas ferramentas para enfrentar crises desse tipo como agora. Mesmo para suportar as (muitas) horas em quarentena.
Em vez de iFood, pizza-disco
O cenário da pandemia teria sido muito diferente 40 anos atrás. Os sons também, começando com o barulho das panelas, combinados em grupos do WhatsApp e mensagens compartilhadas nas redes sociais.
Pelo menos no Brasil, boa parte da população seria pouco afetada pelo “zumbido” em torno da doença, uma vez que cerca de 33% dos habitantes do país ainda viviam no campo e teriam pouco contato com pessoas infectadas no país. o outro lado do mundo.
Nas áreas urbanas, onde a aviação civil e o transporte terrestre estavam em ascensão, o risco seria maior. Além disso, cidades como São Paulo estavam enfrentando o auge do processo de densificação e verticalização e, como acontece hoje, medidas de contenção seriam inevitáveis.
Pizza? Apenas ligando
Nas cozinhas de apartamentos cada vez mais populares, não iFood e Rappi: ímãs de geladeira (para quem tinha uma geladeira) e páginas amarelas da lista telefônica seriam a maneira obrigatória de acessar os serviços que começaram a aparecer atrás 40 anos, como as chamadas de pizza de discoteca e tele-entrega.
Naquele ano, a capital de São Paulo alcançou a marca de 1,6 milhão de veículos e uma saída para perfurar o congestionamento era de motocicletas de 125 a 250 cilindros: o Honda CG 125 já era fabricado no Brasil desde 1976 e se tornaria no veículo Country mais vendido. Assim começou a história dos motoboys na maior cidade do Brasil.
Nas cidades menores, a quarentena teria um impacto no fluxo do comércio de porta em porta, ainda comum na época. O leiteiro deve evitar falar nas portas. Serjão, um vendedor de queijo que costumava passar em nossa casa em Araraquara uma vez por semana com um carrinho, provavelmente teria que suspender a atividade.
Se, por um lado, um grande número de serviços e refeições ainda não estivesse no menu do aplicativo e não seria mais consumido enquanto durasse a calamidade, por outro, não haveria tanta ansiedade com o fluxo de informações atualizadas em tempo real em smartphones que transportamos para a cama antes de dormir. Não há muita preocupação com notícias falsas e declarações destemidas de funcionários eleitos.
Haveria uma espera ainda mais longa por edições semanais de jornais e revistas, cujo desafio era reunir informações do mundo até o fechamento da edição em papel. Enclausurado em uma casa de campo, eu precisaria enviar por fax este texto. Ou carta. Ou dite tudo por telefone, em um momento em que os telefones fixos eram caros e deram ao status de proprietário, com uma fila de espera e aluguel para gerar renda.
Sem videochamadas, a solução era esperar um horário de tarifa reduzida, provavelmente no fim de semana, para conversar com familiares isolados em outras cidades. Ou vá a um telefone público e solicite chamadas a cobrar ou DDD (discagem direta), sem primeiro borrar os plugues, o cabo e o telefone público com gel de álcool, criado em 1966 pelo estudante de enfermagem da Califórnia Lupe Hernandez
As operadoras de telégrafo e operadoras de telex seriam profissionais em ascensão nos tempos pré-Internet, atingindo famílias apenas na segunda metade da década de 90.
“Nós não precisamos de educação …”
O rádio, inevitavelmente, seria o principal veículo de informação sobre a crise, reunindo famílias ao redor do dispositivo no final do dia, como aconteceu no anexo descrito no “Diário de Anne Frank” no meio da Segunda Guerra Mundial. Nos intervalos, seria possível ouvir os sucessos da época. Em 1980, nenhuma música foi ouvida mais no rádio do que “Balancê”, de Gal Costa, seguida por “Another Brick in the Wall”, do Pink Floyd.
Para tocar, nossas músicas favoritas continuariam ocupando espaço significativo em salas em quarentena, com alto-falantes, gadgets e discos de vinil. O primeiro CD da história, o álbum “52nd Street” de Billy Joel, não foi lançado até 1982.
Até então, a televisão alcançava apenas 55% de um total de 26,4 milhões de lares brasileiros, segundo o censo daquele ano. Alguns dos aparelhos ainda estavam em preto e branco, e as notícias, uma importante ferramenta de denúncia mesmo na quarentena atual, foram censuradas até fevereiro de 1980.
Para distrair as crianças, não havia muitas opções na televisão aberta, além de programas como “Vila Sésamo”, “Sítio do Picapau Amarelo” ou mesmo “Os Trapalhões”. O caminho era atrair brinquedos da época, como Commandos in Action, Ballerina Doll e Stratus.
A programação ao vivo, como agora, certamente seria afetada, com atrações canceladas e eventos vazios.
TV a cabo? Streaming? Bem …
Em 2020, diante das contingências, muitos programas de esportes na televisão paga tiveram que recorrer a jogos históricos para limitar a programação regular. Quarenta anos atrás, até isso seria impossível, já que a TV paga só seria regulamentada por aqui em 1988.
Escusado será dizer que a série de maratonas era tecnicamente impossível até a chegada da transmissão. Caberia às autoridades transformar a boa loja do bairro em uma área de serviço essencial, com instruções para que os clientes pesquisassem, rebobinassem e desinfetassem as fitas VHS (lacradas, é claro) antes de devolvê-las. Para as crianças, o maior sucesso da Disney naqueles anos ainda era “Bernardo e Bianca”, de 1977.
Fogão a gás e Atari
Alguns equipamentos que facilitavam a vida no apartamento já existiam há alguns anos, como o ar-condicionado, a máquina de lavar e o Atari 2600. No entanto, o preço ainda era um obstáculo.
Armazenar alimentos para evitar o contato social nos supermercados também não seria uma tarefa fácil, pois o primeiro freezer vertical no mercado foi lançado em 1978 e ainda não havia se tornado popular. Como o microondas, uma invenção de 1947 que inundaria as cozinhas brasileiras apenas nos anos 90. Um alívio, já que o primeiro equipamento de aquecimento de salsichas com microondas tinha quase dois metros de altura.
A lasanha congelada, portanto, ainda era comida de astronauta, e as lendas sobre as ondas de câncer no interior ainda levariam alguns anos para se espalhar de boca em boca.
Não sei quanto a você, mas se Marty McFly me pediu para voltar ao futuro, nem eu, que sinto nostalgia, pensaria duas vezes antes de embarcar em qualquer lugar que eu pudesse enviar essa mensagem de e-mail em algum lugar no tempo e no espaço.
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