Quarta-feira ensolarada no pátio vermelho do pequeno edifício. As formigas passam carregando os restos de um acidente verde como uma tempestade se aproximando. Se não fosse pela distância, ele podia ouvi-los suspirar sem fôlego, pensou Gino, da janela 1B.
O que as pessoas estariam fazendo nesse momento se o vírus não existisse? Seriam como essas formigas, sem perceber que, se um gigante as observasse da janela, ririam com tanta seriedade ofegante e também com as cinzas sopradas pelo vento, entrando em suas bocas. Ah, esses gigantes …
A fragilidade é a chave para a sobrevivência neste planeta. Daqui vêm as notas do violão, o xadrez da construção humana ou a prosa universal dos papas de Fernando Meirelles. Pouco de bom sai com ferro e fogo.
Talvez 1% do mundo entenda isso ao mesmo tempo. Poderia ser o caminho para melhorar o humor do planeta, é claro, depois de devolver os focinhos aos cães e nos beijar. Ele se inclinou um pouco e beijou Olavo, um cão pastor com um casaco grande, um companheiro inseparável de noites filosóficas, com ou sem coronavírus.
Foi nesse intervalo estreito que aconteceu. Gino até ouviu o barulho e viu a massa branca escorrer pelo canto do olho, mas isso não foi suficiente para concatenar tudo. Então, quando olhou para baixo e viu seu vizinho naquele estado, engasgou com a fumaça e tossiu por cerca de quinze segundos, antes que pudesse dizer qualquer coisa.
– Cláudio !!! Diga alguma coisa, Cláudio! Está tudo bem aí?
Oh! Ai Ai Ai.
– Que diabos, Claudio? Batman se converteu? Hahahaha
– Ahhh, meu calcanhar, acho que torci o calcanhar.
– O que foi isso, querida? Poderia ter escorregado, mesmo que fosse apenas o calcanhar.
– Err, eu tenho que ir para casa. Abra para mim, Gino. Venha aqui e abra-a porque a porta do pátio só se abre por dentro.
Se o outro tivesse sido o contexto, certamente teria descido sem dizer mais nada. Mas no meio de uma tarde filosófica, a cena do vizinho embrulhada em papel higiênico rasgado não tinha preço e não podia ser desperdiçada assim.
– Calma, Cláudio! Você quer que eu peça ao Jaime para ir lá?
– não não. Apenas abra a porta do pátio para eu entrar. Eu preciso ir para casa, isso é sério!
A broca deturpou-se.
– Hmm, então espere um pouco enquanto eu vou.
– Agora vem! Venha agora, toupeira …
ola
– Gino, abra essa porta! Olhe para o meu estado, garoto!
– Sim, se eu abrir assim, terei que viver para sempre com o inexplicável dessa situação – ele disse com um leve sorriso. Preciso que você me diga primeiro o que fez você aparecer lá embaixo. Ao lado de Olavo, ele parecia a reencarnação de Dick Vigarista.
– É complicado, Gino, é complicado.
– Você é quem sabe. Eu só quero gritar lá, que alguém apareça logo.
– Eu pulei pela janela porque estava realmente brava.
– Hahahaha! Cool
– Tudo começou na quarta-feira da semana anterior, quando fui cortar o cabelo; Percebi que o tempo estava ficando um pouco estranho, mas realmente não me importei.
A faxineira veio e fez comida. Como eu tinha muito trabalho, fiquei acordado até segunda-feira, desconectado dos eventos. Quando finalmente saí de casa, vi que todos que poderiam ter se preparado para o apocalipse, menos eu.
Ele não tinha luvas, máscara, comida, nada. Entrei na farmácia e fui direto ao supermercado, tentando garantir minha sobrevivência.
As pessoas eram loucas. Peguei o que tinha e quanto tinha. Cheguei em casa e fui assistir televisão para desestressar. Um relatório de falta estava sendo publicado e o jornalista estava diretamente em frente à seção de higiene de um supermercado, completamente vazio.
Eu congelei imediatamente. Eu tinha esquecido de comprar papel higiênico! Trouxe dez latas de leite condensado, suco de todos os tipos, saboneteira, o que você me perguntar, eu trouxe, mas o papel higiênico, que pretendia colocar em cima do resto, não comprei.
De manhã saí para comprar o expresso aqui, mas não tinha um. Então eu não sei o que aconteceu comigo. Fui a todos os supermercados e farmácias da Internet e saí para comprar tudo.
tudo?
– Todo o papel higiênico que havia. Clicando na compra, tudo correu muito rápido. Eu fiz a rapa.
– Mancada, Cláudio.
– Segunda-feira começou a chegar. Não havia armário que pudesse caber tanto papel higiênico. Decidi colocá-lo em um dos quartos, que está meio vazio. Ele a preencheu e então eu preparei a sala, meu quarto. Mesmo debaixo da mesa, coloquei um pacote de papel higiênico. É isso.
– O que você quer dizer com isso?
– Gino, imagine que você gasta mais de seis palitos em papel higiênico, nesta crise. Faça um cálculo e veja se você tem papel higiênico por quase dez anos.
– Mas por que você não doou para os necessitados?
– Não sei. Eu estava tão estressado que nem pensei nisso. De qualquer forma, a última gota aconteceu agora, quando outro relatório disse que não haveria escassez. Havia demais. Enrolei vinte rolos de papel e me joguei fora.
– Da janela do primeiro andar?
– sim
– Bem, graças a Deus, pelo menos o jornal era bom para alguma coisa. Espera, eu vou descer. Então eu ajudo você a se livrar desse fardo.