O vírus político – JBr.

Há alguns dias, o governador Ibaneis Rocha, vendo a direção em que a discussão sobre o novo coronavírus que envolvia o presidente Jair Bolsonaro e os governadores, especialmente o governador de São Paulo, João Doria, estava desabafando, irritada, com interlocutor:

“Todo mundo olha apenas para o umbigo. Politizar o que não é politizar ”.

Essa é a chave para explicar por que Ibaneis decidiu não participar da reunião de todos os outros governadores com o prefeito Rodrigo Maia (DEM-RJ). Nas últimas horas, da expressão arriscada de Bolsonaro na televisão, sugerindo às pessoas que relaxem seu confinamento e voltem ao trabalho para evitar um desastre econômico, o debate sobre a covid-19 deixou de ser um debate médico-sanitário e se tornou em um debate político-eleitoral.

O governador do DF decidiu não ser mais um na imagem dessa disputa, que, no momento, não ajuda na prática a conter a contaminação pelo coronavírus. Pelo contrário, apenas expõe o mundo das autoridades à contaminação por outro animal de estimação: o vírus político, que, desde o famoso poema escrito no século XIX por Machado de Assis, sabemos que é transmitido pela mosca azul.

Não é que Doria ou Rodrigo Maia, neste momento, sejam os únicos responsáveis ​​por essa politização do sujeito. De fato, Bolsonaro começou. É que, sentindo que ele está em posição de apoio nas ações para evitar a pandemia, ele optou por essa estratégia de fazer um discurso contra todos os outros. Sua hesitação e inação levaram aos protagonistas dos governadores e seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Não por acaso, sua declaração veio após a publicação da pesquisa Datafolha, que mostrou um maior grau de confiança do público nas ações dos chefes de Estado e do Ministro da Saúde.

Nesse sentido, na prática, com a ausência ou não de Ibaneis, ficou evidente o isolamento institucional do Presidente da República. Ele decidiu ir na direção oposta a todos os outros. Faça uma aposta arriscada a longo prazo. E mantém o papel principal do discurso com suas legiões mais fiéis. Independentemente de sua convicção ser diferente ou não, o fato é que, se Bolsonaro seguisse a linha de máximo confinamento de pessoas para evitar o contágio, nesse ponto, ele estaria em pé de igualdade com aqueles que continuassem com essas medidas. E o governador do Distrito Federal foi o primeiro a fazê-lo.

No caso de Ibaneis, na prática, o fato de não ter participado da reunião de governadores com Maia não altera suas ações. Ibanei, como dissemos, foi pioneiro na adoção de medidas restritivas para evitar o contágio. Ele foi o primeiro a fechar escolas e lojas. Não faria sentido mudar de idéia agora. Pelo contrário, é possível que, ao final do decreto, que termina em 4 de abril, acabe estendendo novamente as medidas de restrição, se estiver claro que há uma necessidade. E mesmo que o número de contaminações diminua, é provável que a necessidade de restrição persista.

Evidentemente, haverá um momento de relaxamento. Mas isso só pode ser adotado quando existe um mapa preciso, mostrando que já existe uma segurança maior para o retorno de nossa normalidade, para o retorno de nossa rotina anterior. Enquanto isso, a regra permanecerá: “Fique em casa”.

Em outra linha, foi o Governo do Distrito Federal que pediu à Justiça que exigisse que o Hospital das Forças Armadas (HFA) entregasse a lista de nomes das pessoas que fizeram testes e deram positivo para o coronavírus lá. E é estranho que o hospital relate que houve 17 testes positivos, mas omitiu os nomes de duas pessoas da lista. Bolsonaro e sua esposa, Michelle, fizeram seus testes lá. Se esses dois nomes são omitidos, existe outra saia justa causada pela GDF que Bolsonaro deveria explicar à sociedade.

Em outras palavras: na prática, a linha de Ibaneis no momento está indo na direção oposta à sugerida por Bolsonaro. E, da mesma forma, o governador do Distrito Federal não se esquiva de situações de confronto quando considera necessário.

No entanto, quanto a discutir a contaminação por vírus da política e não a contaminação por coronavírus, é outra história …

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