Aposta de Bolsonaro em confronto arriscado

Lucas Valença e Rudolfo Lago
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Ao contrário do que pregam as principais autoridades de saúde do planeta, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a grande maioria dos governadores e prefeitos do país, o presidente Jair Bolsonaro decidiu fazer uma aposta arriscada no confronto.

Na noite de terça-feira (24), ele horrorizou a maioria das autoridades do país ao pregar um relaxamento no confinamento imposto aos brasileiros como forma de evitar o contágio e combater a disseminação do novo coronavírus.

O resultado de ontem foi a produção de um dos dias mais tensos da história política do país. Bolsonaro conversou com o governador de São Paulo, João Dória (PSDB). Um de seus principais aliados, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), anunciou o colapso político. Os prefeitos da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o criticaram severamente.

Ao longo do dia, houve rumores de que o ministro da Saúde, Luis Henrique Mandetta, renunciaria. Mandetta ficou. Atualizou seu discurso. Mas ainda havia algumas diferenças em termos de facilitar o fechamento. E o vice-presidente Hamilton Mourão mostrou sinais de desacordo franco com o presidente.

“Quase desespero”

“Foi uma aposta de alto risco, quase um gesto de desespero”, avaliou o cientista político André Cesar, em uma análise do Jornal de Brasília. Para André César, a recente pesquisa do Instituto Datafolha, que mostrou que a população está mais alinhada às estratégias restritivas adotadas pelos governadores e que o apoio ao presidente está diminuindo, foi o sinal de alerta. Bolsonaro entendeu que perderia o papel principal na discussão sobre o coronavírus se seguisse a mesma linha da restrição. Nesta área, o espaço foi ocupado pelos governadores, principalmente João Dória, e até pelo ministro da Saúde. “Ao fazer um cálculo político, ele perdeu espaço na disputa de 2022”.

Em uma ação organizada com seus estrategistas de mídia social e seu filho, vereador Carlos Bolsonaro, o presidente decidiu seguir uma onda que veio de alguns dos Estados Unidos, especialmente do próprio presidente Donald Trump. A ideia de que existe uma espécie de “escolha de Sofia” entre drama humanitário e econômico. Seria necessário escolher um deles.

O confinamento de pessoas em casa pode gerar uma crise econômica sem precedentes, com consequências trágicas para o futuro. Seria melhor mudar a estratégia, isolando apenas pacientes em risco e permitindo que outros voltassem ao trabalho. Bolsonaro também recebeu pressão dos setores empresariais nesse sentido.

Em um cálculo mais frio, houve uma aposta de longo prazo na avaliação de alguns políticos ouvidos por JBr. Se a estratégia de contenção funcionar, mais tarde as pessoas poderão avaliar que os problemas de saúde são menores e considerar que Bolsonaro estava certo ao classificá-lo como um exagero. Isso por si só não evitará os efeitos econômicos. Em outras palavras: parece que ele estava certo ao dizer que o remédio era excessivo. Se a estratégia de contenção der errado, você se beneficiará novamente de estar sempre contra ela.

Confronto

O cientista político da Universidade de Brasília (UnB), Aninho Irachande, avalia que o discurso do presidente, além de manter uma posição de “confronto” com os outros ramos do governo e despertar o ânimo com os governadores, expôs um problema interno da administração atual. “

O discurso de ontem (terça-feira) mostrou um desacordo entre o presidente e os membros do próprio governo. O confinamento criticado foi até recomendado pelo Ministério da Saúde ”, analisou.

No domingo (22), em entrevista coletiva, a secretária de Vigilância do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, elogiou o isolamento praticado, principalmente pelos governos estaduais.

Para o professor e cientista político da Universidade do Rio Grande do Norte, Homero de Oliveira, o momento exige liderança e credibilidade do gerente. Para ele, as divergências de Bolsonaro, que são conservadoras, com o Congresso tornam-se “irracionais”. “(Esta legislatura é) principalmente conservadora e de direita.”

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