Os governos de todo o mundo falharam na quinta-feira em chegar a um acordo sobre a proposta dos países emergentes de suspender as patentes de vacinas e outros produtos contra o covid-19. O Brasil, junto com Estados Unidos, Europa e países ricos, se opõe à ideia, alegando que tal medida não garantirá o acesso aos medicamentos.
O debate ocorreu na Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, com Índia e África do Sul insistindo na necessidade de abolir as patentes de vacinas até o fim da pandemia. O objetivo seria quebrar o monopólio das multinacionais e, assim, garantir a produção de versões genéricas de vacinas e tratamentos.
A ideia tem o apoio de cerca de 100 países ao redor do mundo, da OMS e de diversos organismos internacionais. Mas é rejeitado pelos países ricos e pelo Brasil.
O argumento desses governos é que a suspensão da patente, neste momento, não garantirá o acesso ou transferência de tecnologia. Além disso, tal gesto enviaria um sinal “negativo” para empresas que investiram pesado em inovação e, agora, não teriam a possibilidade de obter retorno de seu produto.
Para os países em desenvolvimento, não é hora de falar de lucro, com milhares de pessoas morrendo todos os dias. Além disso, na reunião desta quinta-feira, as empresas emergentes destacaram que várias das empresas que anunciaram resultados positivos em suas vacinas tiveram apoio milionário de governos, por meio de recursos públicos. O sócio da Pfizer recebeu mais de US $ 500 milhões, enquanto as demais empresas também tiveram incentivos.
Diante do impasse, a OMS decidiu manter o assunto em pauta. Mas uma nova reunião deve ocorrer apenas no final de janeiro ou início de fevereiro de 2021.
O Brasil, que tradicionalmente defendia uma ação dos países emergentes na busca pelo acesso aos medicamentos, optou, neste caso, pelo lado dos países ricos. Nas últimas semanas, o governo deixou claro que era contra o descumprimento de patentes e, segundo ONGs, aproveitou as reuniões na OMC para fazer perguntas aos autores da proposta e assim tentar arrastar a negociação. Na reunião desta quinta-feira, a delegação brasileira nem pediu para falar.
O governo dos Estados Unidos, por sua vez, tomou a palavra para dizer que a propriedade intelectual desempenha um “papel fundamental no desenvolvimento de alianças para a fabricação, transporte e distribuição” da vacina.
Os Estados Unidos enfatizaram a necessidade de fornecer a toda a população mundial acesso a tratamentos para COVID-19, dizendo que a capacidade de fabricação e as questões da cadeia de suprimentos são atualmente “as preocupações mais importantes, especialmente no que diz respeito às vacinas. “
Para Washington, os governos devem se preocupar com o aumento de produtos falsificados e as autoridades devem concentrar seus esforços na identificação de problemas específicos relacionados ao acesso a um determinado produto, e não em uma batalha diplomática.
De acordo com os Estados Unidos, as empresas já estão firmando acordos de licenciamento voluntário com fabricantes de medicamentos genéricos do Egito, Índia e Paquistão, que permitiriam a distribuição de determinados produtos em 127 países.
A Casa Branca também observou que em muitos países, tarifas de importação de 20% continuam a ser aplicadas a produtos farmacêuticos e 10% a vacinas.