- André Biernath
- BBC News Brasil em São Paulo
Pouco mais de dez meses após a identificação do Sars-CoV-2, o coronavírus causador da atual pandemia, o mundo já tem sua primeira vacina testada e aprovada.
O Reino Unido anunciou nesta quarta-feira (11/02) que o imunizador BNT162b2, desenvolvido pelas farmacêuticas Pfizer e BioNtech, é lançado para uso no país e começará a ser aplicado aos cidadãos de lá a partir da próxima semana.
É brasil? Temos alguma perspectiva sobre o uso deste produto em nosso país? Pelas informações publicadas até o momento, não há definição e existe o risco de não termos acesso a ela.
Declarações feitas nos últimos dias por representantes do governo levantam uma grande dúvida sobre a disponibilidade dessas doses para os brasileiros.
Desafio logístico
Sem citar nenhum produto farmacêutico em particular, o Ministro da Saúde, General Eduardo Pazuello, criticou as promessas feitas por alguns produtores de vacinas esta manhã durante uma entrevista coletiva.
“São poucos os fabricantes que têm quantidade e um cronograma de entrega eficaz para o nosso país. Quando se chega ao fim das negociações e passa para entrega e fabricação, os números são escassos. É uma quantia grande que se resume a uma, duas, três empresas. A maioria tem números muito pequenos para o nosso país ”.
O discurso vai ao encontro de outra manifestação feita terça-feira por Arnaldo Medeiros, secretário de Vigilância em Saúde do ministério. O representante disse que o Brasil vai priorizar imunizantes que caibam na infraestrutura de salas de vacinas de todo o país.
“Fundamentalmente que ela [a vacina] Seja estável ao calor por longos períodos, em temperaturas de dois a oito graus. Por quê? Porque a nossa rede de frio, nos 34 mil quartos, é montada e instalada a aproximadamente 2 ° C a 8 ° C ”.
Posteriormente, em vídeo postado no canal do YouTube do Ministério da Saúde, Medeiros destacou que nenhum dos concorrentes mais avançados é eliminado da lista de opções do governo.
“É extremamente importante informar à população brasileira que o Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Imunizações, não descarta nenhuma vacina. O que queremos é uma vacina que esteja registrada na Anvisa e que mostre a eficácia e segurança necessárias”.
Mas o que isso tem a ver com o produto Pfizer / BioNTech recentemente aprovado no Reino Unido? A grande polêmica é que suas doses devem ser armazenadas a -75 ° C, temperatura que requer equipamentos especiais. Esse requisito pode dificultar o transporte e a entrega de doses em regiões mais remotas com pouca infraestrutura.
Outros candidatos, como Sputnik V, CoronaVac e os produtos desenvolvidos pela AstraZeneca / Oxford University ou Johnson & Johnson, requerem resfriamento que varia entre 2 ° C e 8 ° C, valor facilmente obtido por refrigeradores convencionais.
O que dizem os fabricantes
Por meio de nota enviada à imprensa, a Pfizer deu sua versão dos acontecimentos e reclamações. A empresa afirma ter um plano logístico detalhado e ferramentas para transportar, armazenar e monitorar as doses na temperatura recomendada.
“Ao compreender os desafios que alguns programas de vacinação podem enfrentar, a Pfizer desenvolveu embalagens inovadoras em que a vacina pode ser armazenada a -75 ° C por 15 dias em gelo seco.”
A empresa também defende que sua vacina, cujos resultados já foram encaminhados para análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, da Anvisa, pode ser mantida em geladeira comum por até cinco dias. “Isso torna a vacinação viável, principalmente na situação atual, onde o maior número de pessoas se destina a ser vacinado em um curto período de tempo”.
Por fim, a nota destaca que outros países latino-americanos com condição semelhante à do Brasil, como Chile, Peru, México, Panamá e Costa Rica, já firmaram contratos de compra e estão em condições de operacionalizar a aplicação das doses desde o início. 2021.
Em entrevistas recentes, o diretor-geral da farmacêutica no Brasil, Carlos Murillo, disse que tentou dialogar com o Ministério da Saúde em diversas ocasiões ao longo do segundo semestre de 2020 para negociar a venda antecipada de doses dessa vacina cobiçada. -19. Segundo o executivo, o governo não respondeu aos contatos.
Mais recentemente, foram realizadas algumas reuniões entre o governo e a empresa, mas até agora não houve definição sobre a compra de unidades imunizantes ou eventual transferência de tecnologia.
Portanto, mesmo que o Brasil chegue a um acordo com a Pfizer e a BioNTech nos próximos dias ou semanas, ainda estará muito longe. A prioridade de entrega dos primeiros lotes será para as nações que anteciparam seus pedidos.
A disponibilidade deste imunizador em clínicas privadas ao longo de 2021 também é remota. Afinal, a manufatura estará 100% focada em atender às necessidades de governos em todo o mundo.
Falta de estrutura?
Outro lado a demonstrar nas últimas horas foi o Conselho Nacional de Ar Condicionado e Refrigeração, que reúne as 15 maiores entidades do setor no Brasil.
Por meio de nota, a agência garante que o país tem capacidade para fornecer a tecnologia necessária para armazenar as doses de qualquer vacina, mesmo que devam ser mantidas a -75 ° C:
“É preciso esclarecer que o Brasil tem uma cadeia de frio forte, com inúmeros fabricantes no território nacional, com tecnologia disponível. Além disso, o setor de serviços conta com profissionais com sólidos conhecimentos em instalações de baixíssima temperatura, tanto que as instalações criogênicas já operam há muitos anos no Brasil. Portanto, o setor de frio nacional pode adaptar a infraestrutura e fornecer soluções para qualquer temperatura, até -70 ° C, com planejamento e investimento ”.
O que resta para o Brasil?
Desde que os primeiros candidatos evoluíram para a fase 3 da pesquisa, última etapa antes da aprovação, o mundo passou por uma verdadeira disputa, em que cada país pretende garantir as doses de uma ou mais empresas farmacêuticas.
Algumas nações preferiram diversificar suas apostas; afinal, se um imunizador se saísse mal nos testes clínicos, haveria outras opções de backup.
O Canadá é o melhor exemplo disso: o acordo feito pelos governos desse país garantiu uma média de 9 doses da vacina para cada habitante, segundo informações compiladas pela revista. O economista. Logo atrás estão Austrália e Reino Unido, com cinco doses por pessoa.
Ao contrário, o Brasil lançou todos os seus arquivos em parceria para comprar e transferir tecnologia baseada na formulação desenvolvida pela AstraZeneca e pela Universidade de Oxford.
Outra fonte importante de imunizações para o país é o Covax Facility, uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde para distribuir algumas das vacinas para nações menos desenvolvidas.
Ainda existem alguns acordos feitos pelos Estados. É o caso do Paraná e da Bahia, que têm contrato assinado para receber futuramente o Sputnik V, do Instituto de Pesquisas Gamaleya, da Rússia.
O cenário é semelhante ao do CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac, que firmou convênio com o Instituto Butantan, de São Paulo.
Etapas finais da corrida
Antes de aplicar qualquer vacina, estudos preliminares de fase 3, que comprovem a eficácia e segurança do produto, precisam ser divulgados. Esta etapa já foi alcançada por quatro concorrentes: Pfizer / BioNTech, Moderna, Gamaleya Research Institute e AstraZeneca / Oxford University.
Os três primeiros tiveram uma taxa de eficácia de mais de 90%, considerada ótima. No caso da AstraZeneca / Universidade de Oxford, exatamente a aposta do Ministério da Saúde, houve um erro na condução dos testes clínicos. Isso levantou algumas dúvidas sobre os resultados e pode atrasar um pouco sua chegada.
Quando esse trabalho científico é concluído e atinge seus objetivos, os documentos e relatórios são encaminhados aos órgãos reguladores, que avaliam a robustez dessas informações e decidem se a vacina pode ou não ser utilizada em determinado local. Aconteceu hoje no Reino Unido, o primeiro país a dar luz verde a uma vacina contra o covid-19 no mundo. No Brasil, o órgão responsável por esse processo é a Anvisa.
Uma vez liberado, o imunizador pode finalmente ser importado ou fabricado e distribuído para finalmente ser aplicado às pessoas.
Pelas últimas informações, o clima por enquanto não está claro: ainda não sabemos quais vacinas serão realmente utilizadas no país. Isso vai depender do andamento da investigação e, claro, da negociação que o Ministério da Saúde fará a partir de agora.
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